Para mim viajar é uma das melhores coisas da vida. Viajar e dirigir em outra cidade, então, é o máximo. É claro que sempre tem algum mico a se pagar – especialmente com idiomas não dominados por mim. Mesmo as placas padrão tem quase sempre alguma pegadinha e, claro, não raro há algum adendo que não entendemos. Já tentei diversos tradutores no celular e os resultados foram entre totalmente inútil e parcialmente inútil – neste ultimo caso, o problema é que às vezes precisamos ter a informação com rapidez.
Em Cracóvia (Polônia), com meu marido ao volante, entramos numa via que, acreditamos, era exclusiva para bondes. Era mais elevada, mas surgia na sequência de uma pista “normal”, bem no centro da cidade, paralela ao parque Planty. Mas o fato é que mesmo tendo passado naquela lindíssima cidade três dias e três noites, não conseguimos descobrir se cometemos alguma infração ou não. Lembro que íamos rumo aos campos de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, mas não ficou claro se podíamos estar ou não naquela pista. Em todo caso, já completamos dois anos desse fato e não recebemos nenhuma multa. Mas talvez o maior problema naquele país tenham sido as placas. Encontramos uma, mas sem entender nada, optamos por só estacionar em estacionamentos particulares.
Só de volta em casa, descansada, com calma, datilografei o que a placa dizia ,Wytacznie dla pojazdów uprawnionych do wjazdu w strefe ograniczonego ruchu z wyjatkiem pojazdów wolnobieznycj i dorozek. Coloquei no tradutor do Google e, bingo: “Apenas para veículos autorizados a entrar na zona de tráfego restrito, com exceção de veículos lentos e carruagens.” Claro, o “P” é quase universal, estacionamento permitido. Fizemos bem em não entrar…
Esse tipo de coisa acaba fazendo parte do folclore e das lembranças de viagem — já de volta ao Brasil, é claro, pois na hora é sempre um perrengue e uma tensão muito grandes. Mas para mim a tensão já começa na hora de retirar o carro, geralmente no aeroporto.
Quem já conseguiu reservar um carro de aluguel e receber o mesmo modelo? (foto de abertura) Para mim, essas pessoas devem até existir, mas fazem parte daqueles pequenos grupos como os que pegam as primeiras malas na esteira do aeroporto, aqueles que não tiram a bagagem de mão do bagageiro assim que o trem de pouso toca o solo e, por que não, aqueles que já viram Papai Noel. Ou seja, até podem existir, mas eu não conheço nenhuma.
Perdi a conta de quantas vezes aluguei carro, assim como perdi a conta de quantas vezes não recebi o mesmo modelo que havia reservado. Nem sempre é ruim — algumas vezes, me deram um modelo superior, a título de upgrade. Uma das últimas vezes foi na África do Sul. Havíamos reservado uma station wagon e nos deram um Audi. Nada a reclamar daquela vez, é claro.
Mas geralmente acabo ficando com um “similar” — só que similar para eles. Quando viajo gosto de carro com porta-malas grande, para que a bagagem não fique visível nas trocentas paradas que sempre fazemos. Nós vamos do ponto A ao ponto B passando por C, D, E, F… X, Y, Z. Mas nem sempre levo o carro que reservei. Geralmente alugo station wagon, pois acho prático em termos de espaço de bagagem sem ser minivan (que acho estranho para apenas duas pessoas). Mas não raro levo um sedã médio.
Acontece que para mim uma station wagon não é similar a um sedã. São muito, muito diferentes e ainda não terminei de entender quais são os critérios adotados pelas locadoras para estabelecer esses grupos de veículos. Minha maior suspeita é que seja apenas o preço de venda — quiçá com algum componente extra, como valor do seguro. De resto, pouquíssimas similaridades.
Isso para não falar que tenho, sim, marcas favoritas e os grupos de carros nas locadoras não costumam bater com meus critérios.
