Ele, Josias Silveira, ia pela sua revista, Oficina Mecânica. Eu, chicolelis pelo O Globo (Sucursal de São Paulo). Éramos muito amigos (éramos porque ele, tristemente, nos deixou) e sempre que um ia até uma dessas fábricas no ABC, para coletiva ou evento, um perguntava e o outro também ia. Quando coincidia, “viajávamos” juntos.
E para onde íamos? Ora, à todas as fábricas no ABC (podia ser a Ford, Mercedes-Benz, Scania, General Motors…) Muitas vezes, nosso destino era a fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, onde está até hoje, às margens da Via Anchieta (que liga a Capital ao Litoral). Íamos para nos encontrarmos com Mauro Forjaz, então gerente de Comunicação (título atual, mas não lembro do nome usado naquele começo dos anos 80), com Zenon Garrote Sierra, Linoel Dias e Evaristo (lamento, mas não lembro seu nome completo, mas era um grande parceiro). Todos sob o comando de Walter Nori, o diretor da área.
Na portaria da Anchieta, a “comandante” era uma senhora alemã, ainda com um forte sotaque e não muito simpática, apenas profissional. Rigidamente profissional. E usava um uniforme daqueles que caracterizavam os seguranças dos anos 80, casacos, de mangas compridas, com botões dourados, ombreiras, calças com a barra enfiada na bota e, claro, um bibico feminino, semelhante aos usados pelas suboficiais da Aeronáutica. Enfim, um completo uniforme de segurança. Tentem imaginar a figura da Segurança, pois não encontrei, em toda a internet, algo que pudesse representá-la (a foto de abertura é meramente ilustrativa).
Não lembro quem a irritou primeiro, se eu ou o Josias. Mas não vem ao caso. Acontece que na portaria tinha uma máquina fotográfica, que fazia fotos 2×2 de cada um dos visitantes, gravando cada foto em celulose.
Quando ela apontou a câmera para um de nós, esse alguém fez uma careta. Ela nada falou, mas ficou, nitidamente, furiosa. Mas nada disse. Daí,o outro da dupla fez o mesmo. Ela não aguentou e ameaçou (tentem imaginar uma senhora, alemã, com um baita sotaque) “se fizerem isso de novo vocês nunca mais ‘entra’ no Volkswagen” (nunca vou esquecer essa ameaça). Tenho que confessar que a gente fez isso em duas visitas. Daí, a “fúria” justificada da segurança alemã.
Achamos engraçado e subimos para o departamento de Imprensa da fábrica. Ao chegarmos, o gentil Mauro nos recebeu na sua sala, fechou a porta e avisou: “olha a segurança mandou avisar que se vocês fizerem essa brincadeira de novo, vocês vão ter problemas para entrar na fábrica e eu não poderei fazer nada”.
Nunca saberemos se ela e ele falavam sério. Mas, pelo sim, pelo não, eu e meu amigo Josias, nunca mais fizemos careta quando a alemã da portaria da VW, no apontava sua máquina. Mas, quando da nossa visita seguinte, deu para perceber seu primeiro sorriso, mas irônico, de alegria, quando nos viu. Afinal, ela vencera a “Batalha da Anchieta”.
CL
A coluna “Histórias & Estórias” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.