A JAC apresentou o suve T60 no final de 2019  e a primeira coisa que chamou atenção foi o desenho externo e interno que não seguem nenhum modelo ocidental. Isso comprova que as marcas chinesas começam a ter vida própria em seus produtos. Os principais fabricantes chineses contrataram profissionais do mundo todo para trabalharem como consultores ou conselheiros para seus engenheiros. Com isso, a engenharia e a manufatura chinesa saíram definitivamente da fase que buscava inspiração nos modelos europeus e americanos.

O T60 é um suve médio com características similares a seus competidores diretos, mas com desenho próprio. O tamanho do carro é similar ao líder de vendas no Brasil no segmento, o Jeep Compass. Mas isso é apenas uma referência, pois certamente a JAC desenvolveu este carro para os mercados onde vende em alto volume. O Grupo SHC, responsável pela importação para o Brasil, aproveitou a oportunidade e incluiu-o em seu portfólio de produtos.

Desde seu lançamento o modelo já teve seus preços majorados, e atualmente o site da marca indica R$ 111.990 para a versão com Pack2 e R$ 115.990 para o Pack 3 que incorpora o teto solar e bancos com revestimento em material sintético imitando couro. Este último é a versão testada. Em uma comparação rápida é um suve médio com preço de compacto. Mas vamos aos detalhes.

Motorização

O motor de 4 cilindros de 1,5-l a gasolina é turbocarregado com interresfriador do tipo ar-ar, duplo comando de válvulas acionado por corrente, de fase variável na admissão e escapamento, 16 válvulas, e construção em alumínio no bloco e cabeçote. A injeção é no duto, e a ignição traz bobinas individuais. A potência máxima é de 168 cv a 5.500 rpm e o torque máximo de 21,4 m·kgf está entre 2.000 e 4.500 rpm.

O câmbio automático do tipo CVT tem 6 marchas e recebe torque do motor através de embreagem automática monodisco a seco. Pode ser conduzido no modo manual sequencial com trocas de marchas pela alavanca (sobe marcha para frente). Da posição “Drive”, ao mover a alavanca para a direita encontra-se o modo “Sport”, e a partir dessa posição comanda-se o modo “M”.

O conjunto motor+câmbio está montado na transversal e proporciona tração para as rodas dianteiras apenas, apesar do porte do veículo e da altura livre do solo de 204 mm sugerir ser capaz de aventuras fora da estrada.

A calibração do motor foi ajustada para a gasolina comum brasileira com 27% de álcool, e tem desempenho e dirigibilidade satisfatórios. Os números informados pelo importador confirmam ser um bom carro para uso familiar. 0-100 km/h em 9,6 segundos e velocidade máxima 195 km/h.

O peso em ordem de marcha de 1.365 kg comprova que os engenheiros da JAC na China e em Turim, onde o carro foi desenhado, trabalharam bastante para chegar nesse resultado. O maior beneficiado foi o consumo de combustível. Na viagem padrão de 120 km entre São Paulo e Campinas, SP obtive a média de 13,5 km/l. Os números homologados junto ao Inmetro são 11,2 km/l para uso rodoviário e 9,6 km/l no urbano. Em uma semana de uso predominante rodoviário o consumo acumulado foi de 13,2 km/l para cerca de 500 quilômetros rodados.

Como com todo câmbio CVT, as acelerações trazem a impressão de serem mais lentas. Ocorre o incremento das rotações do motor proporcional à carga no pedal do acelerador. A partir de certo momento da aceleração a velocidade do veículo segue crescendo, mas sem a variação de rotação do motor. Isso acontece pela variação contínua de relação das polias de transmissão. Dirigindo em modo Manual é possível fazer a troca de marchas e nessa situação nota-se o decréscimo das rotações a cada troca, como um câmbio manual ou automático epicíclico.

O nível de ruído interno é aceitável e permite boa interlocução entre passageiros do banco dianteiro e traseiro. Como o nível de ruído geral do carro é baixo, aparece o ruído de funcionamento vindo do compressor do ar-condicionado. É notado em baixas velocidades, principalmente nas ruas silenciosas dos bairros.

Conforto ao rodar

A suspensão dianteira é McPherson com mola helicoidal e amortecedor pressurizado. No subchassi está a ancoragem de cada braços de controle, barra antirrolagem, caixa de direção e sustentação inferior do motor e câmbio. Na traseira está o tradicional eixo de torção com mola helicoidal e amortecedor pressurizado.

Toda calibração está ajustada para maior conforto, deixando o veículo macio. Porém isso tem o inconveniente da suspensão trabalhar o tempo todo com maior amplitude nas movimentações. Os batentes de compressão e tração entram com facilidade, e devido a falta de batente hidráulico nos amortecedores, o ruído de queda de roda é frequente.

Em consequência dessa maior oscilação da carroceria, ao trafegar em piso irregular com curvas o controle de estabilidade é automaticamente acionado, ocasionando o corte da aceleração e aplicando os freios seletivamente. A intrusão do sistema é incômoda e pode assustar motorista com menor experiência.

O sistema de direção com assistência elétrica na árvore através de motor de passo apresenta pouco esforço com carro parado e em baixas velocidades. A progressão de esforço é indexada à velocidade, porém em velocidades de 100~120 km/h poderia ser maior. A sensação de centro é indefinida, causando cansaço prematuro ao motorista em todas as situações. O tamanho, bom desenho e ótima empunhadura do volante merecem um sistema de direção com melhor calibração.

