Reportagem da publicação Automobilwoche, especializada na indústria automobilística alemã, informa que a Volkswagen planeja encerrar a produção de automóveis na “Fábrica de Vidro”, como é conhecida a fábrica da marca em Dresden, na Saxônia, e que foi uma das realizações de Ferdinand Piëch (1937-2019), quando comandou o Grupo VW como presidente-executivo de 1993 a 2002.
Ainda, segundo a publicação alemã, a crise nas vendas de modelos elétricos da marca na Europa é um dos motivos da decisão, que a direção do Grupo não confirma, além de garantir que o acordo independente com os cerca de 300 empregados, até 2029, permanece inalterado, conforme detalhou ao ministro da Economia da Alemanha, Martin Dulig. Segundo o ministro, a empresa garantiu que os empregos não estão ameaçados.
A fábrica de Dresden, localizada na antiga Alemanha Oriental, projetada pelo arquiteto Gunter Henn, foi inaugurada em 2002 para ser um “cartão de visitas” da marca e vitrine na montagem do VW Phaeton, o modelo de luxo com o qual Piëch pretendia que a VW concorresse com o BMW Série 7 e Mercedes-Benz Classe S. Mas o fracasso comercial do modelo fez com que a fábrica sempre tivesse produção ociosa.
O nome original em alemão: “Brillene Manufaktur”, que significa fábrica de vidro, tem também significado de transparente, como referência tanto à transparência ótica, como em relação ao processo produtivo totalmente automatizado. As paredes da fábrica são quase todas de vidro e o piso revestido em madeira (bordo canadense). Não há chaminés, nem ruídos e nem risco de subprodutos tóxicos.
Na verdade, apenas a montagem final e pintura dos carros era feita em Dresden, já que o trabalho “sujo” e ruidoso, como a armação da carroceria e soldagem, ocorria na fábrica de Zwickau, na região do (rio) Mosel, enquanto a fundição e usinagem dos componentes mecânicos era feita em Wolfsburg. O ambiente acolhedor foi projetado para receber até 250 visitantes por dia. Além disso, foram plantadas 350 árvores no terreno.
A proposta era de que o cliente pudesse buscar seu carro diretamente na fábrica. Como Dresden fica, em média, cerca de duas horas em trem de alta velocidade das principais cidades alemãs, como Berlim, Frankfurt e Munique, o proprietário podia fazer um passeio com a família, visitar a fábrica, como se visita a cozinha de restaurante chique para ver como o carro era montado, além de almoçar em um restaurante cinco-estrelas.
Como a produção do Phaeton nunca alcançou o previsto, a capacidade ociosa também foi usada para produzir o Bentley Continental Flying Spur, nas unidades destinadas ao mercado europeu até 2006 e retomada em 2013. Com o fim da linha do Phaeton, em 2016, a VW decidiu transformar a fábrica para a montagem exclusivamente de modelos elétricos, que começou em 2017, com o modelo e-Golf e, a partir de 2021, com o hatchback elétrico ID.3.
Alterando a proposta original, todo tipo de visitante pode conhecer a fábrica e fazer um tour virtual por exposições relacionadas às tecnologias elétricas e híbridas da VW, além de testar os modelos elétricos da marca por 30 minutos. Como apenas 6.500 ID.3 foram fabricados em Dresden em 2022, parece que a VW está desistindo da proposta. Em maio, a fábrica alcançou a produção total de 150 mil veículos, em 20 anos de funcionamento.
RM