Viajar com o Nivus até o litoral norte paulista, pelo manjado trajeto que sempre acrescenta por volta de 500 km ao hodômetro dos carros avaliados, trouxe uma carga de conhecimento relevante para este primeiro Teste de 30 Dias de 2021.
O novo Volkswagen causou boa impressão desde os preparativos, ao carregar o porta-malas. Apesar do desnível acentuado entre a “boca” e o assoalho, que obriga a erguer a bagagem de modo significativo na carga ou descarga, a capacidade se revelou compatível com as necessidades da família, três adultos mais cão de pequeno porte.
As dimensões e formato deste porta-malas do Nivus são mais que satisfatórias, com paredes laterais uniformes, sem protuberâncias. Altura, largura e profundidade se mostraram compatíveis com o encaixe de malas e caixas de tamanho padrão. Apesar de ser totalmente revestido de carpete, a percepção de qualidade deste revestimento não é lá essas coisas, especialmente o do assoalho que cobre o estepe, uma chapa de fibra revestida de forração fininha, que não aparenta grande resistência. Lembrei do Polo e o sistema que possibilitava o posicionamento mais elevado do piso do porta-malas, o que rouba espaço, mas é útil no dia a dia, deixando a eventual compra do supermercado ou o que for mais à mão. Faltam também ganchos para fixação da bagagem, mas no topo das torres dos amortecedores há o útil encaixe para sacolas.
Porta-malas cheio, notei que a traseira não arriou, e esta atitude das suspensões do Nivus se manteve mesmo com os humanos a bordo o que, diga-se, é ponto positivo. Não foi, obviamente, uma condição de carga plena: apesar de lotado, não carreguei sacos de cimento, mas com este mesmo padrão de carga observei a suspensão traseira de outros carros desta mesma categoria ceder além do que considero razoável, com evidente prejuízo da dirigibilidade.
Na partida, em um dia no qual o termômetro do painel esteve sempre na casa dos 30 ºC ou até mesmo acima disso, o interior do Nivus estava um forno por ter passado mais de meia hora estacionado ao sol do meio-dia. Vidros abertos — os das portas traseiras abrem só 2/3 — rodei alguns minutos para que o bafo desse lugar a um ar menos quente para, na sequência, acionar o ar-condicionado. E então a esperada melhora no ambiente demorou, demorou, demorou…
Mesmo com velocidade máxima e acionada a recirculação, a capacidade de refrigerar convenientemente a cabine só me convenceu quando abandonei o para e anda urbano e ingressei na rodovia, mantendo ritmo em torno dos 100~110 km/h, quando pude reduzir a velocidade do ventilador da posição 4, a máxima, para a 3. Tentei a 2, mas naquele dia ela não foi capaz de manter a cabine fresca. Fiquei com a pulga atrás da orelha? Será que o sistema do Nivus é subimensionado ou trata-se de um problema da unidade de teste? 30 ºC é quente, mas no Brasil 40 ºC é bem possível em certas regiões. Teria a Volkswagen, com tanta experiência de Brasil, errado a mão? O que dirá sobre este tema Patric Cipriano, leitor do AE, dono de um Nivus igualzinho a este, e que acertadamente me corrigiu na semana passada alertando que troquei direita por esquerda falando da alavanca do câmbio?
Uma falta sentida, ao menos em parte desta viagem vespertina, foi a ausência de uma faixa escurecida no topo do para brisas. Por outro lado o conforto relacionado à ergonomia passou de ano com louvor, pois o assento e encosto do banco do motorista permitem amplas regulagens, assim como o volante possibilita ser movido em altura e distãncia. Nota de destaque é o painel, com legibilidade perfeita, e a possibilidade de, entre os instrumentos circulares principais, optar pela mais preciosa (para mim) das informações: a velocidade.
O Nivus, mesmo em versão base, vem equipado com controlador automático de velocidade e alerta de velocidade máxima, tanto um quanto outro comandados por teclas situadas no raio esquerdo do volante. Acionamento intuitivo, simples, que dispensa desviar a atenção da via, e indicado por luz-alerta no painel. Bom também existir a opção AUTO no botão de comando das luzes, situado na parte baixa do painel, à esquerda.
