Depois de tantos anos escrevendo esta coluna, felizmente não preciso mais responder à clássica pergunta: mecânica de carros é coisa para mulheres? É, sim, desde que elas queiram — como, aliás, qualquer outro assunto. O bom, na opinião de pessoas como esta que vos escreve ou como a de muitos entre meus caros leitores, é que cada vez mais mulheres se interessam pelo assunto.
Prova disso foi o sucesso da quarta edição do “Ação Mulher” do Grupo Renault RPoint, realizado sábado 21 de outubro em São Paulo. Foi uma manhã inteira de atividades desenvolvidas especialmente para mulheres, mas que contaram com a participação de alguns maridos, levados por esposas que já haviam estado nas edições anteriores e queriam que eles se juntassem ao grupo e estas foram pela segunda vez.
Foram abordados diversos assuntos, basicamente, todos aqueles compreendidos pela primeira manutenção de qualquer carro e que são aqueles que mais dúvidas suscitam entre o público em geral, num total de quase 30 itens.
Foram tratadas questões entre itens mais teóricos e simples, como tipos de óleo de motor (as diferenças entre eles, suas características, seus usos específicos), fluidos em geral (como água para o radiador, qual deve ser utilizada e por quê), fluido de freio e até mesmo tipos de combustível.
As explicações incluíram desde respostas às dúvidas mais simples e frequentes e por que não se deve cair nas armadilhas mais frequentes montadas por frentistas em postos de combustível, como a de medir o nível do óleo com o motor quente. “Posso medir o nível de óleo com o motor quente?” recebeu um sonoro “não” e a explicação sobre os motivos. “Devo usar água desmineralizada no radiador?”, “Sim”, e por que, embora o bom senso ressalte que, numa emergência, no meio da estrada, por exemplo, seja admissível colocar água comum para evitar que o motor “ferva”, obviamente.
Até a observação e análise de pastilhas e discos de freio recebeu um tempo específico para ser explicado. Não apenas de um carro qualquer, mas do próprio veículo e foi feita a comparação com itens novos e usados bem como a avaliação exatamente de em quais condições estavam. Os testes foram feitos em veículos não apenas da Renault, nem sequer novos, mas de diversas marcas e anos de fabricação.
Foram dadas explicações básicas também sobre os indicadores dos painéis dos carros, as luzes indicativas de cada item e até mesmo sobre pressão de pneus. Um dos temas que mereceu especial menção foi a importância de se manter a suspensão e o alinhamento em ordem, além da explicação de o que são e por que é fundamental que estejam corretos – não apenas pelo desgaste de pneus e o consumo excessivo que podem provocar, mas por questões de segurança.
Os conselhos dados também foram simples e diretos, como “nunca abra o capô se o motor estiver sobreaquecendo e sair fumaça”, claro que já haviam sido dadas as explicações de como evitar que isto acontecesse… Também foi recomendado às participantes que pedissem às oficinas que lhes entregassem as peças substituídas, como garantia de que haviam sido realmente trocadas, mas lhes foi explicado como funciona a logística reversa de destinação de itens poluentes na RPoint, que faz a destinação correta de peças e componentes. E todos tiveram a oportunidade de experimentar um carro elétrico.
O público foi extremamente variado. Havia mulheres de 19 a 70 anos, com diversos graus de experiência atrás do volante e de todos os tipos de instrução e profissão — donas de casa, médicas, influenceadoras, vendedoras…
As dúvidas foram sanadas por três mecânicas mulheres da oficina da RPoint da Barra Funda, que tem apenas funcionárias femininas (sobre a qual eu contei neste espaço), mas com o reforço de alguns homens também.
“Desmistificamos a oficina mecânica”, contou Milene Sipas, diretora da RPoint e idealizadora da ação. “Nosso objetivo não é vender carros, mas aproximar os consumidores da marca e mostrar que estamos preparados para difundir o conhecimento e, claro, empoderar as mulheres”.
A RPoint já está trabalhando numa ação semelhante à Ação Mulher, dessa vez a ser realizada numa ou duas comunidades, especificamente Paraisópolis e Vila Clara, ambas em São Paulo. Milene sabe que não encontrará nesses encontros muitas mulheres donas de carro, mas mira num outro público: o de motoristas de aplicativo que utilizam carros de terceiros. “Nosso objetivo é levar conhecimentos básicos de manutenção veicular para o maior público feminino possível”. Assim como as quatro ações realizadas até hoje, as das comunidades serão totalmente sem custo para as participantes.
A forma mais segura de dirigir é sabendo como funciona um veículo e como ele deve ser mantido. Quando se conhece pelo menos o básico sobre como trabalha a suspensão, o que é um alinhamento correto ou quando um pneu deve ser substituído o guiar torna-se mais seguro para quem está atrás do volante e para quem está à sua volta. Tomara que iniciativad como esta se espalhem e que cada vez mais pessoas se interessem por saber mais sobre mecânica.
Mudando de assunto: Bem, não é segredo para ninguém minha admiração pelas estratégias traçadas pela genial Hanna Schmitz, da Red Bull. Já escrevi sobre ela neste espaço. Mais uma vez ela arrasou no lindo circuito de Austin ajudada, é claro, por um carro campeão e um piloto idem como o Max Verstappen. Não gostei das vaias dos mexicanos ao neerlandês (houve quem atribuísse isso ao governador do Texas, mas não me convence) simplesmente porque ele fez de tudo para que Hamilton não o ultrapassasse, mesmo com problemas de freio. Se tivesse permitido (afinal, já tem o título mundial) o inglês teria faturado 25 pontos em vez de 18 na disputa pelo vice-campeonato que disputa, justamente, com o mexicano Sergio Pérez, que está com seu lugar na escuderia muito a perigo. Cadê o “Max is a legend!”? No mínimo, ficassem quietos, não? Obviamente ninguém podia prever a desclassificação do carro da Mercedes, mas domingo que vem certamente será pior na prova no circuito Hermanos Rodríguez. Uma pena.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva reponsabilidade de sua autora.