Em tempos de tanta feiquiniús é normal que duvidemos de nossas próprias informações. Vejam bem, caros leitores, refiro-me a informações, não a convicções. Eu mesma, que respiro notícias o tempo todo, por vezes me pego duvidando de algo ou sendo surpreendida por alguma coisa que desconhecia ou que achava seria diferente do que de fato é. Nada contra questionar sempre tudo — é saudável e mantém o espírito crítico sempre elevado, impedindo que se caia na tentação de achar que sabemos de tudo.
Lembro que pouco tempo atrás a palavra do ano foi “pós-verdade”. Agora deve ser feiquiniús, que nada mais é do que boato ou mentira, mesmo, mas dito de uma forma mais palatável. Percebam que “verdade” já não entra nem como “pós”. Tristes tempos…
Há alguns dias jantando com amigas, soube que duas delas estão com as CNH suspensas. Ambas estavam bem longe de atingir os 20 pontos, mas levaram cada uma uma multa gravíssima daquelas que suspendem a habilitação por seis meses. Confesso que fora dirigir alcoolizado, nunca havia me atentado para saber quais eram as infrações que levam a isto, então prontamente fui pesquisar porque durante o jantar cheguei a pensar que fosse boato ou algum mal-entendido. Também não havia percebido que havia aumentado o período de inhabilitação ou deshabilitação (nem sei se a palavra é alguma dessas, mas gostei delas) de um mês para seis meses. Pois é, vivendo e aprendendo.
Aliás, que fique claro que dirigir embriagado (Art. 165 do Código de Trânsito Brasileiro) suspende o direito a conduzir durante 12 meses, além de incluir o pagamento de R$ 2.934,70 e retenção do veículo¨até que alguém habilitado possa dirigi-lo. Pessoalmente, acrescentaria alguma tortura bem torturante, como ser condenado a ouvir música sertaneja durante três meses seguidos ininterruptamente, mas acho que o pessoal dos direitos humanos ia me repreender e pedir sanções contra minha pessoa na ONU. Claro que acho discutível o nível acima de 0,05 miligramas de álcool por litro de ar expelido no teste do etilômetro — pelo CTB original era 0,3 miligramas, seis vezes mais e a pessoa não era considerada embriagada —, mas essa é outra longa conversa. Ainda assim, dirigir realmente embriagado deveria ser algo punível de verdade. Também concordo com a suspensão no direito de conduzir para quem se recusa a fazer o teste do bafômetro (Art. 165-A do Código de Trânsito Brasileiro), a multa de R$ R$ 2.934,70 e que seja considerada multa gravíssima. Música sertaneja durante três meses também para esses transgressores. Pronto, falei.
Retirar sumariamente a CNH e impedir de conduzir durante seis meses quem disputa racha (Art. 173, 174 e 175 do Código de Trânsito Brasileiro) além da multa e dos pontos na CNH, também sou totalmente favorável. Posso pensar em algum outro tipo de música como punição adicional já que não é raro que essas pessoas apreciem o estilo supramencionado, por isso, melhor pensar em algo realmente cruel – não apenas para quem impõe a pena (eu, no caso), mas principalmente para quem deverá cumpri-la. Sim, há uma Nora má dentro de mim que surge de vez em quando.
Nenhum desses é o caso das minhas amigas – ambas por casos de velocidade acima de 50% da máxima permitida (Art. 218 do Código de Trânsito Brasileiro) em locais onde a máxima era ridiculamente baixa, diga-se que, segundo eu fiquei sabendo agora, impedem a condução de veículos durante seis meses e não mais um, como era antes.
Tenho diversas restrições ao sistema de pontos usado no Brasil. Como já mencionei aqui, e já foi comentado pelo Boris Feldman, um sistema que separasse infrações que cobrassem multa e implicassem pontos na CNH diferentemente em função da gravidade da falta me parece mais justo. Como exemplo, estacionar em local de zona azul sem o devido cartão poderia acarretar multa, mas não vejo por que pontos na CNH. Não tem nada a ver com segurança do trânsito, fluidez, nada disso. É apenas uma questão de justiça fiscal — não pagou algo que deveria ter pago e por isso deve ser multado. Em compensação, infrações realmente graves como disputar racha ou dirigir realmente alcoolizado (especialmente nas reincidências) deveriam ser muito, muito duras. Obviamente, no que diz respeito a ficar atrás de um volante. Nada a ver com sanções morais nem nada disso. Bebeu até cair? Problema seu e do seu fígado. Mas não entre num veículo como condutor. Apenas isso.
