Ao contrário de filmes como “Velozes e Furiosos”, que tem parte 1, 2, 3 e, por enquanto parou na 8 ou do bizarrices no título como “Meu primeiro amor” que teve um “Meu primeiro amor – parte 2” entre outros vários exemplos, esta série de pais e filhos pilotos chega aqui ao fim. Sei que algum nome ficou de fora e certamente lembrarei de outros depois, ou mesmo meus caros leitores me lembrarão, mas justamente para não incorrer no erro dos filmes que sequências demais, paro por aqui. Mas acredito que tenha contemplado os principais nomes, seja porque foram mais relevantes em temos de campeonatos ou pela originalidade, como é o caso da dupla Jacky e Vanina Ickx, a única mulher que encontrei que seguiu os passos do pai, que correu na F-1.
Bem, vamos, então, ao último capítulo desta sequência. Novamente, a ordem em que os nomes aparecem é aleatória.
Alain e Nicholas Prost (foto de abertura)
Estes nomes são até bem fáceis de lembrar quando se fala de pai e filho. Alain Prost foi quatro vezes campeão mundial de Fórmula 1 (1985, 1986, 1989 e 1993). Ele começou, adivinhem só, no kart, mas bem tarde para os padrões atuais: aos 14 anos e por acaso, durante umas férias em família. Começou a disputar categorias e passou para a Fórmula 3 em 1978.
Na Fórmula 1, categoria na qual ficou entre 1980 e 1993, Prost venceu 51 vezes — marca só superada em 2001 por Michael Schumacher. Disputou 199 grandes prêmios, o que significa que venceu 25% das vezes que largou, e subiu 106 vezes ao pódio (mais de 50% das vezes em que correu). Começou em 1980 na McLaren, aos 24 anos e já na estreia, no GP da Argentina, em Buenos Aires no autódromo Juan y Oscar Galvez, marcou pontos e um ano depois subiu ao pódio pela primeira vez, na mesma pista. A primeira de muitas vitórias aconteceu em 1981, GP da França, em Dijon-Prenois, já com a Renault antes de voltar para a McLaren, equipe com a qual ganhou três títulos e mais um pela Williams. Também teve uma passagem pela Ferrari, com a qual foi vice-campeão em 1990. Todos reconhecem em Alain Prost um estilo seguro e elegante de pilotar.
Nicolas Prost, francês também, nasceu em 1981 quando seu pai Alain já estava na Fórmula 1. Começou no automobilismo muito tarde, aos 22 anos, na Fórmula Campus França. Em 2006 foi para a Fórmula 3 espanhola, onde ganhou uma corrida e subiu seis vezes ao pódio já no seu primeiro ano na categoria. No ano seguinte, terminou o campeonato em terceiro lugar, com duas vitórias e seis pódios. Em 2008 foi disputar a Fórmula 3 europeia e venceu uma corrida e subiu sete vezes ao pódio. Entre 2007 e 2008 Nicholas disputou a A1 GP, e entre 2007 e 2012, as 24 Horas de Le Mans (terminou em quinto lugar em 2007). Entre 2012 e 2013, Nicholas disputou o Campeonato Mundial de Resistência da FIA. Venceu nove corridas nesses dois anos e ainda as quatro primeiras de 2014. Na temporada 2009-2010, Nicholas participou da categoria francesa Andros Trophy, disputada no gelo, na modalidade carros elétricos e ganhou o campeonato com seis vitórias e 18 pódios em 21 corridas. Repetiu o título na temporada 2010-2011. Em 2011-2012, junto com seu pai (que ganhou o campeonato na categoria principal), Nicholas ganhou o título de estreante na categoria principal.
Nicholas fez testes na Lotus em 2013 e deixou os dirigentes bem impressionados. No ano seguinte entrou para equipe e fez alguns testes, onde continuou até 2014 trabalhando no desenvolvimento dos carros. Anos depois de ter conseguido dois campeonatos com carros elétricos, Nicholas assinou contrato com a Renault para correr na Fórmula E. Em sua estreia, liderou a corrida até a última curva, quando se envolveu num acidente com Nick Heidfeld, a vitória ficando com o brasileiro Lucas di Grassi. Atualmente, corre na Andros Trophy Elite Pro Class.