No decorrer das mais de oito horas passadas ao volante desta viagem com o Nivus, em nenhum momento senti estranheza ou insegurança para acionar comandos. Esta padronização é um ponto de honra da indústria teutônica que, infelizmente, nem sempre é seguida ou levada tão a sério por outros fabricantes. Neste aspecto, o dos comandos ao volante, a “caretice”, “falta de criatividade” ou de “falta de originalidade” é uma bênção, ponto a favor. Inventar moda no que diz respeito a acionamento de luzes, limpador de para-brisa e comandos de sistemas de climatização e das onipresentes telas multimídia é tiro no pé. Aliás, no caso do sistema multimídia, nesta versão Comfortline o Nivus vem com o sistema mais “pobrinho”, de tela menor, mas ainda assim razoavelmente completo e, principalmente, de fácil utilização. Tem botão liga-desliga, circular, com cara de botão liga-desliga, e tem teclas onde está escrito o que comandam. Que maravilha! No último teste, da Toyota Hilux, demorei 29 dos 30 dias para descobrir como registrar minha estação de rádio favorita…
No que diz respeito ao comportamento dinâmico, a boa impressão da primeira semana, quando praticamente só rodei na cidade, se confirmou em uso rodoviário plural, feito de estradas excelentes, boas e ruins, com retas, curvas subidas e descidas. Equilibrado, o Nivus é como o Polo: veste bem. Direção, câmbio, suspensões, motor e freios, nada destoa, nenhum destes “pontos cardeais” merece crítica. Porém, nesta altura do teste, tenho a apontar o bom acerto de suspensões como um ponto alto entre tantos pontos altos.
Já disse que o Nivus não arriou carregado, faltou dizer que mesmo nessa condição de quase carga plena, cruzando a 120 km/h ou um tico a mais que isso, o senti muito bem plantado ao solo, seguro, transmitindo tranquilidade seja pelo que sente quem está ao volante como para os passageiros, que em virtude do silêncio a bordo e ausência de vibrações viajam tranquilos. Desci a serra do mar (rodovia dos Tamoios) desfrutando de uma operação descida, o que permitiu o uso do câmbio em D, para propositalmente abusar dos freios, que não deram sinal de perda de eficiência por superaquecimento. Na volta, subindo, a ideia era estabelecer um ritmo animado, usando o câmbio em S, que sustenta rotações mais elevadas em cada marcha, e também usar a possibilidade de trocas de marcha pela alavanca. Porém, chuva com neblina e um trânsito mais carregado do que esperava adiaram este uso mais rápido do Nivus.
Quanto a consumo, na ida o já elogiado computador de bordo (que pode ser consultado tanto no painel quanto na tela do sistema multimídia) apontou para uma cifra de 12,8 km/l, fruto de uma condução no limite de velocidade legal. Na volta, a marca melhorou: 13,7 km/l, mesmo tendo que encarar a subida, o desnível de 800 metros entre praia e a capital paulista. Esta melhora no consumo se deveu ao ritmo bem mais tranquilo da viagem em função do mau tempo e trânsito.
Em nenhum momento houve chance de explorar o motor do Nivus a fundo, mas deu para perceber que o 1-litro turbo é, sim, plenamente coerente com as necessidades deste novo Volkswagen. Aquela pequena incerteza na resposta ao acelerador citado na 1ª semana, nesta utilização em estrada pouco se percebe, sendo as retomadas nas ultrapassagens consistentes. Fico devendo, portanto, o relato de uma tocada mais nervosa.
Chegando à metade deste 30 Dias, está claro que o Nivus é um carro bem nascido, que nesta versão de entrada oferece muito e atende plenamente às expectativas para um carro deste segmento e faixa de preço. Por hora, minha única ressalva é o ar-condicionado meio desanimado.
Na 3ª semana a previsão é uma acrescentar uma pequena viagem, com trechos de estrada de terra, e a troca do combustível, da gasolina para o álcool, que segundo a ficha técnica dará ao Nivus um substancial salto na potência máxima, de 116 cv para 128 cv. A conferir.
