Sem duvida, um dos “Body Styles” (estilo do corpo do automóvel) mais elegantes, em todos os tempos, são os cupês.
O significado da palavra cupê é um pouco contraditória, mas basicamente são carros de duas portas, mais curtos do que a versão sedã do mesmo modelo e com uma banco traseiro não muito confortável.
A palavra tem origem francesa — coupé — para designar “cortado”. O termo coupé foi também aplicado a carruagens para dois passageiros sem os bancos traseiros.
Uma das características mais marcantes de um cupê é a maneira como a linha do teto desce inclinada, até o “fim do carro”, o canto superior do porta-malas, gerando a princípio uma coluna C bem inclinada e “rápida”.
Porém, desde os anos 2000, surgiram os cupês com 4 portas (Mercedes CLS), e uma grande discussão se podia ou não podia ter 4 portas e se chamar cupê. O bom senso acabou prevalecendo e cupê vale para 2 e 4 portas e ponto.
No centro do conceito “CUPÊ” está o sentimento de um carro esportivo, fora do convencional, atlético de espírito.
Designers, além de desenhar carros, adoram analisar o desenho dos outros, não para criticar mas para aprender.
Uma boa análise comparativa de design sempre deve iniciar por uma vista lateral, onde podemos claramente analisar os elementos-chaves da arquitetura de qualquer automóvel.
Com esta comparação eu não pretendo gerar nenhuma opinião imutável sobre seja lá o que for, mas somente gerar material para um bom bate-papo autoentusiasmado.
Então vamos lá.
Selecionei cinco carros cupês para nossa análise de hoje, tendo como ponto de referência um dos que eu acho mais bonitos cupês da atualidade, o Bentley Continental GT V-8 2020. Esta peça de arte automobilística custa ao redor dos 300.000 euros!
Para comparação, vamos trazer quatro cupês. O mais caro custa a metade de um Bentley.
BMW M8 Coupé Competition 2020
Mercedes-Benz C 43 AMG Coupé 2019
Audi S7 Sportback TDI 2020
E finalmente o mais acessível, mas ainda um belíssimo exemplar, o Volkswagen Arteon
Só para destacar, os únicos duas-portas são o Mercedes e o Bentley, estes sim são genuínos cupês, já que são carros 2-portas que privilegiam antes de tudo os dois, motorista e passageiro dianteiro.
Já os outros três, VW, BMW e Audi, são 4-portas 2+2, o que significa quatro pessoas a bordo.
Para começar a brincadeira, sempre vista lateral, tirei a linha de contorno (linha zero) de todos os carros e ajustei para que os centros dos eixos dianteiros ficassem iguais.
Com as linhas são baseadas somente em fotos, não tenho precisão nenhuma em termos de medidas, porém pôde-se tiras boas conclusões mesmo assim.
Percebe-se que mesmo sendo cinco veículos com valores e status distintos, as linhas de contorno não diferem muito entre si, assim como o contorno dos vidros.
Quando se vê todos juntos tiramos algumas conclusões:
O Arteon é o carro com a maior massa.
O Mercedes é o carro de menor massa.
O de menor distância entre eixos é o Mercedes.
O de maior distância entre eixos é o BMW.
Quase todos têm a mesma altura, sendo o Mercedes o mais baixo.
O Bentley tem os maiores diâmetro de roda e abertura de caixa de roda, seguido pelo Audi.
A menor roda e caixa de roda pertence ao Mercedes.
O Audi tem a maior área envidraçada lateral e o Bentley, a menor.
O ponto de para-brisa com capô mais avançado é do Volkswagen
O ponto de para-brisa com capô mais recuado é o do BMW
Agora vamos ver algumas comparações individuais
Bentley Continental GT x VW Arteon
Impressiona a similaridade dos dois carros.
O Bentley é um cupê genuíno, seja pela forma, seja pela aplicação dentro da “paleta” de carros que a Bentley oferece ao seu público.
Na comparação entre os dois, a grande diferença do Bentley está na posição do para-brisa e colunas A mais adiantadas no VW e mais “para trás” do Bentley.
Este detalhe faz a diferença principalmente pelo tamanho do capô e pela impressão de cabine mais atrasada = carro mais esportivo.
As alturas do teto na região da cabeça do motorista são praticamente iguais, com a linha de caimento do teto sendo mais baixa no Bentley na região do passageiro traseiro, típico de um cupê genuíno.
