Os fabricantes seguem os desejos dos consumidores e é mais do que notório o desejo por veículos do tipo suve neste momento. Mesmo os mais compactos estão sendo convertidos para esse tipo de carroceria. E é justamente isso que fez a CAOA Chery levar o Tiggo 2 para uma academia de ginástica e apresentar o “bombado” Tiggo 3x. Este é o quinto suve apresentado pela marca sino-brasileira em três anos, e fica posicionado entre o Tiggo 2 e Tiggo 5x.

O novo modelo inaugura também novas designações PLUS e PRO de versões para a marca CAOA Chery no Brasil, nomenclatura que deve aparecer em outros modelos do fabricante. O Tiggo 3x chega ao mercado com preço promocional de lançamento por R$ 94.990 na versão PLUS e R$ 99.990 na versão PRO. A tabela cheia é R$ 100.990 e R$ 105.990, respectivamente.

A apresentação foi na região de São José dos Campos, SP, cidade vizinha a Jacareí onde o novo modelo está sendo fabricado, e foi possível dirigir o carro por estradas da região com diferentes tipos de pisos e topografia, incluindo pequeno trajeto urbano.

Se preferir assista primeiramente ao vídeo onde faço uma apresentação estática do veículo. As impressões ao dirigir e demais características técnicas são relatadas na sequência:

Motor: bom torque, potência aparece cedo

Os números de potência e torque de motor são sempre expressos nos valores máximos, e são obtidos em condições específicas de teste, com motor instalado em dinamômetros de bancada e borboleta de aceleração a 100% (totalmente aberta). Mas não é assim que o carro é conduzido nas condições normais de uso urbano ou rodoviário. Portanto, para espantar o possível efeito negativo de apresentar previamente o valor de torque e potência máximos, a equipe técnica da CAOA Chery decidiu “esconder” os números, e só os divulgou após o percurso de teste.

No trajeto de 60 quilômetros entre as cidades de São José dos Campos e São Francisco Xavier em pista sinuosa e com leve subida de serra, foi possível notar a força do motor e boa integração com o câmbio CVT que emula 9 marchas. A comutação para o modo Sport de condução permite o motor trabalhar em um regime mais elevado de rotação, e a resposta do pedal do acelerador é mais imediata, deixando o conjunto mais atuante. Com isso é possível fazer acelerações e retomadas de velocidade de maneira segura com o não tão leve veículo de 1.249 kg em ordem de marcha.

Ao chegar ao destino e abrir o capô do motor encontrei um três-cilindros 1,0, flex, turbocarregado com interresfriador ar/água integrado ao coletor de admissão e utiliza injeção no duto. Tem duplo comando de válvulas com variação de fase na admissão e escapamento, corrente. 4 válvulas por cilindro, e está acoplado ao câmbio CVT através de conversor de torque. Falta a cobertura plástica que aparece em fotos desse motor em veículos chineses, que daria melhor melhor visual.

O nível de ruído e vibração transmitido para o interior da cabine está dentro da média da categoria. Nota-se a preocupação dos engenheiros da CAOA Chery com esse aspecto de conforto, pois o coxim do lado direito do motor é do tipo hidráulico e a mangueira de admissão de ar foi revestida com material fonoabsorvente para diminuir o ruído de aspiração de ar, assim como o capô que também tem o isolante acústico.

A calibração do motor flex foi realizada por engenheiros brasileiros da BorgWarner (ex-Delphi), fornecedor do sistema de injeção, e da CAOA Chery, onde o conhecimento do combustível, do nosso mercado e das nossas preferências foram muito bem endereçados na calibração. Os valores de consumo homologados junto ao Inmetro são 11,2/7,8 km/l no ciclo urbano e 12,2/8,5 km/l, no rodoviário.

O novo motor entrega 98/102 cv a 5.500 rpm e 16,8/17,1 m·kgf a 2.000 rpm, o que se traduz em 0-100 km/h de 14,2 segundos e velocidade máxima de 175 km/h. São números inferiores a outros suves compactos 1,0 turbocarregados que já temos no mercado, mas na sensação geral de direção agrada, desde que um desempenho esportivo não esteja sendo esperado.

Dinâmica veicular

O conceito tradicional de suspensão McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira está adotado também neste modelo, e apresenta bom equilíbrio de movimentação entre os eixos, tornando o veiculo confortável e com rolagem limitada da carroceria em curvas. O que poderia ser melhorado é o nível de aspereza de rodagem transmitida para dentro da cabine. Pneus Michelin Primacy4 de medida 205/55R16V, montados em rodas de liga leve, equipavam o veículo avaliado.

Destaque positivo é a calibração do batente de extensão dos amortecedores dianteiros e traseiros. Ao transpor as lombadas em velocidade mais elevada não foi observado ruído de queda de roda. Mais uma vez as mãos dos experientes engenheiros que compõem o quadro da engenharia da CAOA Chery se vê presente.

O sistema de direção tem assistência elétrica com boa indexação à velocidade apresentando bom esforço e resposta em todas as faixas de velocidade. O que poderia ser melhorado é a definição de centro, deixando-o mais positivo, o que traria maior conforto para longas horas ao volante.

A frenagem em situações urbanas ou rodoviárias mostra o bom compromisso de força versus desaceleração do pedal, e os freios a disco nas quatro rodas, com ventilados na dianteira, não devem trazer surpresas de fading em utilizações mais severas. O sistema ABS que equipa o novo Tiggo 3x é do fornecedor Bosch e incorpora o controle estabilidade de última geração para veículos desse nível de desempenho. Além de incorporar o controle automático de descida, uma novidade para a categoria, que pode ser utilizado entre 10 km/h e 35 km/h, trazendo segurança para descidas íngremes com piso escorregadio.

