O taxista ao volante de um Corolla novinho me conta que queria ter comprado um Altis Hybrid, mas teve de se conformar com a versão equipada com o motor 2-litros flex. Motivo? A espera pelo híbrido passaria de um mês, até dois. Estico a conversa, fico sabendo que ele está em seu terceiro Corolla “de praça”, fidelizado completamente. Idem o pai, também taxista, também de Corolla.
Por que ele queria o Hybrid? “Para fazer 20 km/l”, disse, o que compensaria a perda na hora da revenda. Rapaz na casa dos 30 anos, sabe que no mercado de usados um híbrido — a carreira do Prius ensina —, valerá menos que um Corolla convencional daqui uns anos.
Taxistas são profissionais pragmáticos e conservadores. Gostam de carros sólidos, que não lhes deem dor de cabeça. Preocupam-se com a economia de exercício, soluções técnicas testadas, comprovadas. Declarando querer um Altis Hybrid, este taxista talvez seja um ponto fora da curva. Raro espécime. Fascinado pela tecnologia ou apenas alguém que confia 100% na marca?
Depois de trinta dias com este Corolla Altis Hybrid Premium estou certo de que a marca japonesa conquistou a confiança dos brasileiros de modo soberbo, como comprova — como se fosse preciso — a conversa do taxista. A fila pelo híbrido se justifica por um conjunto de fatores: excelência técnica, gosto por novidade, projeção de vendas tímida e quem sabe uma dosezinha de sentimento ambiental.
Na tabelinha ao final deste texto é possível ler o que para mim seria a melhor das razões para levar um Corolla Altis Hybrid para casa, a eficiência energética em utilização urbana. O custo do quilômetro rodado no teste foi de excepcional R$ 0,29 por quilômetro rodado em uso à razão de 70%-30% entre cidade e rodovia (coincidentemente a mesma proporção de álcool e gasolina consumidos), sempre com conforto e desempenho razoável.
Ao cabo de quase 1.400 km rodados é evidente que gostei muito do Corolla Altis Hybrid, assim como gostei do Prius avaliado no 30 Dias em agosto de 2017, cujo custo do quilômetro rodado corrigido (apenas com gasolina) foi marginalmente inferior ao deste Corolla: R$ 0,27. Como disse Alberto Trivellato, o “master” da Suspentécnica, este novo Corolla Altis Hybrid é um carro exemplar, e ser econômico rodando na cidade é apenas uma de suas muitas qualidades.
No tradicional percurso de fim de teste, que antecede a investigação das entranhas na sua oficina, Alberto não economizou nos elogios. Gostou das formas externas — mas não muito da combinação de tons contrastantes nos bancos. Gostou do ajuste de suspensões, da comunicação volante-rodas, com assistência elétrica. Disse que os freios têm uma mordida inicial brusca, que exigem adaptação, mas que isso não é defeito, mas característica.
De câmbios CVT sabemos que este editor não é grande fã, mas o espírito do Altis Hybrid combina com tal tecnologia, nada esportiva. A resposta ao acelerador em tocada urbana é, de acordo com Alberto, acertada, sabendo que se o pé ficar afundado o prazer de dirigir o híbrido se deteriorará. Não é de briga o Corolla Altis Hybrid, é na condução pacífica que ele mostra o que tem de melhor. Entre os três modos de gestão foi o ECO o mais usado no teste. A grande lista equipamentos de segurança — bolsas infláveis, ABS e auxílios a condução é dever de casa em um carro moderno, embora os dois primeiros sejam itens obrigatórios desde janeiro de 2014.. Em uma só palavra, como é o Corolla Altis Hybrid, Alberto? “Racional”.
Nas quatro fotos acima vê-se como o assoalho é todo protegido por baixo
Rumo ao elevador da oficina, revelo que concordamos na análise deste Toyota em linhas gerais. Eu e Alberto temos uma combinação: ele nunca lê os textos publicados até dirigir o carro do teste. Fazendo assim solta o verbo sem estar condicionado por minhas impressões. Em geral, não divergimos, como aconteceu agora.
Olhar o Corolla Altis Hybrid por baixo faz saltar à vista o parentesco total deste Toyota com o Prius, já que ambos desfrutam da mesma plataforma. Suspensões iguais, mas com ajuste diferente. Muda a altura em relação ao solo, maior no Corolla, que também tem pneus mais largos.
Da ponta inferior do para-choque dianteiro até a estrutura que sustenta a suspensão dianteira o Corolla Altis Hybrid é absolutamente encapsulado por superfície plástica de função múltipla; proteção das partes mecânicas, garantir estabilidade térmica e boa aerodinâmica. No entanto, na porção entre eixos, à diferença do Prius, o Corolla não traz os ostensivos painéis que tornavam a parte inferior do Prius uma superfície lisa, inimiga de turbulências, de atritos com o ar. Em suma, a diferença do coeficiente aerodinâmico entre Prius (0,24) e Corolla (0,28) não está só na forma da carroceria.
De resto, o que se vê sob o Corolla geração 12 é o típico arranjo Toyota: nada de tecnologia vistosa mas sim um “feijão com arroz” bem feito, com componentes de suspensão de aparência robusta. Destaca-se no Corolla — estava mais escondido/protegido no Prius — o cabo laranja que leva (e devolve) energia do conjunto de motores à bateria de níquel-hidreto metálico (NiMH), formada por 28 módulos, situada sob o banco traseiro.
