A sucessão de más notícias não parou. Como o Brasil sentiu os efeitos do coronavírus e da Covid-19 algumas semanas depois da Europa e repetiu as ações de isolamento social e fechamento do comércio de forma bem parecida, então o que vimos lá em termos de quedas de vendas estamos vendo aqui.
Na reunião da Anfavea com jornalistas do último 6 de março, ouvimos de seu presidente, Luiz Carlos Moraes, que a queda do movimento nas concessionárias na última semana de março fora de 90%. Isto significa que o setor ficou praticamente parado.
A produção também parou, os fabricantes rapidamente perceberam que deveriam proteger seus colaboradores da contaminação e decidiram por férias coletivas e licença remunerada logo em seguida. Neste mês de abril, enquanto algumas fabricantes planejam a retomada das atividades produtivas e, ao mesmo tempo discutem com os sindicatos extensão de paralisações, estas mais para adequar a oferta à nova demanda, veremos que as vendas de abril serão uma fração do normal.
Ao todo, em março, venderam-se 156.304 veículos leves, queda de 19,1% em relação a fevereiro e de 21,8% sobre março do ano passado. Quando se tem uma paralisação dessas, que foi inédita em nossa indústria, perdem-se as referências e sem elas fica difícil fazermos projeções. Evitarei, neste momento, apontar que o mercado cairá 5%, 10%, 20% ou 50% no ano, pois me faltam base para estimativas. De todas análises da macroeconomia que li, as que encontrei mais razoáveis eram as que, comparando com a última grande crise nos mercados, a de 2008, esta daqui tem uma tendência de ser de recuperação mais rápida. Mas isso foi quando se esperava não mais que 3-4 semanas de quarentena e já entramos na sexta. Quanto mais longa a paralisação de atividades, mais tempo para nos recuperarmos. É o que consigo dizer no momento.
O Brasil teve melhor sorte que os EUA, por exemplo, aqui não temos registro de mortes notificadas por Covid-19 nos trabalhadores de chão de fábrica e lá já são dezenas deles. Na Itália também houve mortes de metalúrgicos. A situação torna-se mais tensa com os sindicatos.
Por outro lado, a paralisação que parecia ser de duas ou três semanas, deve ser de seis e, no atual embate entre executivo, parlamento e mídia, não conseguimos sequer saber se há planos de retomada das atividades, ou se os há, se serão postos em prática em algum momento. A economia parou.
Outra comparação interessante: nos EUA os trabalhadores estão saindo de licença não remunerada, inclusive marcas tradicionais “estrangeiras” deles (leia-se Honda, Nissan, BMW). Isso mesmo, vai para casa, não recebe, mas tem uma tênue garantia que voltará a trabalhar quando a fábrica retomar produção. Aqui já estava tudo certo para se iniciarem as discussões de licença remunerada, quando entra em ação um ministro do STF melando tudo… Por sorte, ou sem sorte para uns, o plenário do STF revogou essa medida. Se houvesse uma pessoa que ficou congelada 30 anos e acordou agora, pediria para ser congelado de novo.
Já que temos algumas semanas de “gap”, na semana passada os congressistas americanos começaram a discutir se a atividade de varejo de automóveis não entraria na lista das essenciais. Podemos julgar que isso foi em decorrência de forte lobby do setor de varejo, ou não, o fato é que importamos medidas restritivas e podemos fazê-lo também nas de distensão.
Os bancos centrais agiram com anúncios de injeção de dinheiro para conter os estragos, o pacote do FED é de cerca de 10% do PIB americano (US$ 2 trilhões vs. 20 tri), o Brasil não tem essa capacidade financeira, a soma de tudo o que se falou de estímulos por aqui já ultrapassa os 6% de nosso PIB, mas pode crescer.
Tanto lá como aqui veem-se discussões acaloradas de como retomar as atividades sem matar mais gente, uma vez que ainda não chegamos na estabilização dos números de óbitos em várias regiões do país e esta semana já começamos a ver o colapso dos sistemas de saúde em algumas cidades importantes.
RANKING DO MÊS E DO TRIMESTRE
Houve regiões em que a queda de vendas aconteceu antes, e como a participação das principais marcas se distribui por essas regiões de forma heterogênea, perceberemos grande variação de queda por marca. Inclusive a VW foi a grande exceção e que obteve resultados positivos na comparação de trimestres deste ano com o ano passado.
A liderança do mercado nacional não mudou, Chevrolet segue na frente, mas a distância para VW e Fiat se reduziu neste mês, com as três muito próximas entre si, uma vez que a marca da gravatinha borboleta foi a que mais foi impactada. Na comparação com março de ’19, Chevrolet teve queda de 30%, VW de 13% e a Fiat de 1%. Isso ajuda a entender não somente o comportamento do mês, como do primeiro trimestre, no qual a GM enfrentou 11% de queda, a Fiat -3% e VWB +4%.
O Chevrolet Tracker nacional já estava pronto para ser lançado e sua apresentação foi por Live. A Fiat acabou optando por retardar o lançamento da nova Strada para o final do ano e outros lançamentos que estavam programados para as próximas semanas ou meses estão também sendo rearranjados.
Onix manteve-se na liderança em março, com 12.007 unidades licenciadas, Ka em 2º, com 7.103, HB20 em 3º, com 7.042, seguido de Onix Plus, Argo, Gol, Renegade. O T-Cross como o 2º VW mais vendido.
Nos comerciais leves a Strada permaneceu na liderança folgada, com 4.799 unidades vendidas, seguida da Toro, com 3.598, Hilux em 3º, com 2.971, depois Saveiro, S10, Ranger. No trimestre, a compacta Fiat fechou com 15.408 e queda de 7%, a Toro vendeu +8%, Hilux +2%, o segmento de comerciais leves parecia já tinha várias vendas fechadas quando a paralisação começou.
Em abril espero outro mês de vendas paralisadas. Que a retomada de atividades venha logo, porém em segurança para todos trabalhadores.
Até o mês que vem!
MAS