Maior rali das Américas, o Sertões 2020 terá em sua 28ª edição nova data e outras mudanças importantes destinadas a manter a credibilidade do evento e preparar o terreno para a prova de 2022. As novidades foram anunciadas hoje, em São Paulo, em conferência via internet. O roteiro definitivo será divulgado dia 19 de agosto, mas já estão definidas as cidades de largada e chegada: respectivamente São Paulo, SP e Jericoaquara, CE, mais especificamente na Vila Preá. De acordo com Joaquim Monteiro, diretor do evento, a competição deste ano já conta com 156 inscritos e terá novas oportunidades a estreantes e competidores com diferentes objetivos. Segundo ele, a mudança de data teve propósitos racionais que focam no planejamento até 2022:
“Os Jogos Olímpicos, a F-1, o Tour de France e tantos outros eventos mudaram de data. Nosso rali tem história e é respeitado, não faria sentido nós irmos na direção contrária.”
Ao transferir o Sertões para novembro, data inédita na história do rali, Monteiro acredita que dará mais tempo de preparação para as equipes e para a recuperação da economia. Neste quesito o evento parece saudável: comparando os períodos janeiro-abril de 2019 e de 2020 houve aumento de patrocinadores e receita, mas a empresa ainda espera “algum solavanco em função do cenário econômico”. Para manter o interesse na competição em curva ascendente os organizadores criaram condições voltadas a atrair pilotos estreantes, concorrentes que não podem disputar o percurso inteiro e até grupos de amigos e familiares que poderão se alternar na pilotagem e navegação.
Os estreantes deverão vir incentivados por concorrentes mais experientes: aquele que trouxer um competidor inédito na prova terá como bônus desconto na inscrição ou a inscrição gratuita de uma pessoa de apoio, bonificação que pode ser dobrada. Pilotos e navegadores que não têm tempo para seguir pelos nove dias do evento poderão participar da Categoria Sprint, que terá como percurso apenas as três primeiras etapas. Já grupos de amigos e familiares têm a chance de montar suas equipes e disputar uma categoria à parte, e no caso de automóveis e quadriciclos piloto e navegador se revezarão diariamente nas respectivas funções; integrantes de duplas inscritas com motos e UTVs poderão pilotar um dia e descansar no dia seguinte, quando o parceiro assume o comando. Outra categoria que terá destaque é a Self, aberta para pilotos que disputam a prova sem equipe de apoio. Tudo com foco na redução de custos, ponto que determinou o local da largada, como explica Monteiro:
“Cerca de 60% dos nossos inscritos são de pilotos e equipes baseados na região sudeste e para eles o custo de uma largada fora da região implica em gastos de transporte, logística, hospedagem. Largar em São Paulo foi uma decisão bem recebida por todos.”
Sempre na toada de diminuir custos, os promotores usaram do poder de barganha gerado por administrar uma caravana de duas mil pessoas se deslocando diariamente para negociar quartos e habitação ao longo do percurso. Pesquisas da Embratur indicam que o impacto financeiro que a passagem dos Sertões causa nas cidades de pernoite pode chegar R$ 600 mil/dia. “Este impacto é particularmente importante nas cidades menores, que são a maioria do nosso roteiro, e do nosso País”, completa Monteiro, que anunciou um serviço de reservas que garantirá o alojamento de concorrentes de forma simplificada.
Lama e preparação para o Dakar
A mudança de data do Rally dos Sertões traz consequências profundas para a preparação de homens e máquinas. Tradicionalmente disputado em uma época de secas, onde o percurso é marcado pela poeira, em 2020 a prova será em época de chuvas, em que a lama deverá ser presença constante. Depressões leves vencidas sem maior dificuldade em piso seco podem se transformar em um atoleiro após uma chuva. Dentro do contexto criado com a mudança do Rally Dakar da América do Sul para a Arábia Saudita, e possivelmente outros países limítrofes, o Sertões tem a ganhar em termos de inscritos e importância.
“Durante os oito anos que o Dakar foi disputado na América do Sul ele ajudou a criar e consolidar várias equipes na região, que agora estão órfãs e ávidas de competir”, diz Monteiro, que completa: “Nós estamos de braços abertos para todas elas. Quanto ao fato de o Sertões se realizar cerca de dois meses antes do Dakar, podemos, sim, servir com preparação para essa prova: lá é só areia e nosso percurso é um mix de vários tipos de terreno.”
Os planos de Monteiro e sua equipe têm como norte a prova de 2022 e o objetivo maior de incitar os brasileiros a conhecer o Brasil. Apesar das alterações decorrentes da atual crise que o mundo atravessa, Monteiro afirma que as datas de 2021 e 2022 estão inalteradas e novos cenários serão revelados no evento deste ano:
“No ano passado revelamos um cânion espetacular no Piauí e o roteiro de 2020 inclui dois lugares igualmente especiais, tudo para que os brasileiros sintam vontade de conhecer e desbravar o País. Para 2022 queremos promover o maior rali do mundo, uma forma de celebrar os 30 anos do Sertões e os 200 anos de independência do Brasil.”
W.G.