A visita às entranhas do Corolla Altis Hybrid se conclui baixando o elevador para abrir o capô, e a impressão é a mesma: organização e método construtivo impecável, sem excessos, nada parece estar ao acaso, fora de lugar, improvisado. A fama dos Toyota é de serem precisos, essenciais, práticos.
Nesta nova geração (12ª) o Corolla deu um passo grande à frente face ao antecessor. A empresa encarou o risco de mexer em um time que estava ganhando, mas mexeu bem. O que era bom ficou melhor, deixou a caretice no design trocando-a por um estilo que beira o ousado, mas sem exagerar. Dinamicamente é mais plantado no solo e, nesta versão hibrida, dá um show de eficiência. É uma tecnologia que me convence de modo pleno, que considero ser a solução ideal para tornar veículos menos nocivos ao meio ambiente na questão de emissão de CO2. São 100% viáveis e não têm, como os elétricos, as limitações ligadas aos tempos de recarga e autonomia.
Seria adequado se a Toyota oferecesse este mesmo Corolla Hybrid em configuração mais espartana, tolhendo ao modelo algo como 10 ou 20 mil reais no preço final, para torná-lo mais acessível e assim disseminar a tecnologia hibrida entre nós, já digerida nos de países do Primeiro Mundo. Outro alvo? Reduzir as emissões, claro, já que este Corolla com motor que admite funcionar com álcool é certamente um dos veículos mais amigos do planeta.
Assista ao vídeo na Suspentécnica e a seguir outro, no qual faço comentários sobre o veículo enquanto o dirijo.:
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana 3ª semana
Toyota Altis Hybrid Premium Flex
Dias: 30
Quilometragem total: 1.385 km
Distância na cidade: 994 km (72%)
Distância na estrada: 391 km (28%)
Consumo médio: 12,3 km/l (70% álcool – 30% gasolina)
Melhor média (álcool): 18,7 km/l (cidade)/12,0 km/l (rodovia)
Pior média (álcool): 9,6 km/l (cidade)/8,9 km/l (rodovia)
Melhor média (gasolina): 22,4 km/l (cidade)/ 16,8 km/l (rodovia)
Pior média (gasolina): 14,5 km/l (cidade)/12,1 km/l (rodovia)
Litros consumidos: 112,06 (78,90 álcool – 33,16 gasolina)
Preço médio litro: R$ 3,60
Custo: R$ 403,50
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,29
FICHA TÉCNICA TOYOTA COROLLA HYBRID 2020 | |
MOTOR A COMBUSTÃO | |
Designação | 2ZR-FXB |
Descrição | Dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, injeção no duto, duplo comando de válvulas acionado por corrente, variador de fase na admissão inteligente, 4 válvulas por cilindro, ciclo Atkinson, flex |
Diâmetro x curso (mm) | 80,5 x 88,3 |
Cilindrada (cm³) | 1.798 |
Taxa de compressão (:1) | 14 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 98/101/5.200 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 14,5/3.600 |
MOTORES ELÉTRICOS | |
Tipo | Corrente alternada, síncrono, MG1 e MG2 |
Potência máxima (cv) | 72 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 16,6 |
Potência máxima combinada(cv) | 122 |
Torque máximo combinado (m·kgf/rpm) | n.d |
BATERIA DE TRAÇÃO | |
Tipo | Níquel hidreto metálico |
Tensão (V) | 201,6 |
Capacidade (kW·h) | 1,31 |
TRANSMISSÃO | |
Conexão motor-câmbio | Conversor de torque |
Câmbio | Transeixo híbrido, modos Normal, Eco, Power e EV, tração dianteira |
Relações das marchas máx. e mín. (:1) | n.d. |
Relações de diferencial (:1) | n.d. |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Independente, multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida, indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11,6 |
Relação de direção média (:1) | n.d. |
N° de voltas entre batentes | 2,8 |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 370 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal |
Assistência | A vácuo por bomba |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/nd. |
Traseiros (Ø mm) | Disco/n.d. |
Controle | ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças de frenagem e assistência à frenagem |
De estacionamento | Mecânico por alavanca, ação nas rodas traseiras |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio 6,5Jx17 |
Pneus | 225/45R17W (Dunlop SP Maxx) |
Estepe | 205/55R16H (temporário, 80 km/h) |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.440 (Premium 1.445) |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, sedã, 4-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro e traseiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,28 |
Área frontal calculada (m²) | 2,07 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,579 |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.630 |
Largura sem/com espelhos | 1.780/2.079 |
Altura | 1.455 |
Distância entre eixos | 2.700 |
Bitola dianteira/traseira | n.d/n.d |
Distância mínima do solo | 148 |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 470 (com encostos rebatidos n.d) |
Tanque de combustível | 43 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 11,3 |
Velocidade máxima (km/h) | 180 |
Velocidade em modo EV (km/h) | Até 50 |
CONSUMO INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 16,3/10,9 |
Estrada (km/l, G/A) | 14,5/9,9 |
GARANTIA | |
Garantia (anos) | Cinco |
Garantia do sistema híbrido, inclusive bateria (anos) | Oito |