Coluna 5114 17.dez.2014 rnasser@autoentusiastas.com.br
Automobile Maggiora e Carrozzeria Viotti, italianas, fornecedoras da indústria automobilística, mostraram no Salão do Automóvel de Bolonha, Itália, veículo chamado Viotti Willys AW380 Berlinetta. Interpretação de carro brasileiro, o Willys Interlagos — versão melhorada do francês Alpine A-108. Local adequado, próximo a Modena onde estão míticos esportivos Ferrari e Maserati.
Numeral 380 não indica cilindrada ou potência, mas, curiosa e argentariamente, o preço: 380 mil euros — perto de R$ 1,2 milhão —, e apenas 110 unidades serão construídas. Fabricantes querem homenagear o modelo nacional, A-108, mas farão 110 unidades lembrando a versão francesa, sucessora da nacional.
Dados técnicos: motor boxer 6-cilindros, 3.800 cm³, biturbo e 610 cv — deve ser Porsche ou Subaru —, capaz de, por caixa com seis marchas, acelerar de zero a 100 km em 2,7 s e atingir velocidade final em 340 km/h. Freios em compósito de cerâmica, carroceria em compósito de fibra de carbono, suspensão McPherson frontal, traseira multibraço. Para parar, freios com discos frontais com diâmetro de 380 mm, pinças com seis pistões, e traseiros 360 mm e quatro pistões. Peso total 1.350 kg.
Em números um comparativo: no brasileiro Willys Interlagos, comprimento 3,78 m; largura 1,45 m; altura 1,14 m; peso 540 kg. No projeto italiano, respectivos 4,43 m; 1,94 m e 1,22 m, peso 1.350 kg. É outro bicho.
A justificativa do projeto é tipo capaz de inspirar o samba do crioulo doido histórico/mecânico. Cita, corretamente, as 822 unidades construídas pela criativa e ativa Willys-Overland do Brasil entre 1962 e 1966, e aí escorrega no restante, enfatizando a fama dos campeonatos mundiais de rali com os irmãos Fittipaldi, e Bird Clemente mais Luiz Pereira Bruno. Os Interlagos, assim como os pilotos brasileiros, nunca competiram em ralis externos. Ao contrário, eram carros de velocidade no Brasil. E o citado Bruno é Bueno.
Restam apenas 109 unidades. A primeira, exposta no salão, foi vendida ao Gruppo Rumo, russo representante nos Balcãs.
Negócio difícil
Os italianos viabilizaram a tentativa do designer brasileiro João Paulo Melo. Paulista, formado em desenho industrial pela Belas Artes de São Paulo, seu premiado trabalho de graduação foi a recriação do mesmo Willys Interlagos.
Batizado de Interlagos 2006, com desenhos coloridos e pequena maquete, Melo tem ido de Seca a Meca – aliás, tivesse negociado com algum oriental, possivelmente o projeto teria decolado. Ex-designer da Fiat, atualmente na Marcopolo de ônibus, ofereceu o projeto ao tricampeão Nélson Piquet, não interessado em diversificar negócios; buscou auxílio na Karmann-Ghia; e em fábrica de plástico de engenharia, em lento andar.
Não arrefece. Agora retoma contatos com a Renault: o conjunto moto propulsor do Fluence, motor 2-litros, turbo, transeixo de seis marchas, colocados sobre o eixo traseiro, tem tudo a ver com a interpretação original, pois utilizava o pequeno motor de 845 cm³, evoluído a partir da mesma unidade empregada nos Renault Dauphine e Gordini. A combinação baixo peso, aerodinâmica e motor forte tem tudo a ver com o projeto — e a renda nacional.
Para demonstrar a viabilidade da proposta propõe-se à construção de protótipo para aplicação esportiva, articulando o fornecimento mecânico pela Renault e o financiamento de empresas interessadas — valor ridículo ante a possibilidade: estimado em R$ 95 mil. Com o feedback gerado pelo veículo em si, pode-se imaginar a construção para categoria monomarca destinada a jovens talentos do automobilismo, o berço atualizado do já feito há meio século pelos berlinetas Willys Interlagos.
No Brasil o projeto se chama A-108 Berlineta. O nome Interlagos, por oportunidade negocial, foi registrado pela Fiat.
O projeto nacional não é, como o italiano, cópia borrada do veículo original, anabolizando as curvas, estilizando as bases dos faróis auxiliares, não existentes no modelo A-108, mas apenas no A-110. É muito superior em design e proposta, apesar das limitações nacionais para a mecânica no país dos motores 4-cilindros, e da pouca coragem para investimentos em projetos novos. Interessado em dar uma força? www.berlineta.com.br
Fundação social, o rentável negócio social da Volkswagen
Negócio interessante da Volkswagen, sua Fundação, não ganha dinheiro — só gasta. E pouco conhecida por quem consome seus veículos. Festeja 35 anos e apresenta soma invejável: beneficiou, apenas na última década, 1.374.630 alunos e 18 mil professores em 13 estados brasileiros.