Eddie Jr e Eddie Cheever III
Eddie Cheever nasceu nos Estados Unidos, mas foi criado na Itália. Participou de diversas categorias, como a Fórmula 1, a CART e a Indy Racing Legue. Cheever estreou na F-1 em 1978, aos 20 anos pela Hesketh, mas em várias provas nem conseguiu se classificar, em outras abandonou. Em 1980 foi para a equipe Osella, mas de um total de 10 corridas naquele ano terminou apenas uma. No ano seguinte foi para a Tyrrell e conseguiu marcar 10 pontos. Em 1982 assinou com a Ligier e subiu três vezes no pódio, embora tenha terminado o campeonato em 12º lugar. O melhor ano do piloto na Fórmula 1 foi 1983, quando correu com a Renault ao lado de Alain Prost. Cheever obteve quatro pódios e 22 pontos, mas no final do ano os dois titulares foram substituídos por Patrick Tambay, Derek Warwick e Philippe Streiff. Depois vieram a Alfa Romeo e a Haas, além de um intervalo na F-1 de quase um ano inteiro em 1986, quando Cheever disputou o Campeonato Mundial de Protótipos, até que em 1987 foi para a Arrows e chegou a obter um terceiro lugar no GP da Itália, mas o ano ficou marcado mais pelas desclassificações por irregularidades técnicas, como capacidade do tanque de combustível. Em 1989, o último pódio em sua cidade natal, Phoenix, e a despedida da F-1 no grande prêmio da Austrália. Em 1990 Cheever voltou à CART, onde tinha feito algumas corridas em 1986, desta vez pela Ganassi. Ficou até 1995 e esteve ao volante de carros da Turley, Menard, Dick Simon, King Racing e Foyt. Como havia acontecido na F-1, na CART não venceu nenhuma prova nem conquistou uma pole position. Em 1995 saiu da CART e no ano seguinte, com a criação da Indy Racing League, se transferiu para lá para correr pela Menard as primeiras corridas. Só em 1997 veio a primeira vitória, na etapa da Walt Disney. Depois criou o Team Cheever, onde acumulava as funções de piloto e dono de equipe, mas em 2002 deixou o volante e passou a correr só em ocasiões muito específicas, e se manteve apenas como dirigente de equipe, até o encerramento das atividades, em 2006. Hoje é comentarista de automobilismo.
Na família Cheever há ainda o irmão de Eddie, Ross, que disputou a Fórmula 3000 e algumas provas da CART; Richard Antinucci, sobrinho de Eddie que correu na Indy Pro Series e em algumas etapas da IndyCar em 2009 e o filho Eddie Jr.
Eddie Cheever III, ou Eddie Jr., nasceu em 1993 e tem dupla cidadania, italiana e americana, pois nasceu em Roma. Começou no kart aos 13 anos e fez carreira na Europa, como quase todos os pilotos, inicialmente na Fórmula Renault em 2009, foi para a recém-lançada Fórmula Abarth em 2010 e posteriormente para a Fórmula 3, onde foi vice-campeão das divisões europeia e italiana da categoria, em 2012. Em novembro daquele ano, chegou a testar um Ferrari de F-1 depois de vencer a F-3, mas não foi adiante na categoria. Em 2014 foi para a Nascar Whelen Euro Series onde fez uma pole position e venceu três provas e correu em outras categorias. Em 2016 foi disputar o Campeonato Italiano de Grã-Turismo. Em 2018 correu no Campeonato Mundial de Resistência da FIA e continuou fazendo provas dessa modalidade, onde está até hoje.