Exterior renovado

A grande diferença é na dianteira, onde uma nova grade em novo formato apresenta a renovação do DNA. O mesmo conceito deve aparecer em breve nos outros suves da marca. Os faróis são em LED na versão PRO que ainda traz a luz de rodagem diurna, e halógenos na PLUS.

As dimensões externas principais são as mesmas do Tiggo 2, deixando claro a sua antecedência com 2.555 mm de entre-eixos e 4.200 mm de comprimento total.

Na traseira é possível identificar discretas mudanças de estilo das lanternas e do friso cromado que deu lugar a outra peça de tonalidade mais escura, mas no geral segue a linha do Tiggo 2, que segundo o fabricante não deve sair de linha. Será?

Interior modernizado

Se no exterior as linhas ainda lembram muito do Tiggo 2, no interior a renovação é bem mais completa e traz novidades como a central multimídia de 9” montada no centro do novo painel de instrumentos, traz tecnologia Android Auto e Apple CarPlay para espelhamento de celular via cabo USB. O sistema de som de quatro alto-falantes deixa a desejar em termos de qualidade sonora, mas a utilização de antena no para-brisa tem boa recepção de sinal.

O controle do sistema de ar-condicionado está posicionado no centro do console e tem funcionamento eletrônico, porém sem ajuste automático de temperatura, e está integrado à central multimídia que espelha os comandos por segundos, mas não permite a operação diretamente na tela tátil.

O volante de direção multifuncional conta com comandos do controle de velocidade de cruzeiro, sistema de som e telefonia, além da operação do computador de bordo. Com 370 mm de diâmetro, tem boa empunhadura e permite ótima visualização do quadro de instrumentos.

No quadro de instrumentos segue o grafismo no mesmo conceito de outros veículos da marca e fica estranho o conta-giros do lado direito em escala vertical anti-horária. A velocidade em formato digital é apresentada no centro com os dados do computador de bordo abaixo. Ao comutador entre o modo Eco/Sport o mostrador alterna entre as cores azul/vermelho, respectivamente. O computador de bordo tem o inconveniente de exigir a parada total do veículo para fazer a zeragem dos dados. Esta é outra característica que os engenheiros já estão trabalhando para solucionar, não só no Tiggo 3x, mas em toda linha que padece desse mal.

Enquanto alguns usuários podem reclamar do posicionamento dos comandos dos vidros na porta do motorista que exige recuar um pouco mais o braço para estaturas menores, a minha reclamação é pela indisponibilidade do sistema um-toque para abertura/fechamento em todas as janelas; um-toque só para o motorista. E enquanto outros podem reclamar do botão de ajuste de volume do rádio estar no console central, atrás da alavanca seletora, eu achei uma solução muito boa que dá facilidade a todos ocupantes de operar, quando necessário. Mas o que todos irão reclamar é o posicionamento do interruptor de modo de condução (Eco/Sport) que ficou no painel de instrumentos, próximo ao joelho esquerdo do motorista.

Espaço e conforto é equivalente aos demais suves dessa categoria com boa acomodação nos bancos dianteiros e posição de dirigir facilitada pelo ajuste de altura do volante e do banco. Na traseira há as limitações que esse tipo de veículo traz para três passageiros, mas se a opção for por dois ocupantes há espaço suficiente para cabeça, pés e pernas.

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Com relação a materiais de acabamento e desenho, a CAOA Chery traz um desenho bem elaborado nos painéis de porta dianteiro e traseiro que tem conceitos similares, sem empobrecer o traseiro como vemos em outros fabricantes. O mesmo acontecendo nos bancos dianteiros e traseiros. Apenas o carpete do assoalho aparenta material de qualidade inferior, o que poderia ser melhorado com a adoção de sobretapetes. Aliás, estes são essenciais para proteger o carpete contra o atrito dos calçados do motorista. Por outro lado, o porta-malas é totalmente revestido e o tapete removível do assoalho tem costura perimetral para melhor acabamento.

A seleção de materiais, combinação cores e alternância de texturas criaram um ambiente bem agradável para o interior do veículo que poderia ser melhorado se tivesse ainda a oferta de teto solar. Mas segundo o fabricante esse não é requisito do consumidor desse tipo de veículo. Será que não?

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Mercado

A CAOA Chery segue em sua política de fortalecer seu portfólio de suves ao apresentar o Tiggo 3x, e apesar de não declarar a descontinuidade do Tiggo 2, é bem possível que o próprio mercado venha a matá-lo, não pelo pela similaridade de preços, visto que o novo veículo chega bem acima da faixa do antigo, mas pelo maior nível de conteúdo que o novo carro traz, e pela novidade que agrada os consumidores locais.

O Tiggo 3x tem potencial para ser em breve o carro mais vendido da marca no Brasil, visto que a fábrica está dimensionada para produzir 900 carros/mês. Para diminuir a dependência da variação da taxa do dólar, já se trabalha em ritmo de nacionalização de componentes, utilizando assim parte do parque de fornecedores locais que tem capacidade ociosa. Com essa estratégia os produtos da CAOA Chery estão mudando a imagem de veículos chineses terem baixa qualidade e serem mal construídos, e passam a ocupar fatias do mercado deixadas por fabricantes mais tradicionais, com índices de qualidade muito próximos a outras marcas.

GB

(Atualizada em 03/06/21 às 11h55, alteração da informação do interresfriador)