“EU VOU COMPRAR UM!” — essa foi a exclamação do Roberto F., um engenheiro aposentado e apaixonado pelos carros da marca de Stuttgart/Zuffenhausen após me acompanhar no Carrera GTS 2022. Ele teve um 911 1974 (série G) por muitos anos e pela dificuldade em manter o sistema de injeção funcionando perfeitamente resolveu trocar pelo 911 1995 — série 993, a última com motor arrefecido a ar mas que já tem a suspensão dianteira McPherson com mola helicoidal em vez de barra de torção e a eficiente suspensão traseira multibraço “Weissach”). Somos amigos há muitos anos, e sei como é difícil tirar esse bólido da garagem, mas desta vez consegui convencê-lo. E parece que valeu a pena a experiência.
Uma hora ao redor dos dois 911 com um bom conhecedor da marca é um momento para aprender um pouco mais. História, estórias e engenharia automobilística foram os temas da conversa. E as semelhanças de características entre os dois carros é incrível e fica clara a filosofia da Porsche em manter tudo que é bom dos modelos passados e sempre trazer uma inovação a mais.
Exterior
A primeira comparação é nas inconfundíveis linhas dos dois modelos 911, apesar dos 27 anos que os separam. mesmo removendo os emblemas qualquer um saberia que são dois Porsches 911. Poderia errar o ano/versão/configuração, mas dificilmente a marca e modelo. O capô alongado ladeado pelos faróis ovalados é característica desse carro. O para-brisa bem inclinado e traseira cupê-esportiva, complementam a silhueta da carroceria.
O Carrera GTS tem vários painéis em alumínio, plástico e até compósito de fibra de carbono para diminuir o peso da carroceria, e aços mais nobres e de alta resistência são utilizados no monobloco para dar rigidez, contribuindo para melhor resultado nos testes de impacto, e consequentemente maior segurança aos ocupantes. Essa maior rigidez da carroceria é fundamental para a melhor dinâmica do veículo.
Para-choques envolventes e pintados na cor do carro é outra marca registrada dos 911. As rodas mostram a evolução do Carrera GTS com porca central única e pintura escurecida, o que é moda nos carros esportivos há alguns anos. Mas tanto o 1995 quanto o 2022 utilizam desenho de cinco elementos (raios simples ou duplos), o que na minha singela opinião deixa a roda muito mais bonita. E as grandes aberturas nas rodas permitem visualizar os freios a disco nas quatro rodas além de permitir melhor ventilação.
Na traseira aparece a maior diferença, ambos utilizam motor boxer de 6 cilindros contrapostos montados atrás do eixo traseiro, porém no Carrera GTS é possível ver apenas algumas partes do motor na análise técnica do elevador, enquanto no 1995 a tampa traseira abre e dá acesso ao motor, permitindo visualizar um pouco mais. Uma alegria para quem é autoentusiasta como nós.
Interior
Ao abrir a porta dos dois carros aparece outra similaridade do DNA 911, o quadro de instrumentos formado por cinco mostradores circulares com o conta-giros ao centro e em maior destaque. Os demais instrumentos são auxiliares, pois o que interessa mesmo é ver os giros do motor crescendo. E se no 1995 já subia rápido, no 2022 sobe muito mais rápido.
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O revestimento em couro dos bancos e demais painéis com material nobre já eram utilizados desde de antes de 1995, e a qualidade desses materiais faz com que o interior de ambos os veículos seja muito atraente. Os dois bancos traseiros seguem o mesmo conceito: é impossível acomodar um adulto ali. Talvez seja para a sogra ou sogro não pedir carona mesmo.
Enquanto o modelo 1995 traz volante de quatro raios e comando de troca de marchas no volante através de duas teclas bidirecionais posicionadas nos raios superiores, onde é possível em ambas subir ou descer marchas, o Carrera GTS traz a modernidade das borboletas atrás do volante (a direita sobe marchas e a esquerda as reduz). A seleção do modo manual é feita através de tecla no console central, junto à alavanca. No 911 1995 a alavanca ainda possui a função de troca manual para o câmbio Tiptronic (epicíclico) de quatro marchas.
No geral o acabamento de ambos modelos 911 é de nível superior para suas épocas. A suavidade ao toque e precisão de operação de todos os comandos é outro item que agrada e certamente encanta a quem possui um esportivo desses.
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Motor e câmbio
É nesse quesito que vem a maior diferença entre os dois modelos. O 911 1995 foi o último ano-modelo a utilizar o motor de arrefecimento a ar, sum 6-cilindros boxer de 3,6 litros e aspiração atmosférica que produz 272 cv a 6.100 rpm com torque de 34,7 m·kgf a 5.250 rpm, acoplado ao câmbio automático Tiptronic de quatro marchas.