Rodas quase iguais, mas a abertura da caixa de rodas do Bentley é bem maior, o que permite rodas e pneus com maior diâmetro e que afeta, para melhor, a proporção entre os elementos que compõem o carro.
O Bentley tem mais massa na parte de baixo do carro (soleira), dando a impressão de mais solidez.
Se o carro custasse por área ou massa, o Arteon ganharia a competição, porém aí vem o valor agregado da marca.
O Bentley custa três vezes mais que um Arteon, ou com valor do Bentley você pode comprar três Arteons!
Bentley x Mercedes C 43 AMG
Eu diria que estes são os dois cupês mais puros-sangues entre os cinco carros, verdadeiros “puros-sangues” automobilísticos.
O Mercedes tem, proporcionalmente, a linha do para-brisa ainda mais “para trás” do carro.
O balanço dianteiro do Mercedes também é menor, o que é ótimo para a proporção “ideal” do carro.
Esta arquitetura (balanço dianteiro mais curto) só é possível quando você tem tração traseira, ou melhor dizendo, quando você se afasta do conceito de motor e tração dianteiros.
O balanço traseiro do Mercedes também é menor, e a traseira é bastante inclinada, o que ajuda na proporção esportiva.
As rodas do Mercedes são sensivelmente menores, mais “decentes”, porém mesmo assim não há nenhuma perda de proporção por isso.
O Mercedes me parece mais leve do que o Bentley, porém tem um teto mais alto, o que indica um melhor conforto para os passageiros.
Mercedes x BMW
Esta imagem define bem o nome da versão BMW Gran Coupé.
O BMW tem quase 200 mm a mais de distância entre eixos, o que o torna um carro realmente enorme, bem ao gosto dos americanos, você não acha?
Ele é mais alto, tem mais balanço dianteiro e um balaço traseiro próximo ao do Mercedes, mas que está mais para trás, já que a distância entre eixos é quem manda.
Missão principal era criar um carro confortável para quatro pessoas e com isso veio a porta traseira, que põe em risco a autenticidade do nome “Gran Coupé”, já que, para mim, ele passa a ser um “fastback”, disfarçado de cupê.
Audi x Arteon
Aqui você pode ver claramente que os dois carros têm o mesmo DNA.
Mesmo balanço dianteiro, mesmo tamanho de pneus e caixa de rodas, mesma área envidraçada, mesmo ponto H, praticamente o mesmo carro “esticado para trás”.
A distância entre eixos do Audi e quase 100 mm maior, porém o balanço traseiro é praticamente o mesmo.
A grande mudança está na posição da coluna A, mais para trás do carro, o que gera uma proporção muito bonita e um capô mais longo.
Do ponto de vista construção, esta mudança da coluna A deve ter custado um bom dinheiro, mas trouxe um proporção que acabou sendo “marca registrada” da Audi.
Eu diria que o Audi é o carro com a melhor proporção entre todos, e embora não seja um “cupê puro-sangue” por causa das quatro portas, tem “esta coisa” de ser a versão esportiva dos A6 e A8.
Nesta comparação também pode-se perceber como funciona a racionalização de sistemas dentro de um grande grupo de automóveis, de maneira a utilizar os mesmos sistemas pelas diferentes marcas do grupo, de maneira “disfarçada”.
Este conceito não é nenhum desmerecimento ou ponto negativo, mas a única maneira de viabilizar novos investimentos no negócio automóvel.
Arteon x Mercedes
Aqui tratamos de uma comparação do mais purista x o mais “careta”, o mais pesado e o mais leve.
O Mercedes tem a arquitetura de um tração-traseira e o VW a tradicional e careta tração-dianteira.
Mesmo tendo o maior balanço dianteiro, o para-brisa do VW está bem adiante, ou eu diria a cabine do Mercedes está bem para trás, o que é a característica ideal para um esportivo,de raça.
Sem dúvida, o VW é o que vai oferecer o melhor conforto a bordo, já que é mais alto e tem muito mais espaço de cabeça tanto na frente quanto atrás.
Porém, conforto nem sempre é o mais importante para um cupê, mas sim status e esportividade.
Para mim, aqui temos o maior contraste entre o tradicional e confortável versus o esportivo radical.
Bom, precisamos parar por aqui, pois poderíamos ficar ainda muitas horas divagando com base na simples comparação da “linha zero” destes cinco cupês
Na próxima matéria vamos ver como os Designers deste cinco belos exemplos de cupê usaram as linhas de caráter laterais para se diferenciar dos oponentes.
Até lá!
LV