Como havia prometido na edição passada, sigo hoje com o fruto da minha pesquisa sobre quais são as normas que um piloto de F-1 deve seguir. E já aviso: há regras claras e óbvias e algumas que parecem mais folclore.
1) Companheiros de equipe não podem falar entre si durante as provas
Esta regra me fez pensar no que aconteceria se isto fosse possível em casos em que a equipe manda um piloto dar passagem para seu colega – como foi com Ayrton Senna e Gerhard Berger ou entre Felipe Massa e Fernando Alonso. Ou após uma das muitas batidas entre dois membros da mesma equipe. Mas é claro que isso, na prática, tem poucos efeitos, pois cada um fala com seu engenheiro e manda recados para o outro piloto. A vantagem é que os engenheiros conseguem filtrar as conversas e são muito menos viscerais do que os pilotos no calor do momento (foto de abertura)
2) Os pilotos são obrigados a frear com seu pé esquerdo
Bem, esta me custaria bastante já que tentei fazer isso várias vezes e não consegui. Fi-lo (essa ênclise eu tirei do fundo do baú) como forma de treinar dirigir com os dois pés. Quase me ejetei pelo para-brisa, não fosse o cinto de segurança. Tenho zero noção da pressão que devo fazer sobre o pedal quando freio com o pé esquerdo. Também não consigo fazer punta-tacco. Mas há motivos concretos para esta regra na F-1: o espaço no hatáculo é tão pequeno que simplesmente não há espaço para passar um pé para o outro pedal. De fato, os carros sequer têm um lugar para descansar o pé do lado esquerdo.
3) Esta é uma daquelas regras não escritas, mas que é bastante respeitada
Os pilotos costumam dirigir veículos da marca da equipe em sua vida privada:
Equipes geralmente cedem carros para uso pessoal (foto: oversteer.48.com)Não é algo obrigatório, mas não fazer isso seria mais ou menos como o presidente da Coca-Cola beber Pepsi em público. Convenhamos que não é algo que o departamento de Marketing aprovaria, não? Há casos de pilotos, como Lando Norris, que dirigem um McLaren de passeio (mas caríssimo, claro) em seus deslocamentos particulares, mas Kimi Räikkönen, quando estava na Ferrari, contou que tinha e dirigia um minivan Volvo em suas férias por causa da quantidade de coisas que precisava levar por causa de seus (então) dois filhos. Agora com três deve andar de bitrem…
4) Os pilotos devem se apresentar para testes aleatórios de drogas
Parece óbvio que ninguém deveria dirigir um carro a mais de 300 km/h sob o efeito de drogas, mas o fato é que isto consta das regras da categoria. Confesso que há anos não vejo nenhuma notícia de piloto que tenha sido flagrado drogado, embora não coloque minha mão no fogo por um James Hunt nos anos 1970… No caso dele, acredito que até poderia ter usado drogas nos intervalos das corridas, assim como quantidades enormes de bebida alcoólica, mas não me parece razoável achar que ele entrava na pista dopado. E a cada ano que passa, os pilotos de F-1 estão mais e mais preocupados com a boa saúde e a boa forma física.
5) Homens e mulheres podem competir juntos
Pessoalmente, acho que faz sentido, pois as diferenças físicas neste caso não são relevantes. Se as mulheres não conseguiram resultados significativos em suas participações na categoria não foi por misoginia ou diferenças físicas. Foi porque muitas delas eram boas ou muito boas, mas não o suficiente para ganhar um campeonato — assim como acontece com dezenas e pilotos homens todos os anos. Mas reconheço que faltam patrocinadores para muitas delas, assim como para tantos outros pilotos homens. É uma categoria duríssima, cruel mesmo.
6) Esta não é bem uma norma, está mais para um fato: pilotos podem comprar seu lugar numa equipe de F-1
Os chamados “pilotos pagantes” são esportistas que bancam a própria permanência numa equipe. Dos mais recentes, o exemplo mais corrente é o de Lance Stroll, pois o pai dele comprou parte da escuderia Aston Martin. Mas o fato é que eles podem fazer o que gostariam por um preço, mas isto não garante a permanência e muito menos os resultados. Foi assim com Nicholas Latifi, que perdeu seu lugar na Williams quando ela conseguiu se capitalizar e fazer frente a seus gastos sem necessidade de acolher um piloto pagante. Sem entrar na questão de se é justo ou não, é o que acontece.
7) Pilotos tem de lutar pelos seus bônus extrassalário
Assim como é na nossa vida corrente de assalariados em diversos setores, ou mais especialmente no caso de altos executivos, os pilotos têm de suar o capacete para aumentar seus salários. Atualmente, não é raro uma equipe estabelecer um salário para um piloto e bonificações extra por resultados, como vitória num corrida, obtenção da pole position, volta mais rápida e outros. Não é oficial e ninguém fala sobre isso, mas esses prêmios podem ser de US$ 25.000 por volta mais rápida a US$ 500.000 por uma vitória. Mas duvido que mesmo esta informação faça com que os fanáticos torcedores de Checo Pérez deixem de reclamar cada vez que Max Verstappen “rouba” a volta mais rápida do mexicano. Como se um piloto de F-1 não quisesse ter o máximo de pontos possíveis… é cada uma que parece duas.
8) Patrocínios são geralmente divididos com a equipe
Os pilotos podem ter patrocínios e apoios pessoais, independentemente dos patrocinadores da escuderia. Novamente esta não é uma regra escrita, mas é a praxe: parte desse dinheiro vai para a equipe. A questão é quanto vai. Quando Carlos Slim anunciou seu patrocínio a Sergio Pérez, divulgou-se extraoficialmente que a maior parte do dinheiro iria para o salário de “Checo”. Slim e sua Telmex patrocinam Checo há 19 anos e segundo foi dito anonimamente há dois anos, o valor do patrocínio menos o salário do mexicano deixaria no caixa da equipe somente US$ 3 milhões. Acho pouco provável que seja um valor tão baixo, mas a matemática da operação faz sentido do ponto de vista de um financista: a equipe faz um acordo com o piloto e então Slim decide quanto pagará de patrocínio. Como a escuderia já havia combinado um determinado salário para Pérez, Slim consegue aquilo que quer pelo mínimo do preço.
Mudando de assunto: Achei esta foto sensacional. Na década de 1950, não apenas os pilotos de corridas tinham coragem, mas também os fotógrafos e cinegrafistas,
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.