O mesmo acontece com o sistema de pontos. Lembra-me prontuário criminal. Aos 18 anos, qualquer crime/transgressão ou coisa parecida praticamente desaparece do histórico da pessoa e é como se pudesse ser canonizada. No caso da CNH, por que não premiar quem ao longo dos anos dirige corretamente, não comete infrações e contribui para um trânsito seguro? Enfim, por que dedicamo-nos (haja ênclise hoje, hein?) a punir quem comete infrações quando deveríamos, também, premiar quem não as comete, não?
Na Itália o sistema de pontos também é utilizado nesse sentido e o limite para retirada ou suspensão da CNH varia também em função do tempo durante o qual o motorista não recebeu multas. É uma combinação de fatores. Assim, um motorista que dirija há 3 anos e leva uma multa por dirigir 20% acima da velocidade máxima, terá X pontos em sua CNH. Essa mesma infração cometida por alguém que dirige há 6 anos e não havia levado nenhuma multa nesse período terá anotado no seu documento um número menor de pontos. É uma forma de premiar quem dirige bem e não apenas punir quem não o faz.
Sempre fui adepta da política de incentivo do que está certo — costuma funcionar muito bem e com excelentes resultados. E, por princípio, acho que é sempre melhor prevenir do que remediar — logo, melhor incentivar boas práticas para não precisar punir as erradas. Culpem minha educação familiar, já que meus pais sempre adotaram esse tipo de comportamento.
Punir práticas erradas é contraproducente e mais caro. A infração, afinal de contas, já foi cometida. O ideal é evitar que isto aconteça. Anos atrás quando trabalhava na área de Comunicação de um grande banco privado participava mensalmente de reuniões de Qualidade com representantes de várias áreas da instituição e que duravam um dia inteiro. Numa delas, a área de Cartão de Crédito apresentou um produto que seria lançado e solicitou apoio de vários departamentos, inclusive o meu para material de divulgação às agências. Preveniu-nos também que haveria aumento no volume de queixas no Banco Central porque sempre havia divergências entre as informações prestadas e as que os clientes entendiam e que a imprensa cairia matando. À área de Call Center pediram reforço no número de atendentes, e por aí foi. Haveria aumento de trabalho e reforços em todas as áreas e, claro, todos nós nos prontificamos. Eu já começava a rascunhar os possíveis cenários e como iria lidar com eles quando um recém-contratado sugeriu reforço nos treinamentos dos envolvidos nas agências, bem antes do lançamento. Lembro que foram várias ideias, mas basicamente o cerne da questão era arrumar e fazer a lição de casa antes do lançamento. Mais ou menos como reforçar a estrutura de uma barragem com concreto em vez de contratar mais gente para que coloquem os dedinhos para fechar cada buraco que aparecesse na estrutura. Essa foi a imagem que me veio à cabeça na hora e até hoje, cada vez que me lembro da história.
Dito assim parece óbvio, mas o fato é que numa sala cheia de profissionais experientes em suas áreas ninguém havia pensado nisso, preocupados que sempre estávamos em apagar incêndios em vez de preveni-los.
O mesmo acontece com o trânsito. Que tal mudarmos a forma de atacar os problemas? Apenas campanhas de educação não adiantam, tanto é que na escola também há provas e prêmios. Que tal premiarmos quem faz certo para punir menos quem faz errado?
Mudando de assunto: corridinha meio chocha essa da Fórmula 1 no Japão. Fiquei acordada um pouco à toa, mas há algumas semanas que troquei meu fuso horário por causa da Copa do Mundo de Rugby que sim, está sensacional e também é disputada no Japão. Aí então foi só manter a troca da noite pelo dia depois de sair sexta e sábado com amigos e emendar chegar em casa com televisão. Mas ao contrário do rugby, a -F1 teve horas que me deu sono. Fora algumas ultrapassagens bonitas dos mesmos de sempre (Ricciardo e Leclerc) o resto nada muito emocionante. Quem sabe na próxima volte-se a ver corridas como algumas do primeiro semestre?
NG