Apesar de constar Land Rover no título desta matéria, o nome da marca criada há 75 anos mudou para JLR recentemente (nova denominação da Jaguar Land Rover). A fabricante inglesa possui um centro de testes e treinamento localizado em Eastnor, no centro da Inglaterra, que é utilizado para desenvolver e aprimorar a capacidade fora de estrada dos seus veículos. E nesse mesmo local qualquer cidadão do mundo, habilitado ou não, pode contratar um programa de treinamento e crescer sua confiança na condução e aprender como utilizar os recursos do Range Rover. Discovery e Defender — de agora em diante marcas da JLR e não mais modelos, juntamente com Jaguar.
Visitei este centro de treinamento a convite da JLR do Brasil durante viagem de férias com minha esposa ao Reino Unido em maio último. Já havia estado em outros parques de experimentação e teste 4×4, e em campo de provas com pistas preparadas para tal, mas geralmente são locais que diferem do que se encontra no centro de experiências da JLR.
Algumas trilhas foram abertas no meio da mata nativa da região do Castelo de Eastnor, outras trilhas são formadas pela própria natureza pelo escoamento de água, visto que essa região é muito úmida e mesmo sem chuvas de véspera havia trechos com mais de 500 mm de profundidade. O veículo utilizado foi o Discovery com motor 3-litros turbodiesel e câmbio automático, que apesar de não ter o generoso ângulo de entrada e de saída do Defender, ainda assim tem ótima capacidade para uso nesse tipo de terreno.
O treinamento é orientado por um instrutor especializado, e chama atenção a preocupação com a segurança. Antes de saímos do estacionamento ele fez a demonstração de segurança e nos ensinou a utilizar o radiocomunicador, pois caso aconteça algo com um treinando, é necessário que a base seja avisada. Mostrou também o recurso do GPS do veículo que permite enviar a localização utilizando o aplicativo “what3words”, facilitando assim a chegada de uma equipe de salvamento.
Saindo dos procedimentos de segurança e já entrando na primeira trilha, o veículo ainda é conduzido pelo instrutor para mostrar as primeiras dificuldades. Após 10 minutos o instrutor me passou o carro para percorrer o mesmo percurso, e com isso ele consegue avaliar a destreza do aluno e definir quais os graus de dificuldades que irá apresentar dali para a frente. Acredito que fui aprovado, mesmo com a dificuldade inicial de se posicionar na pista estando dirigindo do lado direito, ao bom estilo inglês.
Muitas das dicas que ele foi me passando eu já recebi do editor de fora de estrada do AE, Luís Fernando Carqueijo, em atividades que tivemos com alguns veículos de teste. Porém, os sistemas específicos do Discovery e como utilizá-lo é um algo a mais que se aprende nesse tipo de treinamento. É como ler o manual do proprietário, mas de uma forma interativa, pois além das instruções tem-se a oportunidade de experimentar e constatar que seguindo a instrução é mais fácil vencer os obstáculos.
Uma das primeiras experiencias foi trafegar com o carro inclinado lateralmente a mais de 25 graus, a primeira reação é esterçar para o lado de cima da inclinação com o medo de escorregar e bater nos barrancos. Sim, são verdadeiros barrancos de 50 cm até 1 metro de altura que ladeiam as estreitas trilhas. Mas nessa condição de esterço excessivo os pneus perdem sua capacidade de tracionar e devido essa perda momentânea o carro escorrega. Ao se manter o volante alinhando com aceleração lenta e constante o veículo segue seu curso, sem sustos e com boa tração.
Outro aprendizado foi que na ocorrência do escorregamento para baixo, o flanco lateral dos pneus pode colidir com alguma pedra ou galho que esteja no barranco e furar o pneu, ou até cortar a lateral, prejuízo que ninguém quer ter ao se aventurar pelas trilhas.
No momento seguinte o desafio foi vencer uma pequena colina com cerca de 30 graus de inclinação, ou 67%, e novamente o recurso de câmera frontal do veículo auxilia a enxergar o que há à frente, pois a elevação do capô impede qualquer visibilidade. A dica do instrutor é sempre que se deparar com um evento desse tipo, sendo local desconhecido, parar o carro, descer e ir a pé ver as condições do terreno, para depois acelerar para cima dele. Outra recomendação é não exagerar na aceleração, pois muitas vezes o devagar é mais rápido.
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Os eventos vão se sucedendo durante o trajeto de mais de três horas de condução sob o abrigo das árvores que mantêm o terreno úmido e em alguns pontos, alagados. No ponto de maior profundidade e extensão alagada a instrução é passar devagar para evitar a formação de ondas que no seu rebote pode dificultar a transposição. Além disso essa água, saindo de seu leito pode vir a contaminar o terreno mais abaixo, aparecendo aqui a preocupação ambiental pela equipe da JLR ao utilizar essa reserva natural.
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Outra característica dos veículos JLR é sua boa capacidade de imersão, chegando a 900 mm, e curiosamente aprendi que tecnicamente poderia ir até mais, porém dependendo da carga do veículo pode ocorrer a flutuação, visto que o carro é muito bem selado e acabaria se transformando em uma boia ou bote — um fato indesejável, pois o veículo perderia a capacidade de tração do pneu com o solo.
A propriedade utilizada não é totalmente de posse da JLR mas sim da família proprietária do castelo e que cede o espaço para uso com a compensação da conservação. Ainda nessa localidade é possível encontrar algumas pessoas acampando com seus trailers e motorhomes, mostrando que os carros da JLR são testados e experimentados em locais reais de uso dos apreciadores do mundo 4×4.
A trilha termina no alto da propriedade de onde é possível avistar o castelo, apreciar a fauna e a flora locais Fica também a certeza que para enfrentar terrenos acidentados não basta estar a bordo de um bom equipamento. É preciso ter o conhecimento dos recursos que oferece, saber utilizá-los corretamente e aperfeiçoar as habilidades individuais constantemente. O sistema All Terrain 2 do Discovery já oferece mais de 80% do que é necessário para um bom dia de trilha, os 20% restantes ficam por conta da habilidade do motorista.
Retornando do alto do morro encontra-se alguns desafios de descida em piso escorregadio, e novamente o recurso de controle de descida do veículo faz seu papel e passa segurança para o motorista. Basta ativar e deixar por conta do sistema eletrônico que aplica os freios seletivamente entre as rodas, evitando o escorregamento. Caso o motorista entenda que há possibilidade de aumentar a velocidade os botões de controle de velocidade de cruzeiro no volante são utilizados, aumentando ou diminuindo a velocidade desejada.
São nove Centros de Experiência da JLR espalhados pelo Reino Unido o que facilita a busca por esse tipo de atividade, e cada localidade tem programas específicos com diversos níveis de dificuldade e especialização. Os programas variam desde uma hora com dois motoristas até treinamentos personalizados para grupos de pessoas ou empresas. É uma atividade que vale a pena ser experimentada por quem gosta do mundo do fora de estrada e ainda não é um expert como nosso editor Luís Fernando Carqueijo.
GB
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