Como já contei aqui neste espaço, na minha família tem de tudo em termos de autoentusiasmo. E por família entenda-se minha família de sangue, aquela formal e propriamente dita, e minha família “estendida”, a do meu marido que me acolheu como se eu tivesse nascido dentro dela – seja para me dar carinho, seja para dar palpites ou broncas. Para o avô do meu marido eu era mais uma neta, assim como para os tios dele sou uma sobrinha. O mesmo no caso da minha família. Meu marido é tão sobrinho quanto eu. Certamente esse é um dos motivos pelos quais curtimos tanto estar juntos com as famílias e lamentamos tanto a falta delas, seja na pandemia seja quando a distância não nos permite tantas visitas quanto gostaríamos.
Claro que com tanta gente seria natural que houvesse de tudo. Desde meu famoso tio César, que gosta de carros, curte e com quem tive algumas aulas de direção há muito, muito tempo. Ou meu pai, que gostava muito de carro, embora não tivesse a habilidade nata do meu tio, mas gostava de mecânica ou, aliás, de qualquer coisa que envolvesse lógica ou Ciências Exatas. Meu avô materno tinha um dom natural para qualquer coisa mecânica. Consertava tudo num carro ou numa moto com meia dúzia de ferramentas e objetos que encontrasse por aí, bem no estilo McGyver. E isso que ele não havia passado, em termos de instrução formal, do que era o equivalente à oitava série (bem, isso quando eu estudei, hoje nem sei o que seria).
Já meu sogro tinha pavor de descer a serra entre São Paulo e o litoral e passava mal dois dias antes só de saber que teria que pegar o carro e andar míseros 60 quilômetros pela estrada – e geralmente quem dirigia era minha sogra, mas mesmo assim, ele passava mal e nem dormia. E sim, foi ele quem pediu socorro porque não conseguia engatar a marcha à ré do Passat, como já contei aqui. Já os primos tiraram carteira assim que fizeram 18 anos e até hoje não vivem sem carro. Os cunhados, mais ou menos. Se não entendem de carro, na prática também não ficam sem.
Algo que havia prometido contar e que por diversos motivos nunca contei foi o lado realmente autoentusiasta da família. Autoentusiasta, com inicial maiúscula, profissional, mesmo. Rodrigo, o primo do meu marido (de sangue, mesmo, filho da tia dele) foi casado com durante muitos anos com a Paty, a filha do José Carlos Pace, o famoso Moco (foto de abertura). Conto isso agora que eles já não estão mais juntos e que a Paty se casou de novo e tem um lindo casal de gêmeos — além do Rapahel, a quem considero meu sobrinho, por ser filho do meu primo.
Meu marido e eu fomos padrinhos de casamento do Rodrigo e da Paty e gostamos muitíssimo de ambos. Aliás, ainda tenho algum contato com ela, apesar de não estarmos mais na mesma família, mas antes esse contato era muitíssimo maior. Uma pessoa adorável, assim como a mãe, Elda, a viúva do Pace e o irmão, também chamado Rodrigo, que chegou a tentar a carreira nas pistas de kart.
Quando meus primos começaram a namorar, o Pace já havia falecido. Aliás, ele morreu um par de meses depois que cheguei ao Brasil e, claro, eu não cheguei a conhecê-lo. Mesmo os filhos eram pequenos e as raras histórias sobre ele que ouvi foram nos Natais em família, contadas pela Elda. Hoje penso que deveria ter perguntado mais. Quem sabe não telefono um dia destes e pergunto mais? Aliás, por que não? Sempre mantive muito respeito e até mesmo distância das pessoas/celebridades ou parentes de celebridades, mas penso que há um certo exagero da minha parte. Poderia perfeitamente, com educação, ver qual é o limite, até mesmo porque esse assunto nunca foi tabu – pelo contrário. Quando meu sobrinho fez cinco anos, o bolo dele foi um carro com o número que o avô usava e ele chegou a andar de kart durante um tempo, naquela idade. O Raphael participou e participa de algumas honrarias, como quando foi conhecer um carro estilizado em homenagem ao avô numa prova de Super Vee em Interlagos, em 2017.
Aliás, uma curiosidade em termos de aniversário. O Pace fazia aniversário no dia 6 de outubro, mesmo dia que seu neto Raphael, meu sobrinho. Sua esposa, sua filha e seu filho, os três (!) no dia 6 de maio. Dá para acreditar? Sempre achei isso um bônus, pois era muito fácil lembrar a data para telefonar e dar os parabéns – embora a ligação fosse, por óbvio, mais longa. Plim! Momento “acredite se quiser”. Mas juro que é verdade.
Anos atrás uma fabricante de autopeças lançou um livro sobre Pace e eu estive entre os convidados pela família para a noite de autógrafos – diga-se de passagem, fora pessoas do setor e os irmãos dos dois lados, éramos só meu marido e eu . Bela retrospectiva da carreira de um ótimo piloto que infelizmente, não teve tempo de mostrar seu talento. Sempre lamento que mesmo no quesito miniaturas haja tão poucas coisas sobre ele, o que só faz aumentar minha curiosidade.
Meu marido sempre foi fã do Pace, assim como do Emerson Fittipaldi e, mais tarde, de Nélson Piquet. Por mais uma incrível coincidência, meu sogro foi pediatra da Paty e do irmão dela, o Rodrigo. Mundo pequeno, não? Meu sogro era muito reservado em relação à profissão de uma forma geral e nunca comentou nada em casa – nem meu marido sabia disso. Só soubemos do fato quando começou o namoro entre ambos e em alguma reunião houve o encontro entre as duas famílias. Foi uma situação deveras estranha para todos nós, mas devido à idade já fazia tempo que as consultas médicas haviam cessado.
Também num aniversário meu uma pessoa de quem eu gostava muito (bem, ainda gosto, mas acabei perdendo contato com ele totalmente sem querer e ainda lamento isso), Marcos, o genro do Paulo Goulart, dono da Dacon, sobre quem já falei aqui também, me pediu para apresentá-lo à Paty. Ele contou que era adolescente e já namorava a depois esposa e um dia estava na casa do Paulo quando tocou a campainha. Ele estava jogando pingue-pongue e foi abrir a porta e, quem era? José Carlos Pace. Meu amigo ficou atônito, pois admirava o piloto profundamente. Adolescente sem noção, o Marcos disse para entrar e o convidou para jogar pingue-pongue enquanto o dono da casa não aparecia, e o Moco aceitou. “Eu joguei pingue-pongue com o seu pai!!!”, contava ele à Paty, superemocionado. Foi uma conversa linda de assistir, de pura emoção e admiração de um lado e de orgulho e humildade do outro.
Mudando de assunto: sei que Nélson Piquet tem diversos cachorros – uns ficam do lado de fora da casa e outros dentro. Entre os “externos”, alguns rodhesian ridgeback – minha raça favorita, mas, como digo, o cachorro que nunca terei. O bicho adora correr, eu detesto, entre outras coisas… Os seja, inviável para mim. E outros que ficam dentro. Dois deles são da raça maltês. Um se chama Niki Lauda, em homenagem a seu grande amigo e o outro Kimi, por causa de Kimi Räikönnen pois é branquinho, não late e fica sempre quieto. Perfeito, não?
NG