A Fundação coordena os investimentos sociais da marca, oferecendo projetos de Desenvolvimento Social para comunidades de baixa renda. Ultrapassou os municípios e estados onde tem operação industrial, e abriu amplitude nacional. Na prática aplica, de forma voluntária, recursos privados para finalidade pública.
Seu leque de projetos tem base interna, com a instigação aos 18 mil funcionários a se envolver em voluntariado, e na criação de projetos, gerando legião de cidadãos de bem. Neste ano os voluntários indicaram 569 projetos de instituições em 23 estados brasileiros. Não se busca apenas repassar recursos, mas implantar projetos dentro da linha educacional e de desenvolvimento social, buscar parceiros, ONGs, para tornar as idéias factíveis e auto-financiáveis, explica Kelly Smaniotto, executiva nº. 1 da Fundação.
Os projetos cumprem o objetivo estratégico de Fortalecer a Sustentabilidade como Princípio de Gestão, explica Eduardo Barros, superintendente da Fundação e diretor jurídico da Volkswagen. Amplo leque com 10 projetos, destes sete educacionais. O ponto mais visível, ou audível, é o patrocínio ao Instituto Bacarelli, atendendo a mais de 1.400 crianças e jovens em programas sócio-culturais de formação musical artística e de excelência, instigando o desenvolvimento pessoal, criando uma vitrine para profissionalização em música. Um dos destaques é a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, surgida na enorme favela paulistana, tentando oferecer oportunidades ao público carente.
RODA-A-RODA
V – Análise do dr. Joseph-Fidelis Sehn, ex-diretor de recursos humanos da VW Brasil e atual presidente da VW Argentina, em português fluente e correto: mercado brasileiro é um V. Cairá mais um pouco, e chegará ao chão, e acelerará de volta. Em três anos, 2017, ultrapassará os resultados de 2013 — 3,6 M de veículos produzidos.
Telhado – A reformulação interna da fábrica VW de São Bernardo do Campo, SP, e a falta de investimentos para melhorar o Polo definiram o seu fim. Deambula pela beirada do telhado. Vida curta e inglória: foi o melhor dos Volkswagen construído aqui até a chegada do up!
Enfim – Janeiro a Chery iniciará distribuir o Celer, de produção iniciada em outubro na fábrica de Jacareí, SP. Instalação industrial quer fazer os novos Tiggo e QQ em 2016. Previsão, curiosa, custará acima do modelo importado, submetido à cara logística e pagamento de impostos de importação.
Pré – Boa notícia, Peugeot apresentou seu próximo modelo 2008 às revistas especializadas, parte da estratégia de lançamento. O 2008 é um SAV— Sport Activity Vehicle — sobre o 208, de invejáveis sensações para conduzir. Má, marcou início de comercialização para junho.
Início – Volkswagen está nos acertos finais para o início da montagem do sedã Jetta, ponto superior de sua gama no Brasil. Pelo simplório processo industrial — as carrocerias virão montadas e pintadas —, não pode misturá-lo na mesma cadeia de produção com os outros produtos construídos integralmente aqui.
Herança – Assim, para não misturar intervenções industriais, será montado no antigo espaço onde se processava a Kombi. A Velha Senhora (1957-2013), tinha manufatura separada das linhas de produção por razão assemelhada: seu método de fabricação era tão antigo e com tantas intervenções manuais, não permitia sinergia com processo moderno. Na prática, se misturasse, atrapalhava.
Nova – Fiat inaugurará novas instalações na pernambucana Goiana. Apesar de ter começado como projeto com seu nome, com a incorporação da marca à FCA, o grande letreiro de identificação será Jeep.
Caminho – Escolha simples. O primeiro produto será o Renegade, com o emblema Jeep, apesar de desenvolvido sobre plataforma original Fiat. Mas os formuladores comerciais da FCA entendem, a marca de maior crescimento mundial será a Jeep.
Esforço – Fábrica faz e lança veículos, mas quem vende é a rede de distribuição. Sem esta, não há escoamento. Assim, para evitar um balcão diminuto em relação à boca do forno, a divisão da marca corre para viabilizar rede. E quer fazer festa importante, nomeando 150 no mesmo dia, em abril. Três vezes o feito da JAC Motors inaugurando meia centena no mesmo dia.
Foi – Nos EUA Chrysler não é mais Chrysler. A razão social foi alterada para FCA US LLC.FCA é a abreviatura da razão social da holding, Fiat Chrysler Automobiles; US para indicar a operação norte americana; LLC é o equivalente à formatação de sociedade limitada. O guarda-chuva empresarial da holding mantém o sobrenome do fundador Walter P. Chrysler. Operação no Brasil também mudará de nome. Será FCA Latam (de Latin America) Ltda.
