Ao longo de minha carreira um dos grandes benefícios que sempre valorizei e procurei aproveitar e disseminar foi o da ampliação do conhecimento. Para sermos verdadeiramente especializados em algum segmento é necessário estar sempre aprendendo, descobrindo coisas novas e se reciclando.
Uma das coisas que mais valorizei foi o meu relacionamento com profissionais que tinham mais domínio do que eu, aqueles profundos conhecedores de mecânica, física, da história do automobilismo e muito mais.
Entre esses experts destaco os engenheiros automobilísticos. Tive a oportunidade de me relacionar de maneira estreita com vários que literalmente ampliaram o meu conhecimento e me tornaram um profissional melhor, pois pude escrever sobre cada tema com um pouco mais de propriedade.
Entre esses profissionais destaco hoje o engenheiro Carlos Meccia, que durante 40 anos não somente ajudou a melhorar os automóveis como também disseminou seus conhecimentos e vivência para muitos dos jornalistas especializados que já militaram e ainda militam no setor.
No ano de 1996, a Ford iria promover a inauguração das modernas instalações da fábrica de São Bernardo do Campo para produzir o automóvel Fiesta e que seria equipado com o novo motor Zetec Rocam, nas versões 1,0 e 1,6, produzido na fábrica de Taubaté, SP. Além de um novo carro, a engenharia da Ford tinha de realçar as virtudes do novo motor, de oito válvulas num momento em que a moda eram os motores de 16 válvulas com teórica maior modernidade.
Eu, como gerente de comunicações da empresa, fui o responsável pelo estabelecimento de um plano de divulgação da fábrica, do novo automóvel e também dos novos motores que, teoricamente, já nasciam, para quem acredita em boatos e não tem conhecimento, com tecnologia superada
Em meu plano, de uma forma inédita, recomendava um programa diferente dos tradicionais, com pequenos grupos de jornalistas e para ser cumprido em dois dias de trabalho. Assim, a transmissão das informações das áreas da empresa envolvidas no projeto do novo automóvel seria melhor assimilada e debatida
Minha proposta previa um programa absolutamente técnico com informações de todas as caraterísticas do novo automóvel, com antecipação de seis meses do lançamento oficial, para que a imprensa especializada fosse corretamente informada sobre o que a Ford preparava para o mercado. Ou seja, o programa, em lugar do costumeiro segredo, demonstrava confiança nos profissionais de imprensa com uma inédita apresentação antecipada.
Inicialmente, a proposta foi rejeitada pela preocupação dos diretores em anunciar um novo veículo antes de seu tempo. Mas por sorte, o responsável pelo programa integral era o gerente de marketing da empresa, Rogélio Golfarb que, hoje, é o vice-presidente da Ford na América do Sul. Além de aprovar o programa, convenceu os diretores e me recomendou algumas mudanças estéticas no programa para melhor compreensão dos diretores. Ou seja, sugeriu dar um colorido ao programa.
Com a aprovação da diretoria, minha responsabilidade aumentou e, alguns dias depois, o Rogélio o apresentou de forma solene, ao vice-presidente mundial da Ford, que visitara o Brasil que também gostou, mas para garantir o seu rigoroso cumprimento, encarregou o presidente da Ford Brasil, Ivan Fonseca e Silva, para garantir a rigorosa realização das ações propostas.
O programa incluiu um teste comparativo com automóveis das mesmas categorias e capacidades cúbicas do motor do mercado brasileiro com os quais os jornalistas puderam fazer uma comparação que os entusiasmou com o superior desempenho do Fiesta nas duas versões de motor 1,0 e 1,6, pelos superiores níveis de torque e potência.
O novo motor da Ford demonstrou ser superior aos de carros concorrentes pela modernidade de concepção e pela resposta mais efetiva por possuir torque em rotações mais baixas e, também, pelo menor consumo de combustível por reagir com baixo nível de rotação do motor, enquanto os motores de 16 válvulas exigem maior rotação para as saídas em semáforos e após passar por lombadas.
Um dos objetivos do programa foi contar com a contribuição dos jornalistas sobre o desempenho global do automóvel e também do motor e receber sugestões de possíveis pontos que permitissem correções com tempo para serem corrigidas antes que fosse para o mercado.
Foi uma ação inédito no mercado brasileiro e que reconheceu a importância dos jornalistas que conhecem todos os carros pelas avaliações que realizam da maioria dos modelos existentes no País.
Carlos Meccia (fotos na matéria) foi designado pelo diretor de engenharia, Luc de Ferran, como o profissional responsável pelo programa de test-drive, que envolveu a apresentação de todas as informações técnicas do automóvel, características gerais envolvendo motor, câmbio, suspensão, sistema de freios, nível de conforto, segurança, economia e alcance.
O conhecimento e a disposição de Carlos Meccia para fornecer as informações entusiasmaram os jornalistas especializados a ponto de Roberto Nasser, um dos mais rigorosos profissionais de Imprensa do País, sugerir que Meccia passasse a publicar temas automobilísticos no site AUTOentusiastas, que reúne os mais experientes profissionais dessa importante atividade automobilística.
Com a sugestão de Nasser, por um longo período Carlos Meccia prestou outra contribuição para o setor automobilístico com a produção superior a 150 histórias que envolvem automóveis que podem ser curtidas no AUTOentusiastas bastando clicar aqui, verdadeiras aulas para quem aprecia automóveis.
Engenheiro mecânico formado na Faculdade de Engenharia Industrial em 1970, Carlos Meccia trabalhou no Departamento de Engenharia da Ford brasileira e sempre se mostrou como exemplo de profissional com os atributos de humildade, conhecimento e seriedade. Sem pose, exageros pessoais e exibições, ele transmitia as informações e o seu conhecimento com simplicidade e sempre entusiasmado.
Luiz Carlos Secco
*Luiz Carlos Secco é jornalista, trabalhou no Jornal de Tarde do Grupo O Estado de São Paulo antes de ingressar na Ford brasileira. Lá trabalhou muitos anos comandando as relações com a imprensa como gerente de comunicações, até passar automaticamente para a Autolatina, a holding que reuniu a Ford Brasil e a Volkswagen do Brasil em 1987. sempre na mesma área e cargo. Hoje ele tem e dirige a Secco Consultoria de Comunicação, onde trabalha com seu filho e sócio José Carlos. Partiu do próprio Secco esta matéria que foca o grande engenheiro Carlos Meccia, hoje com 77 anos.
AE/BS