Recebi de meu amigo e editor-chefe do Autoentusiastas, Bob Sharp, uma inteligente consulta que espero poder lhe esclarecer, assim como aos nossos fieis leitores.
Eis a pergunta: O que você acha da mudança de sinal de vermelho para verde, ter uma fase amarela?
Confesso que nunca me preocupei com este detalhe que, segundo o Bob, traria maior fluidez ao tráfego, na medida em que evita o tempo perdido entre a mudança do semáforo para verde e a reação do motorista em andar com o seu veículo ao longo de uma via estrutural, por exemplo. Lembrei-me de que no Rio, nos idos dos anos 1930 e 1940, existia um sinal sonoro, igual ao que se usa no boxe para indicar o começo ou o término do round.
Como não me considero dono da verdade, lamentando a ausência neste mundo dos competentes colegas, também “Buchanistas”, Gerardo Penna Firme, Marcos Prado e Roberto Scaringella, com quem costumava trocar ideias, recorri ao único que resta, o engenheiro Paulo Cesar Ribeiro, professor dos cursos avançados do Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro), de engenharia de tráfego, segundo a Philips holandesa, “a ciência esquecida”.
Bingo! Ele tinha a resposta que coincidia com a minha maneira de ver, mas temia expressá-la sozinho. Contou-me que quando fez o curso de doutorado no assunto, engenharia de tráfego, na eterna Inglaterra, dirigiu em Londres durante a sua permanência por lá e tinha bem presente em sua lembrança a existência de um “flash” âmbar no final da “janela” vermelha anunciando a próxima mudança para verde.
Não satisfeito com esta valiosa informação, enviou-me um gráfico da comparação da curva do fluxo de saturação, comparado ao ciclo completo do semáforo, segundo o método Webster, utilizado na época em que por lá andou e que é utilizado até hoje.
Amparado por esta valiosa informação, consultei um dos meus “fieis amigos”, os livros técnicos, selecionado o “Traffic Control, Theory and Instrumentation”, de 1965, compilado por Thomas R. Horton, com várias opiniões técnicas de especialistas, valorizado com o prefácio de Henry Barnes, na época chefe de Trânsito da cidade de Nova York, cargo que exerceu por oito anos.
Eu procurava mais detalhes sobre a maneira e o motivo da utilização da janela “âmbar” quanto, principalmente, à segurança e, lá as encontrei.
Comecemos pela mudança da janela verde para a vermelha, quando sempre existe a janela âmbar, por três segundos, acesa concomitantemente com o final da janela verde, antes de se tornar vermelha.
Hoje existe o recurso, utilizado em alguns semáforos em algumas cidades, infelizmente, não obrigatória, em face da omissão do Contran, de existir sobre a luz verde uma contagem regressiva de 10 segundos anunciando o final da “janela” verde.
No momento em que acende a luz âmbar para o tráfego a quem ela é dirigida inicia-se o que se chama intervalo de três segundos, até a faixa de retenção, de “Zona de Dilema”. Ou seja, o motorista não sabe se dará tempo para ele passar ou não.
A contagem regressiva elimina esta dúvida, como também pintar as linhas divisórias das faixas de rolamento, próximas do semáforo, na cor amarela, delimitando esta zona, considerando o espaço a ser percorrido, na velocidade máxima permitida durante o tempo do sinal amarelo, normalmente três segundos, cabendo ao motorista avaliar a sua decisão. Se está na “Zona de Dilema” e trafega na velocidade máxima permitida ou maior, poderá passar.
Quanto ao “flash” de, no máximo, dois segundos, ao final do vermelho, poderá ser usado, tendo-se o cuidado de coordená-lo com a contagem regressiva do verde, com a qual concorre.
Será prudente pintar no solo em toda a área de conflito do cruzamento, com tinta amarela, um retângulo quadriculado, acompanhado de uma placa com o aviso: Só entre no retângulo (e ele é reproduzido) se puder sair.
Nos poucos locais aqui no Brasil, onde pintaram o retângulo, não colocaram o aviso, fato que praticamente inutiliza o efeito desejado da pintura no solo.
Acredito, ter esgotado o assunto, embora nada espere de modificação, repito, face à omissão do Contran que não realiza um Congresso Nacional de Trânsito há mais de uma década, ocasião em que os melhores técnicos do Brasil podem expressar suas opiniões sobre os problemas existentes do trânsito no seu aspecto mais amplo e debater as alterações necessárias a fim de atualizar o seu Código, que é datado de 1997.
CF