Mesmice: (substantivo fem.) – Qualidade ou estado do que permanece inalterado; igualdade, identidade, uniformidade, falta de variedade; monotonia, marasmo, ‘a vida corria numa mesmice odienta’.
Os veículos estão cada vez mais parecidos uns com os outros, fazendo com que o público consumidor não tenha mais aquela paixão que o motivava a comprar pelo diferenciador da marca. E o que aconteceu com o mercado? Posso citar alguns motivos:
Cópia pura – o primeiro é óbvio, copiar é muito mais fácil do que desenhar, projetar. Os chineses se especializaram neste aspecto, clonando formas e especificações.
Aerodinâmica – Outro ponto que tende a deixar os veículos iguais vem da aerodinâmica. Para reduzir as forças de arrasto que se opõem ao movimento, adotam-se mesmas linhas fluidas, menores áreas frontais, coluna dianteira (A) quase sempre arredondada, traseira desenhada para o menor valor de pressão negativa, etc. Na verdade, a maioria dos veículos e seus modelos já estão perseguindo valores cada vez menores de coeficiente de arrasto aerodinâmico, que é praticamente limitado em torno do valor 0,22, o que já é bem reduzido. E assim as carrocerias vão ficando cada vez mais parecidas umas com as outras, perdendo as traseiras truncadas por exemplo.
Normalmente traseira truncada tem um arrasto aerodinâmico maior. Quanto maior o cone de pressão negativa, tanto pior o valor.
– Defletores dianteiros (spoilers) para evitar pressão positiva embaixo do assoalho, o que aumentaria o arrasto aerodinâmico com forças verticais de levantamento da carroceria.
– Manter pressão cada vez mais positiva na grelha de entrada de ar para o habitáculo do veículo de modo conseguir melhor ventilação interna da cabine.
Rodas e pneus – rodas grandes com pneus de perfil baixo estão bombando no mercado, apresentando de maneira geral, menor resistência ao rolamento. Os compostos de fabricação do pneu e também o desenho da banda de rolagem contribuem muito com a redução da força resistiva.
Peso e estrutura – Menor peso, com a adoção de chapas de aço mais finas e com vincos estruturais, principalmente no capô, lateral e portas. Uma boa referência para linhas de carroceria bem casadas com os vincos estruturais é o BMW Z4 2007.
Outros aspectos – Grade dianteira maior, permitindo mais entrada de entrada de ar para o sistema de arrefecimento do motor. Se conseguem radiadores menores e mais leves, assim como todo sistema de ventilação.
Na realidade, hoje em dia, os métodos de projeto são totalmente virtuais, praticamente iguais entre as fábricas, otimizando automaticamente os parâmetros de criação do produto. Daí a mesmice na aparência dos veículos, independentemente da marca. Alguns produtos ainda conseguem manter sua identidade ao longo dos anos, como, por exemplo, os Audi, BMW, Mercedes-Benz e Porsche.
A Ford a GM e as quatro marcas acima citadas ainda mantêm 15% do desenvolvimento com a mão na massa. A previsão é diminuir rapidamente este valor. De maneira geral, os projetos totalmente virtuais são a bola da vez, reduzindo drasticamente os custos operacionais.
E não é só a carroceria que esta sendo desenhada e calculada em computador. Toda a dinâmica veicular, suspensões, freios, direção etc, estão sendo também.
Os campos de prova e os laboratórios de testes estruturais estão cada vez mais sendo deixados de lado, virando verdadeiros elefantes brancos.
Um item fundamental que faz parte do gostar do veículo é a sua resistência a defeitos, e nisso os japoneses são especiais, Honda, Toyota, Nissan e por ai vai. Não existe nada pior para o consumidor ter que levar seu carro novo para a oficina, sentindo-se enganado. O preço das peças também influi neste aspecto, porém o principal é não quebrar.
E como é importante o consumidor achar que seu carro é inquebrável. Um bom e claro exemplo foi o Fusca que até hoje, paradoxalmente, é tido como indestrutível.
Penso que os veículos serão cada vez mais valorizados pela qualidade percebida e pelo valor agregado. Os fabricantes que ponham as barbas de molho para não perderem mercado.
CM
Nota: desculpo-me com os leitores e leitoras pela longa ausência. Como muitos sabem, perdi minha esposa em junho do ano passado e isso me abalou muito, advindo-me uma depressão que não ia embora./CM