Do ano – Veículo ainda não chegou ao Brasil, mas o motor 2.0, injetado e com turbo, do automóvel japonês Subaru WRX foi eleito um dos 10 melhore motores de 2015 pelo júri da respeitável publicação especializada estadunidense Ward’s.
Faz 268 cv e 35,7 m·kgf de torque entre 2.000 e 5.000 rpm. Novo, reforçado para resistir às grandes pressões internas, e turbo relocado para maior eficiência.
Começou – Finalmente estado do Espírito Santo volta a contar com atividade automobilística, após o fechamento da Revisa, fábrica dos ônibus Itapemirim. A Volare, empresa Marcopolo, concluiu primeira parte das obras de sua fábrica em São Mateus. Fará 800 unidades em 2015 a mercados doméstico e exportação.
Atual – Instalações industriais conversam com a natureza. Área plana, pé direito com 10 m, telhado e laterais duplos para reduzir calor, iluminação natural, captação de energia solar para lâmpadas de LEDs, de águas de chuva, armazenadas em lago com 10 M de litros.
Conseqüência – Resultado da desvalorização do real frente ao dolar, veículos para exportação baixaram de preço, permitindo à Fiat voltar a enviar ao México. Marca projeta em 2015 relação entre as moedas em R$ 2,80 x US$ 1.
Descendo – Produção de veículos no México sobe, no Brasil, desce. A inversão dos ponteiros fará do parceiro nortista o 7º. produtor mundial, Brasil caindo à 8ª. posição.
Despedida – Tomas Schmall, deixando a presidência da Volkswagen para assumir diretoria mundial de componentes e lugar no board da marca, deve ter-se surpreendido com elevado número de festas de despedidas e homenagens.
Brasilienische – Schmall, 51, será o mais jovem membro e, nacionalizado, declara será o primeiro brasileiro do board da VWAG, e em seu discurso de despedida em coquetel a amigos, confirmou a informação sabida por antecipação pelos leitores da Coluna: o motor com injeção direta e turbo será fabricado em São Carlos, SP.
Livro – Publicação interessante a quem gosta da indústria automobilística e, em especial, do Mercosul, é o livro “Falcon, un clásico hecho história”, por Gustavo Feder, editor de Autohistória. Conta a saga do Ford Falcon, com produção iniciada na Argentina logo após o lançamento nos EUA, feito por três décadas. Edição Auto-mobilia: http://www.auto-mobilia.com.ar, e info@auto-historia.com.ar.
Gente – Olivier Philippot, francês, 40, novo presidente da autopecista Magneti Marelli. OOOO Manterá gestão sul-americana da marca. Subcontinente representa 20% dos negócios da marca pertencente à Fiat. OOOO Manuela Hoehne, jornalista, ex-Aston Martin, mudança. OOOO Relações com a imprensa pela Bugatti. OOOO
Mercedes lidera em ônibus. Tecnologia ajuda.
Criticada implantação de faixas exclusivas para transporte coletivo em várias capitais buscando dar maior fluidez e velocidade ao trânsito, caminha para resultado maior: a escolha do ônibus como modal de transporte pelo usual motorista do automóvel de transporte individual.
Opção ocorre pelo deslocamento mais rápido sobre a faixa exclusiva, e pelo ganho de conforto de marcha continuadamente aplicado aos ônibus.
Eventual incremento da frota circulante de coletivos terá pequeno efeito nas emissões de poluentes. Um ganho silencioso vem-se processando nestes equipamentos. Desde 1998, quando a Mercedes-Benz pioneira e corajosamente desenvolveu no Brasil motor para alimentação por injeção de combustível através de comando eletrônico, em lugar da secular bomba mecânica e, mais recentemente, com a adoção da tecnologia BlueTech, as emissões poluentes foram cortadas drasticamente. A injeção eletrônica permitiu regrar melhor a alimentação do motor, oferecendo economia, redução de emissões, melhor comportamento, confiabilidade. Passo recente, novo degrau tecnológico, o motor enquadrado no regulamento do Proconve — Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores —, norma oficial de redução de emissões. Em sua regra 7, equivalente à européia Euro 5, oferece sensíveis ganhos no setor. Se comparado com as regulamentações anteriores, Proconve 4 = Euro 2, as reduções de emissões foram sensíveis: desceram de 100% para 13%. Base para a mudança, a disponibilidade do novo diesel S50 — contra o anterior S500.
A Mercedes lidera nas vendas de ônibus no país. Coerente. A marca criou o ônibus e fez a primeira aplicação de motor diesel em chassis para trabalho — caminhões e ônibus.
RN
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