Às vezes a gente tem algo e nem dá o devido valor — até não tê-lo mais. Por razões diversas dispusemos do Jetta há um ano e meio e, acredite, mesmo com ele na garagem há muitos anos não tenho um contato tão longo com um bom sedã médio como eu tive semana passada, por longos 1.500 quilômetros. Sei que é estranho dizer isso, mas o Jetta era da Cássia e eu, como bom homem temente a Deus e a esposa, em especial de uma esposa que adora dirigir até na estrada, raramente pegava o Jetta para dirigir.
Bom, depois de uma longa ausência de um sedã, fiz uma viagem com um, pertencente a uma tia da Cássia. E aquele sentimento de não valorizar o que muitas vezes temos na garagem veio à tona.
Comportado, faço a inspeção externa do carro e vejo as linhas sóbrias… Aquilo que foi valorizado em um carro até alguns anos atrás, hoje, tendo porta-malas saliente, passa a pecha de carro de tiozão, táxi, e toda uma sorte de adjetivos num mundo onde hoje carro é sinônimo de suve, satirizado no comentário reproduzido abaixo.
A colocação de malas no porta-malas….Nem precisei esquentar muito a cabeça. Os 470 L declarados do espaço destinado as bagagens parecem substancialmente maiores que os 415 L do suve de seis meses atrás. E olha que o nosso antigo Jetta era ainda maior…510 L
O espaço interno, bem, nem preciso dizer. A um custo de 30 cm a mais de comprimento em relação ao suve, o sedã da vez ofereceu um espaço bastante grande para o passageiro de trás, ainda mais lembrando que um deles tinha 1,85 m de altura. E na largura, a sensação de amplitude, inclusive para o terceiro ocupante do banco traseiro, a um preço de apenas 0,5 cm a mais em relação ao suve.
Na estrada e na cidade, os pouco mais de 140 cv com álcool tracionam com muito mais vigor os quase 1.300 kg do sedã da vez, se comparado efeito dos 160 cv arrastando os 1.340kg do duve. E não adianta culpar o câmbio, pois em ambos o CVT trabalha brilhantemente.
E como o CVT é legal! Muito mais divertido que o câmbio automático epicíclico, mais conhecido por “tradicional”. Você acelerar na saída do pedágio, jogar 2 mil rpm e manter o giro da saída até os 110 km/h dá uma sensação de motor de avião!
Para quem não sabe, em diversas aeronaves, quando a hélice é de velocidade constante, a rotação do motor permanece constante e o que varia é o passo da hélice. Quem leu a história que eu contei do Electra sabe que o motor girava a 13.820 rpm, reduzidos a 1.020 rpm no eixo da hélice, constantes da decolagem ao pouso, variando apenas o passo! No nosso caso terrestre, o divertido é pôr o motor a 2 mil rpm e deixar as polias antagônicas e variáveis fazerem o seu serviço.
Sobre isso, se os alemães sabem construir caixas de trocas manuais, definitivamente câmbio automático CVT é coisa de oriental. Que perfeição e robustez!
E mesmo com uma relação peso-potência ligeiramente desfavorável se comparado ao suve de seis meses atrás, os cavalos do sedã pareceram ser bem mais nutridos que os do suve. No “teste” que fiz, num aclive da rua Fradique Coutinho, em São Paulo, não passei vergonha. E na estrada, além do comportamento dinâmico muito superior, o coeficiente de resistência aerodinâmica fez e faz toda diferença nos números de consumo, sendo que obtive valores próximos a 12 km/L com E85 (álcool com 20% da nossa gasolina fortemente alcoolizada), coisa que só tinha feito até hoje com Fiat (Uno) Mille Fire!
Para mim, acostumado predominantemente andar com “a caixa nas costas” (estou na terceira Saveiro — a primeira foi uma 1997 depois a 2004 e a atual, 2014, fora as duas Ford que tive, uma Ranger 2007 e uma F-1000 4×4), os 1.500 km de sedã foram uma agradável experiência, coisa que não tinha desde os idos de 1998 quando usava o Vectra 1994 do meu pai com certa frequência (saudades do Vectra A… Azul perolizado, que carro lindo!).
A última experiência me mostrou que quem comprar suve pensando que atenderá a família estará cometendo um equívoco. Além do maior consumo de combustível (ok, sei que é uma conversa chata, mas combustível pesa no orçamento familiar), o espaço interno muitas vezes é menor, bem como a capacidade do porta-malas. De grande, o preço!
Por isso, antes de se aventurar num suve, fica um palpite: entre num sedã médio. Se ainda assim você ficar com o suve, a escolha será mais emocional do que racional.
DA