Difícil falar de F-1 esta semana sem mencionar o acachapante desempenho de Max Verstappen no GP da Bélgica e o buraco cada vez maior que a Ferrari cava para si mesma. Para quem vivia um clima de já-ganhou passadas as três primeiras etapas da temporada, 10 GPs mais tarde a situação é vexaminosa, muito aquém do que se espera da mais tradicional equipe da categoria. Não bastasse esse quadro desolador, dois outros pontos sobressaem: o desempenho cada vez mais brando de Charles Leclerc e o fato de que o vice-campeonato de construtores já é algo que pode cair no colo da Mercedes.
Um dos mais clássicos circuitos do mundo, Spa-Francorchamps é longo, veloz e brinda seus visitantes com um clima diverso em cada extremo de seus 7.004 metros. Não bastasse a variedade de curvas de baixa, média e alta velocidade, aclives e declives, a instabilidade climática contribui para tornar mais difícil o caminho para obter o melhor acerto. Nada disso, no entanto atrapalhou o desempenho da Red Bull: Verstappen foi o mais rápido dos treinos e na corrida — volta mais rápida incluída —, e o time fez dobradinha. O segundo lugar de Sérgio Perez, combinado ao sexto lugar de Charles Leclerc colocou o mexicano na vice-liderança do campeonato, cinco pontos à frente do monegasco. Uma vez garantido para Verstappen Pérez poderá receber mais atenção da equipe e licença para vencer corridas, algo impensável por enquanto.
A péssima fase da Ferrari também indica que Carlos Sainz poderá terminar a temporada com mais pontos que Charles Leclerc, repetindo o resultado de 2021. Não se pode dizer que o primeiro piloto do time desaprendeu a andar rápido, mas é notório que o espanhol parece mais apto a ignorar a pressão que recai sobre a Scuderia. O monegasco marcou 16 pontos nas últimas três etapas, contra 38 do seu companheiro de equipe. Nesse ritmo a diferença que os separa, 15 pontos, pode desaparecer em breve.
Noutros cantos do paddock prossegue a saga de Oscar Piastri, tema que poderá ser resolvido amanhã (quinta), quando o Conselho de Reconhecimento de Contrato da Federação Internacional do Automóvel (FIA) deve emitir sua decisão sobre quem tem direitos sobre o piloto australiano. Esse grupo é formado por advogados especializados e funciona em Genebra (Suíça) de forma independente. Se inicialmente o assunto foi tratado com relativo desprezo pelas equipes, o tema ganhou importância e provocou reações de nomes. Christian Horner, da Red Bull, comentou o assunto em entrevista à Sky Sports:
“Se a Renault ou a Alpine investiram na carreira (de Piastri), e porque você está investindo na juventude, você está investindo para o futuro e, obviamente, há que existir um elemento de lealdade nesse processo.”
Caso a Alpine seja considerada a detentora dos serviços do australiano, dificilmente ele estará nos carros do time em 2023. As opções mais viáveis seria exercer esse direito e não efetivá-lo como companheiro de Esteban Ocon ou vender seu passe por uma quantia estimada em torno de US$ 10 milhões. Caso a equipe comandada por Zak Brown seja declarada a detentora dos serviços de Piastri, ele será o companheiro de Lando Norris em 2023.
Tanto em uma ou outra conclusão, a carreira do jovem australiano já está marcada e afetará a relação que as equipes praticam com outros pilotos com potencial para chegar à F-1. Ironicamente, a McLaren vive um problema semelhante na F-Indy: ela anunciou a contratação do espanhol Alex Palou, que corre atualmente pela equipe Ganassi, que por seu lado alega ter direitos sobre o piloto para a temporada 2023. Para dar um tempero extra à uma receita que desandou, com o quinto lugar de Fernando Alonso e o sétimo de Esteban Ocon no GP da Bélgica, a Alpine conseguiu abrir 20 pontos de vantagem sobre a McLaren na tabela do Campeonato de Construtores.
Sobre outros novatos, cenário positivo para o chinês Guanyu Zhou, que deve ser confirmado para uma segunda temporada na equipe Alfa Romeo Sauber, e negativo para Mick Schumacher, cuja estadia na equipe Haas deve terminar no final do ano. A vaga é uma oportunidade interessante para o brasileiro Felipe Drugovich, que é o virtual campeão da F-2 desta temporada. Um dos seu rivais, Jack Doohan, é cotado para assumir a vaga na Alpine.
O resultado completo do GP da Bélgica você confere clicando aqui.
WG
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