A pandemia e o confinamento tem dessas coisas: a gente começa a inventar coisas para fazer dentro de casa já que o contato com os amigos e mesmo com os colegas de trabalho ficou bastante restrito. No meu caso, virtualmente zero.
Não que minha vida tenha ficado mais tranquila ou que tenha tido mais tempo livre – como disse, minha rotina sempre foi carregada e agora não está sendo diferente. Mas tenho passado mais tempo a sós com meu marido, pois viagens foram suspensas mesmo a trabalho e não temos tido festas nem reuniões como antes.
Foi num dia destes que começamos a imaginar, meu marido e eu, anúncios estapafúrdios e improváveis de carros. Confesso que tenho visto tanta feiquiniús (e, pior, gente que acredita nelas) que nos divertimos imaginando o que poderíamos dizer que um carro tem. Claro, sem nenhum bom senso nem compromisso com a realidade ou sequer um mínimo de coerência.
A inspiração veio de quando fui à África do Sul (contei aqui neste espaço sobre minha experiência naquele lindo país) e fizemos uma viagem de carro entre Pretória e Blyde River Canyon, próximo ao Parque Krueger.
A estrada era excelente, mas tínhamos que dirigir quase 500 quilômetros numa esticada só e, naquele momento, nem sabíamos como eram as estradas naquele país. Aliás, foi em Pretória onde pegamos nosso carro alugado e começamos nossa aventura.
A estrada ótima e não tínhamos previsão de mais do que uma parada nos muitos (e ótimos) postos de gasolina ao longo do caminho. Meu marido e eu dividimos o tempo conversando, ouvindo rádio e principalmente inventando coisas para nos distrair, já que o sinal do rádio ia e vinha. Nessas horas percebo que minha criatividade não tem limites. Imaginar formato de nuvens é para amadores. Eu pensei como seria nossa vida se morássemos na África do Sul. Teríamos algum bicho de estimação? Meu lado andaluz logo viajou na maionese e pensei num zoológico inteiro. Quais seriam os nomes que daríamos aos bichos? E aí começou a sessão Abobrinha. Uma chita era algo que teríamos, sem dúvida (foto abertura). O nome não poderia ser outro que não Jody Scheckter, o do piloto de Fórmula 1 mais famoso do país. E um rinoceronte? RiNo, é claro, mas não pela natureza do bicho e sim porque seria a junção dos nossos nomes: Ricardo e Nora. Óbvio, não? O macaco só poderia ser Federico em homenagem ao macaco-prego que tive na minha infância em Buenos Aires. O elefante seria certamente Amarula e o inteligente, destemido, porém bravo ratel seria, é claro, Norinha… e por aí foi. Só besteiras.
Caros leitores, entendam que viagens longas com apenas um casal exigem alguma criatividade nos deslocamentos, já que dormir e deixar o outro dirigindo sozinho no meu caso está totalmente fora de cogitação — já meu marido faz isso com alguma frequência, embora não muita. Desconfio que não acredita na minha condução suave e tranquila, hehehehe.
Pois bem, esta semana soltamos novamente os bichos e ficamos imaginando anúncio de carros. O que poderia ser mais interessante do que um tanque de combustível expansível? Você vai ao posto e enche o tanque na medida de sua necessidade. Se quiser ir do Oiapoque ao Chuí é só apertar um botão que o tanque aumenta automaticamente. Tenho certeza de que alguém acharia o máximo, já que raros sabem sequer qual é a capacidade do tanque do carro que dirigem.
Outra coisa que certamente alguns achariam i-m-p-r-e-s-c-i-n-d-í-v-e-l seria um dispositivo que ligasse o pisca-alerta ao limpador de para-brisa assim que este é acionado. Sim, já sei que não se usa pisca-alerta com o carro em movimento exceto em raríssimos casos e certamente sob chuva não é um deles, mas aposto outro vidro de doce de leite argentino (ainda que o finlandês faça jus a um tenho outros…) que muita gente ia achar a ideia sensacional.
Estepe que liga para a seguradora vir trocar o pneu seria uma maravilha para aqueles que desconhecem os mistérios das chaves de roda, macacos e outros. Seria uma espécie de internet das coisas: tirou o pneu do porta-malas, ele aciona diretamente a socorro mecânico. Ainda não equacionei direito a questão do roubo de estepes tão comum no Brasil, mas isso é algo a ser trabalhado com mais detalhes.
Meu carro não teria cebolinha de temperatura, não. Isso é muito comum. O meu teria ciboulette de temperatura. Que tal? Fora que cebolinha deixa bafo de cebola. Ciboulette também, mas pelo nome ninguém suspeitaria, né? E ainda por cima quando o mecânico diagnosticar “problema na cebolinha” você poderia dizer que seu carro é mais moderno, mais gourmet, e que ele tem “ ciboulette”.
Como o astrolábio é lindo, mas ocupa muito espaço e pode até machucar pessoas dentro da cabine, meu carro teria, em vez do moderno GPS, um sextante. Quem resistiria a um carro com “sextante acoplado de quinta geração”? Se seu carro tem GPS, você é comum. Quero ver um veículo com sextante — e principalmente, quero ver alguém saber usar um sextante. Mas até aí, nada demais. Nem GPS a maior parte dos usuários sabe usar…
Mudando de assunto: a corrida de Fórmula 1 deste domingo reduziu sensivelmente minha caminhada quinzenal, pois durou tanto que saí sob um sol escaldante e voltei rapidamente por não aguentar o sol. Mas novamente teve de tudo. Não gosto de largadas com os carros em movimento e da forma como foi feita provou-se algo quase assassino. Também não gosto de acidentes, mas me incomodam menos quando ninguém sai ferido, como foi o caso do GP da Toscana e, de fato, deram mais emoção e proporcionaram reviravoltas ao público. De resto, adorei o traçado do circuito. Tenho muita saudade de pistas com subidas, descidas e curvas bem feitas.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.