O feito de Max Verstappen ter conquistado seu segundo título de campeão mundial da Fórmula 1 após vencer o GP do Japão, domingo, em Suzuka (foto de abertura), perdeu impacto nesta segunda-feira após a Federação Internacional do Automóvel (FIA) ter divulgado documento que compromete a equipe do piloto, a Red Bull Racing. De acordo com o comunicado de imprensa emitido na manhã de ontem (horário de Paris), a escuderia cometeu uma “infração menor”, algo equivalente a gastar até 5% a mais do que os US$ 140 milhões, valor máximo permitido para a temporada de 2022. Embora o valor exato desse ato não tenha sido definido, de acordo com equipes rivais e críticos especializados, as consequências podem chegar perto de um segundo por volta nas previsões mais exacerbadas. Uma lista relativamente longa de punições indica as possíveis punições que a Red Bull, que segue contestando a acusação, poderá sofrer.
O regulamento que estipula o que deve e o que não deve ser incluído no cálculo do teto de gastos é um documento de 56 páginas, no qual constam os valores específicos que podem ser excluídos do teto de gastos. Entre outros itens mencionados estão os salário dos pilotos, os três maiores salários da equipe, custos de eletricidade e gás, bônus diversos, benefícios aos empregados e atividades com carros de coleção. É possível enxergar formas de incluir nesses itens valores significativos que podem chegar a milhões de dólares.
O teto de gastos na categoria foi anunciado em 2019 por Ross Brawn, desde essa época o diretor técnico da F-1, e entrou em vigor em 2021, quando o teto estabelecido era de US$ 145 milhões. Este ano o teto foi reduzido para US$ 140 milhões e nova redução de US$ 5 milhões será exercida em 2023. Naquela ocasião, o engenheiro inglês foi claro ao descrever as causas, o ambiente e as consequências que o levaram a tomar tal medida:
“Antes de impor esse teto havia um acordo de cavalheiros sobre restrição de recursos, mas eu temo que não haja muitos cavalheiros no paddock. Esta decisão de impor limite de gastos tem dentes e se você fraudar o regulamento você vai perder seu campeonato. O acordo trará sérias consequências para quem cometer essa fraude.”
As consequências desde então definidas pela FIA para o caso de infração são amplas e vão desde uma admoestação pública, passa pela suspensão de participação em parte das competições, limitação na realização de testes e, por último, redução do teto de gastos no campeonato seguinte. Em caso de falta maior, ou seja, superior a 5% do teto em vigor, as penalidades incluem dedução de pontos conquistados pelo construtor (leia-se equipe), e piloto durante o campeonato em que a falta foi cometida, além de multas pecuniárias e/ou penalidades esportivas.
Muito além dessas punições o que está em jogo é a mensagem que a FIA vai emitir: é fato consumado entre os rivais da Red Bull e toda a comunidade da categoria que é necessário demonstrar que o crime não compensa. Exatamente por isso é que a Red Bull sofrerá consequências sérias caso não consiga comprovar sua inocência face a conclusão do documento da FIA.
Gary Anderson, projetista do Jordan 191 (um dos carros mais belos e eficientes da F-1 nos anos 1990), tem um amplo conhecimento sobre como funcionam as finanças de um time da categoria. Ao comentar que a Mercedes despediu 40 pessoas — 5% por cento do seu quadro de funcionários — para se enquadrar no teto de gastos, ele pondera que nesse número podem estar empregados que se aposentaram ou que foram para outros empregos. Em termos práticos, o engenheiro irlandês citou o que pode ser feito com US$ 1 milhão:
“Um bico dianteiro custa cerca de US$ 500 mil para ser projetado, construído e testado, sendo que o preço para produzir réplicas do modelo cai para US$ 100 mil. Isso significa que se você construir quatro bicos novos a cada GP, você estaria gastando quase aquela quantia.”
Anderson lembra também que os gastos extra-regulamento podem ser investidos em diversos estágios de desenvolvimento e gerar maior desempenho do seu equipamento, cada um deles passíveis de garantir uma redução de dois a três décimos de segundo por volta.
Ao comentar a nota emitida pela FIA o responsável pela equipe Red Bull, Christian Horner, demonstrou surpresa com a conclusão explicitada no documento. Ele adiantou que pretende usar todos os recursos disponíveis para provar que sua equipe não ultrapassou o teto de gastos:
“Notamos, com surpresa e desapontamento, a conclusão da FIA sobre “infrações menores aos regulamentos financeiros”. Nós apresentamos um relatório de gastos abaixo do limite estabelecido e, por isso precisamos revisar cuidadosamente o que a FIA encontrou pois acreditamos que os gastos relevantes estão abaixo do limite permitido. Apesar das conjectura e posicionamento de outros, existe um processo em curso sobre os regulamentos da FIA que devemos respeitar, ainda que consideremos todas as opções possíveis para nós.”
O resultado completo do GP do Japão você encontra aqui.
WG
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