Há casos mais dramáticos em termos de aluguel. No meu caso, certamente o pior de toda minha história de viagens com carros alugados, foi quando fomos em fevereiro de 2019 para o noroeste da Argentina e o Atacama chileno. Reservamos um Nissan Kicks, suficiente para as cruéis estradas que sabíamos ir enfrentar, com preço razoável e mecânica relativamente simples e conhecida para nós. Retiramos um desses na cidade de San Miguel de Tucumán, com 3.000 quilômetros, bonitinho, todo em ordem (foto Kicks). Mas antes da metade da viagem tivemos que trocar em Paso Sico, na fronteira com o Chile (por problemas com a documentação, pois a locadora não fez o que devia e nos mandou com a documentação incompleta para aquele carro) e nos deram um Spin todo amassado, com mais de 70.000 quilômetros, fedido como se tivesse estado dois dias numa enchente e, para meu desespero, com aquele estepe fininho que não nos permitiria rodar muito nos caminhos que tínhamos pela frente (e a locadora sabia) que eram de terra, pedra, “rípio” (aquela combinação de pedras e terra tão comum nas estradas argentinas) ou mesmo a total inexistência de caminho algum (foto Spin). Cheguei a mencionar esta história aqui mesmo, nesta coluna em duas ocasiões.
Dois anos atrás, reservei um carro para retirar em Budapeste e devolver em Varsóvia. Paguei e reservei um Škoda Octavia (o meu modelo favorito em viagens) automático, mas ao chegar na loja, depois de pagar mais um monte de seguros opcionais e em função disso, me deram um “upgrade” para um… Škoda Octavia manual! Não teve conversa que me fizesse entender isso. OK, câmbio não era problema nessa viagem mas nunca conseguiram me explicar por que um veículo manual seria mais caro do que um automático — e não era mesmo.
O problema é que esse tal de “similar” é o modelo mais abundante em todas as locadoras e em todos os países. Já tentei argumentar algumas vezes que eu reservara um carro com um porta-malas de, sei lá, 550 litros e queriam achar que um com 350 litros seria “similar”. Mas, claro, não adiantou. Só serviu para que eu treinasse minha fluência em algum idioma estrangeiro, mas mais nada porque jamais consegui reverter a operação e sempre saí com o tal “similar”.
Outra vez isso me favoreceu. Foi no Canadá, anos atrás. Tenho um amigo que tem uma agência de viagens e faz há décadas meus roteiros — hoje às vezes com sugestões de destinos e reservas aéreas e de trens, mas em épocas pré-Hotéis.com, Tripadvisor e outras ferramentas desse tipo ele fazia absolutamente tudo para mim. Nosso recorde foi uma vez que decidimos viajar e ele resolveu tudo em um par de horas — embarcamos no mesmíssimo dia. Em épocas pré celular e internet, só soubemos do nosso destino no final do dia, quando fomos buscar as passagens e os vouchers na agência. E, como sempre, saiu tudo perfeitíssimo. Dez dias de viagem sem um problema, hotéis exatamente do jeito que gostamos, enfim, tudo irretocável.
Numa das viagens ao Canadá, meu amigo reservou para nós um carro que, pelos nossos critérios, seria pequeno para nossas bagagens. Estranhei e liguei para ele, pois ele sabe de todas nossas demandas. A resposta? “Reservei esse modelo mesmo. Eles nunca têm e são obrigados a te dar um upgrade e a categoria seguinte te atende superbem”. Dito e feito. Chegamos na cidade de Banff com reserva para um carro pequeno e barato e saímos com um carro médio perfeito para nós. Sem pagar um centavo a mais. Anos depois um amigo meu seguiu nosso roteiro pelo oeste do Canadá, fez as reservas com meu amigo — incluindo o carro daquele modelo que nunca tem — e saiu com o mesmo possante que nós. É questão de confiar no meu amigo, pois se não tivessem me dado o modelo superior teria pago a diferença.
Fora aquela vez e a do Audi (gentileza do simpaticíssimo atendente da locadora em Johanesburgo e depois de muitos anos de fidelidade à empresa), todas as outras saímos com outro modelo. Um dia ainda vou fazer um ranking com os veículos mais alugados para turistas. Tenho certeza de que independentemente do país, o primeiro colocado será um tal de “Similar”.
Mudando de assunto: depois de um ano estranhíssimo para a Fórmula 1, deu o óbvio: Lewis Hamilton heptacampeão. Acho ele quase perfeito — não é meu preferido, mas reconheço que ele é excepcional. Tem um carro também excepcional e muita sorte. Mas claro que tem tudo isso porque é muito bom. Vamos ver como será o ano que vem, pois ainda temos alguns circuitos interessantes para este ano. Só espero que incorporem no calendário aqueles mais legais, como Portimão, e tirem os chatíssimos criados por Hermann Tilken.
NG