A F-1 é um verdadeiro quebra-cabeças dinâmico: cada decisão tomada e anunciada provoca reações em cadeia que levam mais ou menos tempo para provocar um novo ciclo de adaptações. A decisão de Toto Wolff em permanecer como acionista e executivo-chefe da equipe Mercedes de F-1 (foto de abertura) tem tudo a ver com os rumores surgidos no meio da temporada e, no segundo caso, o que deve ocorrer no futuro próximo. No primeiro caso encaixam-se os rumores de que o grupo Ineos assumiria o controle do time alemão, no segundo está a cada vez mais provável renovação do contrato de Lewis Hamilton com o time no qual sagrou-se heptacampeão mundial de F-1.
No outro incluem-se, paralelamente, a transferência de Simone Resta da Ferrari para a equipe Alfa Romeo-Sauber, algo que dispara comentários sobre o poder político de Mattia Binotto no comando da Scuderia, e a chegada de Sergio Perez à Red Bull, contratação que levanta dúvidas sobre o futuro relacionamento do mexicano com o holandês Max Verstappen.
Até recentemente o controle acionário da operação da Mercedes na Fórmula 1 estava dividido em três acionistas: o grupo Daimler (60%), Toto Wolff (30%) e o espólio de Niki Lauda (10%). Nos últimos dias o conglomerado alemão anunciou a transferência de 50% de suas ações para o grupo Ineos, propriedade do magnata inglês Sir Jim Ratcliffe, considerado o homem mais rico do seu país. No decorrer da temporada circularam rumores dando conta que o nobre britânico assumiria o controle da operação, algo desmentido sem grande eficiência.
Na última sexta-feira foi anunciado que a Daimler, Ratclliffe e Wolfff agora possuem, cada um, um terço do time que desde 2014 domina a categoria. Os 10% que estavam poder da Família Lauda foram absorvidos equitativamente entre os três acionistas. A negociação certamente envolve a renovação do contrato de Wolff como chefe e líder do time de F-1, o que lhe garante um salário mais do que razoável e uma posição de barganha das mais interessantes; o outro lado da moeda é o compromisso de permanecer no cargo por mais três anos.
Ratcliffe, por sua vez, envereda cada vez mais fundo na área automobilística: comprou a fábrica da Mercedes-Benz localizada em Hambach, cidade situada no departamento (equivalente francês ao nosso conceito de estado) de Moselle. Essa instalação era usada pelo grupo Daimler para a produção do minicarro Smart e está localizada próximo à fronteira entre o noroeste da França e sudoeste da Alemanha; é nela que o grupo Ineos vai produzir o Grenadier, um 4×4 inspirado no Land Rover Defender e equipado com tecnologia de ponta.
Os valores da transação não foram revelados, mas é lícito admitir que envolve transferência de tecnologia e espaço para incrementar a participação acionária do milionário britânico no time de F-1. A fabrica francesa não foi o único ativo passado adiante pela Daimler, que fechou seis de suas fábricas, incluindo a de Iracemápolis, SP, município situado a cerca de 170 km a noroeste da capital paulista. Tal política vai ao encontro dos investimentos necessários, e cada vez maiores, para o desenvolvimento de automóveis híbridos e elétricos e a necessidade de aumentar a disponibilidade de caixa.
A decisão de Wolff em permanecer na Mercedes pavimenta com asfalto de primeira categoria o caminho para Lewis Hamilton permanecer no time e partir em busca do seu oitavo título mundial, conquista inédita nas sete décadas de história da F-1. A renovação agora está mais próxima e eliminar essa distância implica em adicionar ou subtrair alguns milhões de dólares em seu novo contrato.
Enquanto isso a Ferrari segue sua crise costumeira e característica: a transferência de Simone Resta para assumir a parte técnica da Alfa Romeo-Sauber foi uma demonstração da força política de Mattia Binotto em um momento que a Scuderia segue acéfala de um nome dedicado a cuidar dos interesses da marca. Resta e Binotto estão longe de serem classificados como melhores amigos. A saída do egípcio Louis Carey Camilleri do cargo de executivo-chefe da casa de Maranello (e de igual posição na Philip Morris Internacional) ainda não foi completamente digerida e seu substituto tampouco nomeado. Em outras palavras, mudanças estratégicas poderão alterar o poder e as metas da equipe após uma temporada que relembrou o caos vivido em meados da década de 1980.
Um caos já resolvido diz respeito ao futuro financeiro da equipe Red Bull: a contratação de Sérgio Pérez para a vaga de Alexander Albon significará um reforço de caixa importante para o time comandado por Christian Horner. A julgar pela média de investimento na carreira de Checo na última década, espera-se que o cheque assinado pelo bilionário Carlos Slim para ver a marca “Claro” no carro projetado por Adrian Newey para 2021 seja de aproximadamente US$ 25 milhões. Outras marcas deverão aportar valores menores, e igualmente bem-vindos. Não se deve esquecer, porém, do potencial explosivo de misturar Pérez e Verstappen, dois pilotos aguerridos e afoitos, por vezes além do necessário.
A confirmação de Pérez praticamente encerra o processo de dança das cadeiras para o ano que vem, algo todavia incompleto em consequência da negociação ainda em curso entre Lewis Hamilton e Mercedes, que há meses confirmou a permanência de Valtteri Bottas.
Outra possibilidade remota seria a substituição do russo Nikita Mazepin na Haas, consequência de um vídeo postado em sua rede social que causou repulsa em vários setores da sociedade: nele o piloto assedia uma garota sentada no banco traseiro do carro onde viajava junto com um amigo. A equipe americana, a Liberty Media e a própria FIA estudam discretamente como conduzir um caso que envolve investimento de US$ 40 milhões de Mazepin Sênior e potencial letal ao futuro da política de igualdade propagada pela categoria através da frase “We race as one”.
confirmaram o japonês como substituto do russo Daniil Kvyat na equipe AlphaTauri, onde o francês Pierre Gasly foi mantido. Nas demais as formações estão definidas da seguinte forma: Daniel Ricciardo e Lando Norris na McLaren; Sebastian Vettel e Lance Stroll na Aston Martin (até o momento conhecida como Racing Point); Fernando Alonso e Estebán Ocón na Alpine (nova denominação da Renault); Charles Leclerc e Carlos Sainz na Ferrari; Kimi Räikkönen e Antonio Giovinazzi na Alfa Romeo-Sauber e George Russell e Nicholas Latifi na Williams.
Feliz Natal a todos!
WG