Atualmente a nostalgia está em alta. Seja nos filmes e séries com pegada oitentista, na moda com trajes femininos com cintura alta e blusa curta como nos anos setenta ou nos jogos independentes de computador que tem um visual pixelado e parecido com os que tínhamos nos consoles de 8 e 16 bits.
Entretanto, um fator no mínimo curioso desta onda é a apropriação destes fatores por pessoas que não viveram esta época. Algumas pessoas mais velhas chegam a torcer o nariz quando alguém jovem se interessa muito por algum assunto que pertence a um período histórico que ele não viveu. Mas o que será que proporciona este sentimento?
Não posso falar muito sobre esse assunto nas áreas do cinema, música ou moda, mas certamente me identifico quando o assunto é voltado para o mundo automobilístico.
Qualquer pessoa que já tenha dirigido um carro com mais de 25 a 30 anos tem uma noção de como as coisas eram no tempo em que nossa moeda tinha mais zeros, nossas televisões não tinham tantas cores e o único meio de receber uma mensagem de bom dia, era ao acordar e encontrar com sua família na sala de casa.
Os carros são um retrato da época que foram concebidos, transmitem a visão a respeito do design, engenharia e tecnologia que o mundo tinha e em alguns casos, mesmo sendo totalmente defasados hoje, continuam tendo centenas de milhares de pessoas apaixonadas por eles. Desde a pessoa que sonhava com aquele carro quando criança e somente após adulto teve a oportunidade de adquiri-lo, ou o jovem entusiasta que, por amor às sensações que aquele carro pode proporcionar, se empolga com algo que nunca teve a oportunidade de viver no tempo certo.
Talvez o único modo de emular um período histórico atualmente seja através de usar determinada estética visual, sentar ao volante de um carro antigo ou ouvindo músicas de uma determinada época. Essa é a única forma de viagem no tempo possível.
Quem não gostaria ter a mesma sensação de liberdade de “Thelma e Louise” (foto de abertura), nos anos ’90, ao cruzar o deserto americano com seu Ford Thunderbird 1966 conversível azul Turquesa em uma viagem de autoconhecimento e libertação?
Ou a adrenalina de Kowalski ao dirigir no limite o Dodge Challenger R/T com seu lendário motor Magnum de 440 polegadas cúbicas (equivalente a 7,2 litros!) berrando à sua frente?
Nem todos podem viver estas sensações, mas nós amantes de veículos, temos uma oportunidade única de voltar no tempo e espaço, quando nos colocamos no lugar destas figuras do cinema. Vivemos experiências de uma época em que o mundo era diferente e que, talvez, fôssemos pessoas mais felizes e simples.
Sentir o ronco de um motor a menos de um metro à sua frente gritando com toda a sua potência disponível no seu pé e somente as suas mãos guiando o monstro para onde você quer que ele vá, faz com que nos sintamos poderosos e felizes por viver toda essa experiência sensacional única de dirigir um carro antigo.
Eu gostaria que todos pudessem sentir, como eu sinto, a emoção de descrever estes sentimentos. Eles nos tornam mais vivos, mais felizes e mais gratos por ter a experiência única de voltar no tempo, viver sensações que os carros atuais não nos passam com tanta facilidade e que somente um amigo de quatro rodas que tem cheiro, jeito e até nome, podem te proporcionar.
Conrado Pimenta
Belo Horizonte, MG