Jarno e Enzo Trulli
Jarno Trulli é um piloto italiano que correu na Fórmula 1 e foi campeão mundial de kart. Ele começou em 1997 na F-1, pela mão da equipe Minardi, mas antes do final da temporada foi para a Prost em substituição de Olivier Panis, que havia sofrido uma lesão. Ao conquistar o quarto lugar no GP da Alemanha, Trulli virou piloto titular e ficou por lá até 1992. Em 2000 foi para a Jordan, onde só obteve 6 pontos. Os resultados foram um pouco melhores no ano seguinte e em 2002 foi contratado pela Renault, onde correu ao lado de Jenson Button e depois de Fernando Alonso. Depois de alguns pódios e algumas pole positions, em 2004, ainda durante a temporada se desentendeu com Flavio Briatore e deixou a Renault. De lá foi para a Toyota, onde ficou até o final de 2008. De lá partiu para a Lotus, onde encerrou sua carreira em 2011 depois de ser substituído pelo russo Vitaly Petrov.
Seu filho Enzo também nasceu na Itália, em 2005. Em 2021 venceu o Campeonato dos Emirados Árabes Unidos de Fórmula 4 depois de ter subido 13 vezes ao pódio num total de 19 corridas, ao mesmo tempo em que competia na Euroformula Open. Este ano foi para a equipe Carlin para disputar o campeonato de Fórmula 3 da FIA.
Niki e Mathias Lauda
Este é um dos meus pilotos preferidos de todos os tempos (depois de Piquet, Villeneuve e Hunt, mas perto destes três). Andreas Nikolaus Lauda nasceu na Áustria em 1949 e foi tricampeão mundial de Fórmula 1 em 1975, 1977 e 1984, além de vice-campeão em 1976. Em 177 corridas venceu 25 e subiu ao pódio 54 vezes. Correu nas equipes March, BRM, Ferrari, Brabham e McLaren. Lauda nasceu numa família abastada, mas teve que enfrentar a oposição da família à sua vocação e não teve nenhum apoio financeiro. Começou na Fórmula Vee e depois foi para a Fórmula 3. Em 1971 estreou na Fórmula 2 europeia depois de conseguir um empréstimo bancário para financiar sua carreira. A estreia na Fórmula 1 foi na March, em 1971 e em 1973 foi para a BRM, mas o sucesso só começou quando seu então colega na BRM, o suíço Clay Regazzoni, foi para a Ferrari. Reza a lenda que Enzo Ferrari teria perguntado ao italiano sobre o austríaco e este o teria elogiado muito. Foi o que bastou para o comendador contratá-lo também. Ao mesmo tempo em que Lauda vencia cada vez mais e marcava pontos, Regazzoni não brilhava, mesmo com o apoio da fanática torcida italiana, pois apesar de ser suíço era de uma localidade onde se falava italiano.
Claro que todo mundo lembra do terrível acidente sofrido em 1976 no GP da Alemanha, que provocou queimaduras seríssimas em todo o corpo e deixou sequelas para o resto da vida. Ele foi retirado do carro em chamas por outros três pilotos que pararam para socorrê-lo: o italiano Arturo Merzario (que posteriormente ganharia um relógio de ouro de Lauda em agradecimento), o inglês Guy Edwards e o austríaco Harald Ertl.
Sempre me impressionou a garra dele, a ponto de ganhar seus outros dois títulos depois deste marco em sua vida. Em 1979 saiu da F-1 para se dedicar a sua empresa de aviação, a Lauda Air (aviões eram outra de suas paixões e adorava pilotar as próprias aeronaves), mas em 1982 voltou às pistas, onde correu até 1985 e voltou a fundar uma empresa aérea, a Niki, encerrada em 2017. Em 2018, Lauda comprou outra empresa aérea, que chama de Laudamotion, comprada pela Ryanair no final do mesmo ano.