RA
Leia o relatório da 1ª semana
Volkswagen Nivus 200 TSI Comfortline
Dias: 14
Quilometragem total: 989 km
Distância na cidade: 515 km (89%)
Distância na estrada: 474 km (11%)
Consumo médio: 9,9 km/l
Melhor média (gasolina): 14,5 km/l
Pior média (gasolina): 8,5 km/l
Média horária: 29,8 km/h
Tempo ao volante: 33h13 minutos
FICHA TÉCNICA VW NIVUS 200 TSI COMFORTLINE | ||
MOTOR | ||
Designação | EA211 R3 TSI | |
Descrição | 3 cilindros em linha, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, 4 válvulas por cilindro, duplo comando de válvulas, correia dentada, variador de fase admissão e escapamento, atuação indireta por alavanca-dedo roletada com fulcrum hidráulico, aspiração forçada por turbocompressor com interresfriador, coletor de escapamento integrado ao cabeçote, injeção direta, gerenciamento Bosch MED, flex | |
Diâmetro x curso (mm) | 74,5 x 76,4 | |
Cilindrada (cm³) | 999 | |
Taxa de compressão (:1) | 10,5 | |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 116/128/5.500 | |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 20,4/2.000 a 3.500 | |
Comprimento da biela (mm) | 139 | |
Relação r/l | 0,274 | |
TRANSMISSÃO | ||
Câmbio | Transeixo dianteiro com câmbio automático epicíclico Aisin AQ250-6F de 6 marchas automáticas à frente e ré, conversor de torque com bloqueio e controle de neutro, tração dianteira | |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,459; 2ª2,508; 3ª 1,556; 4ª 1,142; 5ª 0,851; 6ª 0,672; ré 3,185 | |
Relações de diferencial (:1) | 3,502 | |
SUSPENSÃO | ||
Dianteira | Independente, McPherson, braço em “L” mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem | |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado | |
DIREÇÃO | ||
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida com motor na coluna de direção, indexada à velocidade | |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,9 | |
Relação de direção média (:1) | 14,1 | |
N° de voltas entre batentes | 2,8 | |
FREIOS | ||
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal, servoassistido a vácuo com bomba de vácuo auxiliar | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/276 | |
Traseiros (Ø mm) | Disco/230 | |
Controle | ABS, distribuição eletrônica das forças de frenagem e assistência à frenagem | |
RODAS E PNEUS | ||
Rodas | Liga de alumínio 6,5Jx16 | |
Pneus | 205/60R16H (Bridgestone Ecopia EP-190) | |
PESOS (kg) | ||
Em ordem de marcha | 1.199 | |
Carga útil | 451 | |
Peso máx. rebocável com/sem freio (kg) | 400 | |
CONSTRUÇÃO | ||
Tipo | Monobloco em aço, suve-cupê, 4-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro | |
AERODINÂMICA | ||
Coeficiente de arrasto (Cx) | n.d. | |
Área frontal (calculada, m²) | 2,10 | |
Área frontal corrigida (m²) | n.d. | |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | ||
Comprimento | 4.266 | |
Largura sem/com espelhos | 1.757/n.d. | |
Altura | 1.493 | |
Distância entre eixos | 2.566 | |
Bitola dianteira/traseira | 1.531/1.516 | |
Distância mínima do solo | 176 | |
CAPACIDADES (L) | ||
Porta-malas | 415 | |
Tanque de combustível | 52 | |
DESEMPENHO | ||
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 10,0 | |
Velocidade máxima (km/h,G/A, km/h) | 189 | |
CONSUMO INMETRO/PBEV | ||
Cidade (km/l, G/A) | 10,7/7,7 | |
Estrada (km/l) (G/A) | 13,2/9,4 | |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | ||
v/1000 em 6ª (km/h) | 50,8 | |
Rotação em 6ª a 120 km/h (rpm) | 2.360 | |
Rotação à vel. máxima em 5ª (rpm) | 4.710 | |
MANUTENÇÃO E GARANTIA | ||
Revisão/troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000/12 meses | |
Garantia total (tempo) | Três anos, 6 anos contra perfuração de chapa |