As mudanças já confirmadas para a temporada 2021 da F-1 são material suficiente para prever possíveis situações complicadas ou embaraçosas para o campeonato que inicia em março, em Melbourne (Austrália). Testes de pré-temporada inicialmente previstos para serem no Bahrein (foto de abertura) deverão se realizar entre 2 e 4 de março, em Barcelona, Espanha. Para perpetuar o domínio que exerce desde 2014, a Mercedes conta com a ajuda de receitas inéditas ou reeditadas de seus rivais, onde ingredientes como Sérgio Perez, Helmut Marko, Daniel Ricciardo, McLaren, Fernando Alonso e Renault podem fazer desandar ou melhorar sabores já conhecidos e que vão além disso, tal como o modelo de transmissão das corridas.
A grande incógnita do maior rival do time alemão é a combinação proposta pela Red Bull: o entrosamento entre Max Verstappen, Sérgio Pérez e Helmut Marko. Verstappen é um piloto criado e moldado na equipe e tem as bênçãos de Marko, dirigente de temperamento distante de ser classificado como diplomático. Quanto aos dólares trazidos pelos patrocinadores de Pérez e como o austríaco vai processar as inevitáveis disputas de posição entre o mexicano e o holandês é uma interrogação das mais interessantes. Helmut protege Max, que, assim como Sérgio, não gosta de pegar leve com seus companheiros de equipe. A contribuição dos novos patrocinadores mexicanos para comprar os direitos intelectuais do motor Honda é a chave para evitar que a convivência do trio Marko-Perez-Verstappen deixe de ser uma verdadeira bomba-relógio
Após um ano de brilhante recuperação e terminar em terceiro lugar no Campeonato dos Construtores, a McLaren enfrente o desafio de adaptar um motor de concepção bastante diferente em um chassi projetado para o V-6 a Renault. Certamente as dificuldades inerentes a tal mudança foram pensadas e repensadas antes de assinar com a Mercedes, o que alivia, mas não elimina, as dificuldades inerentes a uma alteração de tamanha grandeza. Se der certo, Daniel Ricciardo terá que impor sua experiência frente a um jovem em ascensão, Lando Norris. Se der errado, será a consagração do australiano como um piloto que muda de equipe no momento errado.
O retorno de Fernando Alonso à F-1 é uma das grandes atrações da próxima temporada e acontece em grande estilo: a Renault transforma sua operação na categoria para atuar sob a égide da marca Alpine e vive essa experiência com a presença de um piloto conhecido por seu alto nível de comprometimento e cobrança. É possível que Alonso tenha amadurecido o suficiente para não detonar publicamente seu próprio time, mas os arroubos típicos de sua latinidade certamente não desapareceram por completo.
Negociações em curso entre a Liberty Media e Amazon poderão dar novo rumo às transmissões da F-1 pelo que outrora se chamava simplesmente de “TV”. As possibilidades de mostrar as corridas e o ambiente por sistemas de streaming (transmissão em tempo real via internet) afeta o modelo econômico praticado há décadas pelas principais redes de TV do mundo. Em tal sistema essas empresas pagavam alguns milhões de dólares para ter direitos de transmissão das provas em um determinado país e arrecadavam um valor entre cinco e dez vez vezes mais alto entre anunciantes para cobrir os custos de produção e ter lucro. Entre as falhas desse sistema estão a pirataria praticada por emissoras de mercados pouco interessantes em termos econômicos e demográficos e por diluir o potencial de lucro da própria F-1. O tempo necessário para mudar o hábito de assistir uma corrida pela TV e passar a acompanhar pelo celular ou computador é um valor ainda em discussão, assim como a necessidade de ter a informação de áudio no idioma do usuário.
Desejo a todos um Feliz Ano Novo!
WG
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