Um dos pilotos mais controversos da F-1 no século XXI, Fernando Alonso está de volta à equipe Renault, onde conquistou seus dois títulos mundiais, em 2005-6. Rápido, egocêntrico e sem palpas na língua, o espanhol repete a trajetória de Niki Lauda, que abandonou a F-1 no final da temporada de 1979 para voltar em 1982 e conquistar um terceiro título em 1984, pela McLaren, equipe que inscreveu Alonso para disputar a 500 Milhas de Indianápolis, em agosto. Alonso vai substituir Daniel Ricciardo (ambos na foto de abertura), australiano que em 2021 vai correr pela…McLaren. A Renault confirmou hoje (8/7) a contratação de Alonso, acordo que deverá ter implicações na estrutura técnica da equipe francesa.
A contratação de um nome de peso por uma equipe que há anos luta para recuperar a hegemonia de outros tempos, tem uma abrangência mais ampla do que se supõe inicialmente e pode ter implicações mais profundas que a simples chegada de um piloto. Em 28 de janeiro o italiano Luca De Meo foi anunciado como presidente e executivo-chefe da Renault a partir de primeiro de julho; ex-presidente da Seat (braço do grupo VW na Espanha) por cinco anos, De Meo tem amplo conhecimento da cultura local e é casado com uma espanhola, o que ajuda a compreender o apelo que o piloto das Astúrias tem, particularmente, no país. Há de se considerar que a Espanha é também um dos maiores mercados da casa francesa, o que contribui ainda mais para que a alta diretoria da marca continue apoiando a operação F-1.
No ano passado o nome de Alonso já era ventilado a um possível retorno, mas tudo indica que na ocasião ao asturiano não foi apresentado nenhuma opção adequada às suas pretensões. Em pleno mês de junho, época em que começam os rumores da silly season (temporada de rumores sobre o futuro de cada piloto na F-1) ele não escondeu que “para o futuro estou aberto a propostas interessantes e, se decido retornar à F-1 será apenas de houver a possibilidade de vencer o Mundial, não me interessam os projetos que partam do zero, quero um carro com chances imediatas de vitória”.
Não se pode dizer que a Renault tenha hoje um carro vencedor e é pouco provável que o faça para 2021. O comunicado de imprensa que anunciou a volta do filho pródigo deixa isso claro ao conter a informação que “o desejo (da marca) é construir uma equipe em torno de pilotos complementares, combinando experiência e juventude, e reunindo seus valores a serviço desse projeto”. Ou seja, foco no futuro, nada de títulos imediatos.” Talvez por isso o discurso do espanhol já tenha mudado um pouquinho em relação ao que disse em julho de 2019:
“Eu tenho princípios e ambições alinhados com o projeto do time. O progresso que eles fizeram no último inverno (do Hemisfério Norte) dá credibilidade aos seus objetivos para a temporada de 2022 (grifo do autor) e eu vou compartir toda minha experiência em corridas com todos: engenheiros, mecânicos e aos meus colegas de equipe. O time quer voltar ao pódio e tem os meios para isso, assim como eu…”
O que acontece em contratações deste tipo é que o piloto nunca assina o contrato sem exigências que incluem profissionais que lhe são caros e importantes. Dito isso, espere para breve a incorporação de projetistas e engenheiros que tenham um passado em comum com ele e até mesmo a chegada de algum medalhão consagrado disposto a trabalhar com um piloto exigente e não exatamente diplomático, duas características típicas de campeões. Hoje por hoje, a Renault não tem um líder que coordene as áreas técnicas de chassi e de motor, departamentos liderados por Pat Fry e Rémi Taffin, respectivamente.
O que está em jogo neste acordo não é a habilidade de Alonso como piloto, tampouco a capacidade técnica da Renault. O que preocupa os fãs de ambos é a possibilidade dessa mistura desandar e frustrar um investimento que tem enorme potencial de marcar época quando a F-1 renasce sob nova direção e em um ambiente inédito para todo o mundo. Em seu período pós-Renault Alonso detonou seu relacionamento com a Ferrari, com a McLaren de Ron Dennis, com a Honda e há indícios que com a Toyota a situação não é lá muito diferente.
Nos últimos anos a Renault vive um processo de renascimento onde a habilidade de Cyril Abiteboul é sempre colocada em xeque. Por isso tudo, espere mais novidades saindo da fornalha que aquece os sonhos da equipe baseada em Enstone. Quem sabe os sonhos de Alonso sejam maiores que comandar apenas o seu novo F-1.
WG
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