Depois de apenas seis semanas ausente das pistas, Lauda voltou a competir, ainda com severas sequelas do acidente. Na corrida do Japão, muito bem retratada no ótimo filme “Rush – No limite da Emoção” (2013), Lauda abandonou depois de apenas duas voltas por considerar por demais perigosas as condições da pista sob fortíssima chuva. Hunt disputava o campeonato mundial com Lauda e liderou quase toda a corrida até que furou um pneu que o fez perder muitas posições. Numa corrida incrível, Hunt foi ultrapassando todos e chegou em terceiro lugar, o que era suficiente para vencer o campeonato por apenas um ponto. A relação de Lauda com a equipe italiana ficou muito prejudicada depois do abandono no Japão, mas mesmo assim, o austríaco venceu o campeonato seguinte. Ele, que já havia dito que deixaria as pistas ao final de 1977, antecipou sua saída quando a Ferrari contratou Gille Villeneuve como terceiro piloto para correr no GP do Canadá. No ano seguinte, correu pela Brabham sem muito brilho, com duas vitórias e dois pódios Todas as outras provas terminaram em abandono.
Em 1982, Lauda retornou às pistas pela McLaren e em 1984 venceu seu terceiro campeonato mundial, com meio ponto de vantagem sobre seu companheiro de equipe, Alain Prost. Mas 1985 foi cruel e de 14 corridas Lauda não terminou 11 e o piloto se aposentou definitivamente das pistas depois da corrida da Austrália de 1985.
O enorme talento de Lauda para acertar carros lhe serviu de entrada como assessor técnico da Ferrari em 1993. Seu primeiro conselho foi: contratem Michael Schumacher. O alemão estreou na equipe em 1996 junto com o engenheiro Ross Brawn. Foi quando começou a incrível sequência de vitorias nos campeonatos de pilotos e de construtores da dupla Schumacher-Ferrari. Entre 2001 e 2002, Lauda dirigiu a Jaguar Racing, mas sem sucesso, e desde 2012 até sua morte, em 2019, Lauda foi assessor técnico e acionista (com 10%) da equipr Mercedes com os brilhantes resultados de campeonatos de pilotos e construtores, apoiados por Nico Rosberg e Lewis Hamilton. Mais uma curiosidade: Nélson Piquet e Niki Lauda eram grandes amigos e um de seus cachorrinhos leva o nome do piloto, em sua homenagem. Ah, Niki Lauda escreveu cinco livros sobre automobilismo.
Mathias Lauda, filho de Niki, nasceu em 1981 na mesma Áustria que seu pai. Ao contrário de quase todos os pilotos, ele não começou no kart, mas foi direto para a Fórmula Nissan 2000, onde estreou em 2002. Depois participou de corridas de Fórmula VW, alguma prova de Fórmula 3 espanhola, World Series Light e em 2004 foi para a Euro 2000 Series e, simultaneamente, para a Fórmula 3000. Em 2005 correu o campeonato da GP2 Series pela Coloni e a A1 Grand Prix. No ano seguinte, depois de não conseguir resultados expressivos, foi para a categoria Turismo e correu na DTM pela Mercedes, na Porsche SuperCup, nas 24 Horas de Le Mans… Em 2015 estreou pela Aston Martin no campeonato Mundial de Resistência da FIA, categoria em que se sagrou campeão em 2017. O empresário de Mathias é seu irmão Lukas.
Mudando de assunto: a corrida de Miami não foi tão emocionante, mas mostrou, mais uma vez, que os americanos sabem fazer show. Achei justo o resultado e a cada semana mudam minhas previsões para o domingo seguinte. Ferrari e Mercedes têm errado muito nas estratégias e a Red Bull parece um relógio suíço de tão acertada que está. Adorei ver o novato George Russell assumir a estratégia de troca de pneus diante da equipe, chamando a responsabilidade para si e, pelo mesmo motivo, não gostei de Hamilton perguntar para a equipe como deveria ser feita a troca. Claro que a equipe tem todos os dados, mas ainda acho que o “feeling” do piloto deve ser mais importante. Gosto quando quem está atrás do volante tem a palavra final. Agora, vamos esperar por Barcelona.
NG
Nota: Dados biográficos dos pilotos obtidos no Wikipédia.