Elon Musk foi explicar para 200 dirigentes da Volkswagen como se faz carros elétricos. Não é segredo que os executivos-chefe da Tesla e do Grupo Volkswagen são amigos. Assim, Diess convidou, e Musk aceitou, participar do evento. Ambos são conhecidos por terem uma relação de concorrência e de proximidade, algo que neste setor é pouco habitual e muito menos assumido publicamente.
O propósito de Diess, de acordo com a Reuters, seria preparar os quadros do grupo para a transição elétrica, algo que no entender dele é um objetivo que fica seriamente ameaçado quando se perde tempo com burocracias. Herbert Diess, que administra o maior fabricante europeu de veículos, procurou passar a mensagem de que algo está mal quando a Tesla e os fabricantes chineses conseguem ser muito mais rápidos e eficientes em produzir veículos elétricos do que a tradicional Volkswagen. Simples e direto…
Diess voltou a tocar no assunto da possível perda de 30 mil postos de trabalho. Na sequência dessa forte mensagem, aconteceu o inesperado. Nesse encontro com os seus altos dirigentes, o convidado foi um concorrente que está construindo a badalada Gigafactory, gigantesca fábrica da Tesla em Grünheide, perto de Berlim.
A Volkswagen dias antes tinha se proposto a “Lutar contra Grünheide”, numa referência à chegada da Tesla em território alemão. Daí a surpresa por Elon Musk participar por videoconferência num encontro que, inicialmente, seria limitado aos dirigentes da Volkswagen.
Segundo o Handelsblatt, jornal de negócios alemão especializado em comércio e economia publicado em Düsseldorf desde 1946, na aparição Musk reconheceu a Volkswagen como um ícone (não sendo essa a primeira vez que o faz) e admitiu também que considera o conglomerado germânico o seu principal adversário. Algo que Diess, nas redes sociais, aproveitou para enfatizar, ao escrever que “ficava feliz por saber que até o nosso concorrente mais forte pensa que teremos sucesso na transição se conduzirmos a transformação com total empenho”. Jogada de mestre… Na verdade, de uma dupla de grandes mestres…
O objetivo de Diess, conforme ele próprio esclareceu nas redes sociais, foi tornar evidente que o momento é de tal forma exigente que não podem haver distrações nem hesitações. O gestor entende que a sua marca precisa ser mais rápida a decidir e mais ágil a executar.
E como exemplo deu o caso da Tesla, marca que não tem sofrido como as demais com a falta de semicondutores, porque é célere em encontrar alternativas. Segundo Diess, bastaram duas a três semanas para que os programadores do fabricante americano reescrevessem o software de forma a poderem substituir um microchip, que estava esgotado, por outro disponível. Simples, rápido e direto.
Na interação com Musk, Diess perguntou como que a Tesla conseguia ser mais ágil que a concorrência. E o chefe da Tesla, ainda de acordo com a Reuters, não fugiu à resposta. À questão “como é que vocês conseguem”, Musk respondeu nas entrelinhas com um “porque eu é que mando”. Musk explicou que o desempenho da Tesla depende muito do seu próprio estilo (peculiar, é verdade) enquanto gestor e, acima de tudo, porque é engenheiro. Duas características da sua liderança a que juntou ainda um faro apurado para tudo o que se relacione com cadeias de fornecedores, logística e produção.
Depois desta inédita troca de dicas entre rivais, ficou a promessa de que a Volkswagen vai passar por Grünheide. Isto porque uma das chaves para a Giga Berlim conseguir produzir um Tesla Model Y a cada 45 segundos passará pelo mega casting, processo de fundição de estruturas de alumínio por altas pressões. Solução que, ao que tudo indica, a Volkswagen está igualmente decidida a copiar e implementar nas suas futuras arquiteturas dedicadas aos veículos elétricos, na tentativa de otimizar a produção, ganhando tempo e dinheiro, que em regra geral é o principal desejo dos acionistas.
AB