A apresentação das novas pastilhas de freio TRW COTEC foi uma ótima oportunidade e excelente pretexto para juntamente com Bob Sharp, editor-chefe do Autoentusiastas, conversássemos com o engenheiro Tales Miranda, gerente sênior de desenvolvimento de produtos da ZF Aftermarket, detentora da marca TRW. Nessa conversa, utilizando os recursos online, pudemos conhecer um pouco mais sobre esse mundo intrigante e complexo que envolve um simples componente que é responsável pela segurança e vida de tantas pessoas, além de ser item crucial quando se trata de carros de corrida.
Ao trocar as pastilhas de freio é necessário ter atenção nas primeiras frenagens, é o chamado período verde, onde as pastilhas ainda não estão totalmente assentadas e não permitem o máximo atrito com o disco. Porém as pastilhas COTEC são fornecidas com cobertura superficial de silicato, composto constituído pelos elementos químicos silício (Si) e oxigênio (O), derivado do ácido salicílico, o que permite um maior coeficiente de atrito nas primeiras frenagens, compensando assim a falta de assentamento inicial.
O engenheiro Tales lembrou que o assentamento inicial com disco novo é relativamente curto devido à sua superfície de contato perfeita e que se a troca de pastilhas não for acompanhada de troca do disco ou pelo menos sua retífica, a superfície irregular exige quilometragem de assentamento maior.
Nos carros de corrida, muitos mecânicos colocam um lembrete no volante — um simples pedaço de papel onde se lê ‘pastilhas novas’ — quando o carro num treino, por exemplo, sai do boxe para a pista com pastilhas novas justamente para que o piloto não seja apanhado de surpresa com um freio menos eficiente nas primeiras voltas.
Recentemente apresentamos aqui no AE os perigos do fading das pastilhas de freio (vide aqui). Nesta conversa o engenheiro Tales demonstrou que o fading é o resultado de pequenos pontos vitrificados e endurecidos na superfície de contato da pastilha que aparecem após submeter a pastilha a altíssimas temperaturas. A grande quantidade de pontos vitrificados diminui a área total de atrito e consequentemente o coeficiente de atrito é reduzido, alongando assim a distância de parada do veículo. Mas esses pontos vitrificados têm pouca profundidade, portanto o próprio desgaste da pastilha já os elimina e a pastilha volta às suas características iniciais de atrito. No caso da pastilha COTEC, após recuperação do fading, a pastilha volta a ter o mesmo atrito inicial, demonstrado em um gráfico de resultado de teste de bancada, enquanto que marcas de segunda linha tendem a levar mais tempo para recuperação total, ou nunca recuperam.
Outra característica interessante é quanto ao desgaste, e pelo exposto fica claro que quanto maior a temperatura média de trabalho da pastilha, maior é o desgaste por quilômetro rodado. Dessa maneira, a utilização de discos de freio não ventilados, principalmente nas rodas dianteiras onde a carga de frenagem é maior, é um contribuidor para maior consumo de pastilha, daí o motivo de alguns fabricantes acabarem migrando para disco ventilado ao ver os péssimos resultados de campo quanto a troca de pastilhas de freio, bem como por eventuais reclamações de surgimento de fading muito rápido.
A utilização de película antirruído no dorso das pastilhas já é uma prática antiga e conhecida de todos fabricantes de material de atrito, porém alguns ainda vendem sem esse recurso, visando assim a redução de custo e sem pensar na satisfação dos clientes. Para minha surpresa, e também do engenheiro da TRW/ZF, descobrimos nessa conversa que o Bob Sharp gosta desse tipo de ruído, pois ele o interpreta como boa capacidade de frenagem. Deve haver mais pessoas que pensam da mesma maneira.
Outra prática, também antiga e nada recomendável é quebrar os cantos das pastilhas novas antes da instalação, com a crença que muitos profissionais de mecânica têm de que isso evita ruídos ao frear. Além de ter efeito inócuo nesse aspecto, reduz-se a área de atrito da pastilha.
Muitos veículos utilizam componentes de retenção nas pastilhas, sendo recomendável a substituição desses dispositivos juntamente com a troca da pastilha. Nesses casos a pastilha COTEC é fornecida com o kit de montagem específico, facilitando assim a vida de quem for fazer a substituição. E a espessura de material de atrito é similar às pastilhas originais, o que na teoria daria durabilidade similar na nova pastilha.
As pastilhas COTEC começam a ser fornecidas apenas para veículos de porte médio para cima, pois a estratégia comercial da TRW/ZF é sedimentar essa nova marca no mercado brasileiro, para posteriormente lançar para os veículos de entrada e de maior volume. E para isso optou por um segmento onde o preço da pastilha de freio, perante os demais itens de manutenção, é inexpressivo.
Mesmo com a pastilha de freio sendo um produto de custo baixo, e alta importância, os consumidores brasileiros ainda têm o hábito de comprar pelo menor preço, desprezando a própria segurança. Chegará o dia que o consumidor aprenderá a fazer uma análise racional levando em consideração fatores como segurança e desempenho para decidir pelo produto de melhor qualidade, eliminando do mercado os fabricantes que só entregam preço e esquecem da qualidade.
GB/BS
(Atualizada em 28/06/21 às 11h36, correção do nome comercial da pastilha, que é COTEC)