A Bentley foi a primeira marca a impor domínio na disputa da 24 Horas de Le Mans. Nas oito primeiras edições da prova, a fabricante inglesa obteve cinco vitórias, sendo quatro consecutivas. Já na primeira edição o único Bentley inscrito surpreendeu ao fazer a volta mais rápida no circuito, a média de 106,3 km/h, e disputar a liderança da competição até sofrer uma pane seca. Mesmo assim chegou em quarto lugar.
A surpresa por ser uma marca praticamente desconhecida, que havia iniciado o projeto de seu primeiro modelo em 1919 e começando a entregar os primeiros pedidos somente em 1921, apenas dois anos antes de enfrentar o desafio de Le Mans. A ideia de participar da prova inaugural foi de John Duff, que havia inaugurado a primeira concessionária da marca em Londres e que também gostava de correr.
Ao saber da pretensão de Duff, o engenheiro Walter Owen Bentley não gostou da ideia. Para ele era um absurdo e os automóveis ainda não eram confiáveis para enfrentar uma competição de velocidade 24 horas seguidas. Mas Duff, não só convenceu Bentley, como também conseguiu que ele liberasse o piloto de testes da fábrica, Frank Clement, para formar a dupla no carro, conforme exigia o regulamento da competição.
O desempenho na primeira experiência animou a uma nova tentativa, para a edição de 1924. Novamente em parceria com Clement, Duff conseguiu vencer a prova com o mesmo modelo Bentley com motor de 4 cilindros em linha e 3 litros superando com uma volta de vantagem os dois carros da marca Lorraine-Dietrich, que tinham motor 6 em linha de 3,5 litros. O resultado animou W.O.Bentley a montar uma equipe oficial de competição.
Os resultados iniciais da equipe de fábrica, entretanto, não foram animadores e nas duas edições seguintes de Le Mans os três carros inscritos por Bentley não chegaram ao fim da prova. O aumento da cilindrada de 3 para 3,3 litros afetou a confiabilidade, enquanto a Lorraine-Dietrich foi a desforra vencendo as duas edições, em 1925 e 1926. Além disso, as contas da Bentley não fechavam e a equipe colaborava com isso.
Foi quando o milionário Woolf Barnato assumiu o controle acionário da empresa, no fim de 1926. Com dinheiro em caixa, W.O.Bentley passou a desenvolver novos motores. Mas a segunda vitória, em 1927, ainda foi com o modelo com motor 4 em linha de 3 litros, pilotado por Dudley Benjafield e Sammy Davis, que completaram 137 volta, 21 a mais que o segundo colocado um pequeno modelo Salmson de 1,1 litro.
Já em 1928, com o motor de 6 cilindros, de 4,5 litros e dotado de supercarregador, a disputa foi bem mais acirrada contra a marca americana Stutz, que chegou apenas uma volta atrás do Bentley pilotado pelo próprio Woolf Barnato e Bernard Rubin. No ano seguinte, nova vitória de Barnato em dupla com Henry Birkin, já com o novo modelo Speed Six com motor 6 em linha de 6,6 litros também supercarregado. Na última vitória da marca, em 1930, Barnato dividiu a pilotagem com Glen Kidston.
Os carros de Bentley se caracterizavam por grandes dimensões, com até 3.500 mm de entre-eixos, e pelos motores de baixa rotação, mas com elevada potência já em baixas rotações, que proporcionava ronco bem grave. Por isso, Ettore Bugatti que foi um dos concorrentes da marca inglesa e que tinha uma filosofia construtiva contrária, projetando modelos leves com motores de alta rotação, costumava dizer que: “Bentley fabricava os caminhões mais velozes do mundo”.
RM