No último dia 3 estava na casa de amigos, na praia, em Santos, minha amada, esperando a passagem do caminhão do Corpo de Bombeiros transportando o corpo do Pelé. Eu não fui à Vila Belmiro, onde vi Pelé marcar 8 gols contra o Botafogo de Ribeirão Preto (coitado do goleiro Machado, tomou mais três, foi 11 x 0, imaginem se não fosse bom arqueiro) e foi o melhor jogador em campo. Eu precisava dar ao que se chama de um “último adeus ao Rei”. Então fui para beira-mar.
Quando avistei o caminhão, duas pessoas vieram à minha lembrança. A primeira, minha amada mãe, Olinda, com quem ia aos jogos do Santos, maior time da história do futebol (é a minha opinião e, como sou eu quem está escrevendo este texto, é sim. E pronto!), desde meus 7 anos, quando voltei para Santos, depois de seis anos morando fora com meus pais. A outra, um querido colega de O Globo, Odair Pimentel (que já deve estar entrevistando Pelé), com quem trabalhei no início dos anos 80.
E por que me lembrei do sempre bem-humorado e contador de histórias, Odair Pimentel? Bem, porque um dia ele foi Pelé, na sua extensa vida de jornalista (ele passou pelo Diário da Noite, Folha da Tarde e Sucursal de O Globo/São Paulo), que era sempre convidado pela Santos FC para acompanhar o time nas suas excursões pelo mundo afora, encantando a todos, parando guerra, promovendo feriados e mostrando o melhor futebol de todos os tempos, que tinha o Rei do Futebol com a sua maravilhosa camisa 10, seus dribles e gols inesquecíveis. E ganhava muito dinheiro (nada comparado aos valores atuais). Um caso curioso e nunca esclarecido: parte deste dinheiro, US$ 60 mil, estava em uma maleta, que caiu do avião, não se sabe como. Histórias do futebol.
Bem, um dia conversando com a turma da Redação, Odair contou aquela que foi sua maior façanha no futebol: substituir o Pelé. Há quem diga que o Rei estava ameaçado e que ele o substituiu como forma de protegê-lo. Para nós ele contou que, quando o avião pousou no aeroporto de um país africano, que não lembro qual, uma multidão, “alucinada” tomou conta da pista.
— A gente não via o chão, de tanta gente que foi receber o Pelé — contou Odair.
— Quando ele viu aquilo se assustou — continuou Odair — e disse que não ia descer, sugerindo que Coutinho fosse. Este também se recusou, assim como aconteceu com outros jogadores negros do time.
— Daí eles olharam para mim e pediram que eu fosse.
Resolveu aceitar o desafio e ter o prazer de passar por Pelé, e foi vestindo a camisa 10 do Rei.
Só percebeu seu erro quando a porta do avião foi aberta e o povo delirou. Mas era tarde para recuar e desceu a escada — “muito assustado” — e colocado num carro conversível, com a polícia local distribuindo bordoadas — com enormes cassetetes — para todos os que tentavam invadir o veículo. E, ao olhar para trás, lá estava o verdadeiro Pelé, descendo tranquilamente a escada do avião e entrando no ônibus que levaria a delegação para o hotel.
Enquanto isso, o “falso” Pelé seguia assustado com as diversas tentativas da multidão de torcedores de agarrar o Rei e arrancar sua camisa.
Obs.: Acho que já contei essa história em um blog, há alguns anos. Não lembro direito, mas não poderia deixar de aproveitar a despedida do Rei Pelé, de falar da minha mãe, a maior torcedora do Santos FC que conheci,, para falar desta história que ouvi — ao vivo — do Odair Pimentel, na Redação de O Globo/Sucursal SP no Edifício Zarvos, na rua da Consolação esquina com avenida São Luís.
CL