Não é de hoje que as fábricas de automóveis decifraram que a paixão de aficionados pelo automobilismo ou por uma determinada marca pode render lucros cada vez maiores. A sétima edição da Porsche Rennsport Reunion (foto de abertura), realizada no início de outubro na Califórnia, reforçou esse viés com um tempero dos mais interessantes: quantidade de qualidade. Não é todo dia que se encontrar num paddock como o de Laguna Seca quase trinta exemplares dos modelos 956 e 962 ou descobrir pequenos protótipos equipados com o trem de força do carro alemão, algo que remete aos Heve, Polar e Sabre que as pistas brasileiras viveram de maneira semelhante no início dos anos 1970.
Não foram só carros que atraíram porschemaníacos à pista situada próxima da charmosa Carmel e em meio a uma região tão turística quanto agro. No entorno há inúmeras plantações de frutas, legumes e verduras, quase todas elas marcadas por enormes painéis que retratam os proprietários ou os trabalhadores locais, a grande maioria de origem mexicana. Aliás, o espanhol é amplamente falado por ali e não faltam trailers de comida ou picapes adornados com a bandeira da terra de Montezuma.
Quem teve a oportunidade de pagar ingressos que variavam de US$ 135 a US$ 2000 (algo entre R$ 775 e R$ 10.000) podiam cruzar com nomes como Jackie Oliver, Jack Ickx, Stefan Johansson e Vern Schuppan entre tantos outros lendários vencedores a bordo dos carros alemães. Vale lembrar que o australiano Schuppan foi um dos pilotos que participaram da Temporada Internacional BUA de F-Ford, que em 1970 foi disputada em cinco etapas nos autódromos de Curitiba, Fortaleza, Jacarepaguá (duas etapas) e Interlagos, este recém-reaberto após reforma..
Dos grandes carros de Stuttgart era possível ver de perto o F-1 dos anos 1960, uma incrível mostra de modelos 904, 906, 907, 908 e o monstruoso 917, todos eles em várias versões. O chassi 908/2 Spyder de número 021, aquele que pertenceu à icônica equipe Hollywood (atualmente propriedade do brasileiro Dener Pires) foi uma dessas atrações na categoria Werks Trophy.
Essa categoria era aberta a protótipos que iam do 906 até os imbatíveis 917. Este último, em sua versão mais elaborada aniquilou não só a concorrência como a própria existência da série Can-Am, campeonato disputado no Canadá e nos Estados Unidos e aberto a protótipos com motores de alta cilindrada e regulamento que celebrava o conceito de Força Livre.
Fora do paddock algumas áreas se destacavam, em especial o amplo estacionamento nas colinas locais, em piso arenoso e marcado por buracos cavados por animais roedores. Ali era possível ver exemplares únicos travestidos por pinturas icônicas ou exprimindo a criatividade de gosto duvidoso do proprietário(a)… Completam a lista a ampla área dedicada a motorhomes e barracas de clubes e a inevitável feirinha de fabricantes de peças de reposição e réplicas, restauradores e o onipresente et cetera.
Em termos de organização, porém, nem tudo refletia o padrão esperado para um evento na terra dos grandes eventos. Informações desconexas e desencontradas, eventos que eram anunciados para poucos, caso da apresentação do novo modelo de corrida GT3 R Rennsport. Nem mesmo a assessora de imprensa do circuito sabia dessa função, situação que deixou saudade do trabalho feito por organizadores brasileiros, como a Vicar. O carro está equipado com motor 4.2 de 620 cv e suas 77 unidades serão comercializadas, cada uma, por módicos € 951.000 (R$ 5,4 milhões), fora os opcionais e taxas locais.
WG