O Carrera GTS tem motor arrefecido a líquido,, biturbo, e assim como em todos 911 (menos o RSR de motor traseiro-central), o motor está posicionado atrás do eixo traseiro. O 6-cilindros contrapostos e horizontais de 3 litros com 4 válvulas por cilindro, duplo comando de válvula por bancada com variação na admissão e escapamento, entrega 480 cv a 6.500 rpm e 58,1 m·kgf a apenas 2.300 rpm e se mantém até 5.000 rpm.
O câmbio robotizado PDK (iniciais, em alemão, de Porsche dupla-embreagem) tem 8 marchas e as duas embreagens trabalham em banho de óleo. São quatro modos de condução: Molhado, Normal, Sport e Sport Plus, além do modo Individual que pode ter configurados individualmente resposta do motor, do câmbio, da suspensão e do sistema de direção. É no modo Sport Plus que fica o sistema de controle de largada: pressionando-se forte o pedal do freio e o do acelerador a fundo simultaneamente ativa-se o sistema, e ao soltar o freio o carro acelera de 0-100 km/h em apenas 3,4 segundos. Decorridos 11,6 s o GTS já está a 200 km/h E pode seguir com aceleração estupenda até a velocidade máxima de 311 km/h. A tração é traseira e, com o peso do conjunto motriz nesse eixo, a tração é otimizada.
As trocas de marchas em modo manual podem ser feitas a qualquer momento através das borboletas atrás do volante, mas ao atingir a rotação de corte (7.500 rpm) ocorre a mudança, e após 10 segundos de inatividade de trocas manuais o modo automático volta. Porém, se o modo Manual estiver ativado não ocorre a troca de marcha e a rotação sobe até o corte — primeiro “sujo” para alertar e logo passa a limpo, e assim fica. O alerta é por razão de segurança, evitar que o motorista fique em apuros numa ultrapassagem, por exemplo, em que a velocidade para de crescer.
Se o objetivo é andar rápido num circuito, ainda acho que vale a pena utilizar o modo automático, pois ele sabe exatamente a hora de trocar a marcha em função da carga de pedal de acelerador, inclusive efetuar reduções com aceleração interina da mesma forma que no modo manual.
Somente após muito treino eu recomendaria o modo manual, e mesmo assim tenho dúvida se haverá alguma vantagem em termos de tempo de volta ou velocidade máxima. A Fórmula 1 foi para o modo automático e voltou para o manual por imposição de regulamento, ou seja, os engenheiros e pilotos confirmaram que seria melhor fazer tudo automaticamente. Aliás, o experiente piloto Ingo Hoffmann tem a mesma opinião, já contada aqui no AE.
Dinâmica
Com relação ao comportamento dinâmico dos dois Porsches 911 é difícil uma comparação honesta, pois o objetivo da avaliação lado a lado não era de fazer uma comparativo completo, mas apenas, impressões ao dirigi-los. Se considerarmos os 28 anos de idade do Porsche do meu amigo, garanto que não havia nada melhor que ele em 1995, pode ser que um Ferrari ou Lamborghini se assemelhassem, mas não eram melhores. E se olharmos os concorrentes de um 911 Carrera GTS nos dias de hoje, novamente, será difícil encontrar algum carro melhor. Podemos encontrar alguns equivalentes.
O Carrera GTS tem a vantagem de utilizar amortecedores com curva de amortecimento dinamicamente variável, fazendo o autoajuste de cargas em função das condições de piso. Em modos Sport e Sport Plus são ativadas curvas de cargas mais altas, melhorando sensivelmente o desempenho em curvas e permitindo transferir o máximo de potência ao solo, com o prejuízo para o conforto de rodagem associado.
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Os sistemas de suspensão dianteira utilizando o conceito McPherson e traseira multibraço é uma evolução que a Porsche vem trazendo em cada novo ano-modelo, sempre buscando melhor compromisso entre estabilidade em curvas e conforto de rodagem. Os pneus dianteiros 255/35R20 e traseiros 315/30R21 são outra evolução e vieram do 911 Turbo S já avaliado aqui. O 911 1995 utilizava 205/55R16 na dianteira e 245/45R16, na traseira, porém no carro do Roberto F. está com as rodas da versão Turbo 1996 e pneus dianteiros 225/40R18 e 285/35R18.
Assista ao vídeo da avaliação do 911 Carrera GTS, assim você estará colaborando para o crescimento do nosso canal. É através das visualizações no YouTube é que temos nosso trabalho reconhecido e monetizado, o que ajuda a evitar precisarmos recorrer a qualquer tipo de cobrança para acesso ao AE.
Conclusão
Assim como no 911 1995, o Carrera GTS não é recheado de infotenimento. Tem a central multimídia básica com espelhamento por cabo para Android Auto e Apple CarPlay, um sistema de som Bose de ótima qualidade, o sistema de ar-condicionado é de duas zonas, um luxo para uma cabine tão pequena e compacta.