Freios a disco nas quatro rodas, com disco ventilados na dianteira e sem ventilação atrás estão bem dimensionados para o tamanho do carro. O pedal de freio tem resposta rápida e a modulação ao longo do curso está dentro do esperado. Não é notado fading mesmo em frenagens mais vigorosas em altas velocidades. Ponto positivo para o freio de estacionamento eletromecânico e automático ao selecionar “Parking” e desligar o motor. O sistema de freio ainda tem a assistência de frenagens de emergência e estratégia de prioridade para o freio, em que a aceleração é desativada caso o pedal do acelerador prenda aberto por qualquer motivo.

Exterior atraente

As proporções das linhas externas do carro se assemelham da maioria dos suves médio do mercado, trazendo detalhes de identidade e caracterização com a marca. Na grade dianteira foi utilizado uma combinação de preto brilhante com elementos de cromo escurecido, dando um resultado muito bonito que se modifica em função da luz e ângulo de visão. Na parte superior há uma barra cromada que interliga os faróis que são associados a luzes de rodagem diurna em LED e contam com ajuste de altura do facho de bordo. A porção inferior do para-choque dianteiro é continuidade da moldura plástica que circunda todo o veículo. Os faróis de neblina são também luzes de curvas, acendendo ao esterçar as rodas.

Pela lateral o destaque é o corte reto nas caixas de roda que trazem um ar de esportividade ao conjunto. A linha de cintura é horizontal em nível, mas em função da inclinação do teto, tem-se a impressão que sobe. A subida acontece somente junto a coluna “C” (traseira) que traz pintura preto brilhante, dando continuidade à área envidraçada. Barras longitudinais no teto complementem o desenho da lateral.

Na traseira o time de estilo da JAC gastou no efeito-joia (jewel effect). As lanternas extrapolam os limites da carroceria e estão interligadas por uma barra cromada. A pintura da coluna “C” termina no apêndice lateral da tampa do porta-malas, conectando-se com o vidro do vigia. O para-choque segue a cor das molduras plásticas de caixa de roda e tem luz de neblina e de ré emolduradas por friso cromado.

Interior bem elaborado

Chave do tipo presencial com sensores nas maçanetas é o caminho para se chegar no interior do carro. Espaço interno e sofisticação é uma coisa que o consumidor chinês aprecia, principalmente nesse segmento médio e daí para cima. O JAC T60 não decepciona e colocado lado a lado com os carros nacionais, vai muito bem.

A almofada do painel é de plástico rígido na sua parte superior, mas na região inferior que é mais propensa ao toque de mão do usuário, há revestimento que segue o padrão dos bancos. Tudo muito bem acabado, com desenho harmonioso e bons materiais. O revestimento em material que imita couro é opcional e vem no pacote Pack3 juntamente com o teto solar.

Console inferior, central e o multimídia acima não formam um conjunto único, mas mesmo com os volumes diferentes em cada um deles, a combinação teve um resultado muito bom.

A tela digital ao centro do console é utilizada para comando do sistema de ar-condicionado e ventilação. Apesar de ser toda digital, os ajustes são manuais, não oferecendo ajuste automático de climatização. Ficou devendo também as saídas de ar climatizado para o banco traseiro. Como consequência, o resfriamento da cabine de grande volume é mais demorado, e o conforto dos ocupantes fica prejudicado.

A central multimídia está montada de modo flutuante no centro do painel e oferece as funções básicas de espelhamento de telefone celular via cabo, porém Android Auto e Apple CarPlay não estão disponíveis. Para espelhamento é necessário instalar um aplicativo específico. Os comandos da central podem ser feitos diretamente na tela tátil ou pelos botões do volante de direção.

O quadro de instrumentos é facilmente configurável através de botões no volante de direção. Já a leitura é prejudicada pelo tamanho da fonte utilizada. Mesma dificuldade que encontrei ao fazer ajustes o modo configurações do veículo. Tem a vantagem da repetição digital de velocidade ao centro.

Bancos dianteiros tem bom conforto e o mesmo é visto nos traseiros. O encosto traseiro é dividido e rebatível 40:60 dando versatilidade no carregamento do porta-malas de 450 litros. Porta-garrafas estão distribuídos nos painéis de portas, no console central e no descansa-braço traseiro.

Nas fotos acima é possível notar o nível de qualidade de acabamento e da decoração interna , bem como o  bom ângulo de abertura das portas; porta-malas é de 450 litros e o pneu do estepe é de mesma medida dos “titulares”..

A mesma deficiência dos dígitos do quadro de instrumentos é vista na central multimídia. Com o anseio de pôr na tela várias informações, os engenheiros da JAC exageraram nesse minimalismo de caracteres. Curiosamente, à noite, o quadro de instrumentos e a central têm melhor visualização.

A segurança passiva é dada apenas pelas bolsas de ar infláveis frontais (obrigatórias), sendo desprovido de bolsas laterais ou de cortina. E para auxílio ao motorista o controle de velocidade de cruzeiro é convencional, o alerta de limite de velocidade é configurável,  e pode ser desativado através da tela de configuração do veículo.

Conclusão

O mercado mundial de suves compactos e médios são os que mais crescem e a JAC acerta em trazer este bonito modelo para o Brasil a um preço competitivo no mercado. Será mais um competidor a ser avaliado em qualquer análise de compra para quem está interessado em um suve desse porte. O conteúdo, aliado aos itens de embelezamento no exterior e interior deixam o carro bem atraente, apesar de alguns itens importantes para o gosto do brasileiro estarem faltando. O medo pelas dificuldades com peças de reposição, se bem analisado, não deve ser um impeditivo para a compra. Vários modelos fabricados no Brasil têm seus componentes importados, portanto, analogamente teriam a mesma dificuldade. Talvez a maior preocupação ainda seja com a reduzida rede de assistência técnica da marca e o “pré-conceito” que ainda é visto em relação aos carros chineses. Para tentar desfazer essa opinião a JAC oferece 6 anos de garantia sem limite de quilometragem.

GB