Aparência de Porsche, desempenho de Porsche, prazer de dirigir de Porsche. O 911 Carrera GTS é aquele carro bom para ter na garagem para ser admirado e conduzido em situações e dias especiais, pois para o dia a dia é um carro muito nervoso e talvez só os mais entusiastas conseguiriam esquecer o desconforto e curtir o fun to drive que entrega.
Certamente o meu amigo Roberto não irá se arrepender se conseguir migrar do 1995 para o 2022, visto que seu carro pode valer até R$ 750 mil pela raridade e ótima conservação do veículo, enquanto o Carrera GTS tem preços a partir de R$ 920 mil. Só que a fila de espera é longa.
GB
(Atualizada em 27/2/23 às 12h50, correção da potência do motor do 911 1995 de 286 para 272 cv, conforme manual do proprietário)
(Atualizada em 27/2/23 às 12h50, atualização sobre as dimensões das rodas e pneus do 911 1995 avaliado)
FICHA TÉCNICA PORSCHE 911 CARRERA GTS 2022 | |
MOTOR | |
Tipo | H-6 arrefecido a líquido, traseiro longitudinal, carcaça e cabeçotes de alumínio, duplo comando por lado por corrente, 4 válvulas por cilindro atuadas diretamente por tucho-copo hidráulico, variador de fase na admissão e escapamento, dois levantamentos das válvulas de admissão, dois turbocarregadores contrarrotativos de geometria variável com interresfriadores, válvula de alívio de controle eletrônico, injeção direta, lubrificação por cárter seco e bomba de óleo de demanda controlada, filtro de material particulado, gasolina 98 RON (premium brasileiras) |
Diâmetro x curso (mm) | 91 x 76,44 |
Cilindrada (cm³) | 2.981 |
Taxa de compressão (:1) | 10,2 |
Potência máxima (cv/rpm) | 480 / 6.500 |
Corte de rotação | 7.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 58,1/2.300~5.000 |
Densidade de potência (cv/L) | 161 |
Densidade de torque (m·kgf/L) | 18,1 |
Pressão de turbocarregamento (bar) | 1,3 (relativa) |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Câmbio robotizado de duas embreagens em banho de óleo, volante de duas massas. 8 marchas à frente e uma à ré, tração traseira, bloqueio do diferencial com distribuição variável de torque, vetoração por torque |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,89; 2ª 3,17; 3ª 2,15; 4ª 1,56; 5ª 1,18; 6ª 0,94; 7ª 0,76; 8ª 0,61; ré 3,99 |
Relação final de diferencial (:1) | 3,12 |
CHASSI | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor de carga variável ativa e barra antirrolagem |
Traseira | Independente multibraço, mola helicoidal, amortecedor de carga variável ativa e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade, relação de direção variável e esterçamento das rodas traseiras |
Relação de direção (:1) | 15 |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 360 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11,2 |
FREIOS | |
Sistema de freios | Duplo circuito em paralelo, servo-freio eletromecânico, assistente a frenagem de emergência, freio de estacionamento eletromecânico |
Dianteiros (Ø mm) | Disco carbocerâmico ventilado e perfurado/408 pinça fixa de alumínio de 6 pistões |
Traseiros (Ø mm) | Disco carbocerâmico, ventilado e perfurado/380, pinça fixa de alumínio de 4 pistões |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio,9,5Jx20 diant.), 11,5Jx21 (tras.) |
Pneus | 255/35ZR20 (diant.) e 315/30ZR21 (tras.) |
Estepe | kit de reparo e bomba elétrica |
CONSTRUÇÃO | |
Arquitetura | Monobloco em aço com para-lamas, portas e tampas de alumínio, subchassi dianteiro e traseiro, cupê de 2 portas, 2+2 lugares |
Aerodinâmica (Cx) | 0,31 |
Área frontal (m²) | 2,07 |
Área fronta corrigida (m²) | 0,642 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.533 |
Largura sem/com espelhos | 1.852 /2.024 |
Altura | 1.301 |
Distância entre eixos | 2.450 |
Bitola dianteira/traseira | 1.596 / 1.567 |
CAPACIDADES E PESOS | |
Porta-malas (L) | Dianteiro, 132; traseiro (com encostos do banco traseiro rebatidos) 264, total 396 |
Tanque de combustível (L) | 64 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.545 |
Peso bruto admissível (kg) | 1.985 |
Carga útil (kg) | 440 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h) | 311 |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 3,4 |
Aceleração 0-160 km/h | 7,6 |
Aceleração 0-200 km/h (s) | 11,6 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (NEDC) | |
Cidade (km/l) | 7,5 |
Estrada (km/l) | 13,3 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 8ª (km/h) | 69,5 |
Rotação a 120 km/h em 8ª (rpm) | 1.725 |
Rotação à velocidade máxima em 6ª (rpm) | 6.900 |
Vel. nas marchas a 6.500 rpm (km/h) | 1ª 56; 2ª 87; 3ª 128; 4ª 177; 5ª 233; 6ª 293 7ª —; 8ª — |