Rodar a 6.734 metros acima do nível do mar com um automóvel é mais uma façanha alcançada pelo Porsche 911. Até então, nenhum veículo havia subido tão alto. O feito foi realizado semana passada, no sábado 2 de dezembro, quando a versão especial do 911, preparado com apoio da fábrica, alcançou o pico da crista oeste do vulcão Ojos del Salado, no Chile, que por ficar no topo da cadeia dos Andes é o vulcão mais elevado do mundo.
Esta foi a segunda expedição da equipe no local, já que primeira tentativa foi frustrada por uma parede de gelo a 6.007 metros de altitude, no fim do ano passado. Desta vez, com condições melhores de clima, o Porsche 911 pilotado pelo francês Romain Dumas bateu o recorde mundial, rodando em altitude e que havia sido estabelecido em 2020, no mesmo local, por dois caminhões Mercedes-Benz Unimog que alcançaram 6.694 metros.
O modelo desenvolvido pela RD Limited, com a colaboração da engenharia da Porsche, e que teve conversão especial para off-road extremo, é baseado na atual versão 911 Carrera 4S. O motor boxer original de seis cilindros e 3 litros, de 443 cv, não sofreu nenhuma alteração, assim como o câmbio manual 7-marchas de série. O carro, entretanto, foi abastecido com combustível sintético, que se mostrou eficiente onde o ar na altitude tem apenas metade da densidade do nível do mar, enquanto as temperaturas oscilavam em torno de 20 ºC abaixo de zero.
A estrutura do 911 foi alterada para enfrentar o solo adverso nas encostas precárias do vulcão, algumas quase verticais. A carroceria teve os arcos das rodas recortados para acomodar pneus de 310 mm de seção transversal. A adoção de eixos tipo portal possibilitou vão livre do solo com 350 mm. Estes eixos com caixas de redução nas mangas de eixo permitiram acionamentos precisos e suaves do acelerador em baixa velocidade. Além disso, toda seção inferior da estrutura recebeu proteção especial com placa em fibra de aramida para possibilitar o deslizamento sobre pedras.
Outra exclusividade adotada no desenvolvimento foi o sistema de direção “Steer-by-wire” no qual a cremalheira de direção é acionada por motor elétrico, assim como o é na direção eletroassistida convencional, mas sem árvores de direção ou qualquer conexão mecânica entre o volante e a caixa de direção. O sistema denominado Space Drive, desenvolvido pela Schaeffler, proporcionou precisão e sensibilidade para o piloto Romain Dumas manobrar o carro em trechos tremendamente acidentados.
Ao contrário da tentativa em 2022, a equipe encontrou pouca neve nos níveis mais elevados do vulcão, mas precisou enfrentar o caminho através dos campos rochosos atravessando trechos de cascalho profundo e de cinzas vulcânicas, que se depositam nas encostas. O sistema de tração integral do 911 também teve adaptado o Porsche Warp-Connector, originalmente concebido para competições, que proporciona uma ligação mecânica entre as quatro rodas para mantê-las constantemente sob carga quando o chassi está sofrendo extrema articulação.
Para se ter uma ideia das dificuldades deste desafio de subir pouco mais do que 1.000 metros, que separavam a base de acampamento do cume do vulcão, a equipe demorou mais de 12 horas, com partida as 3h30, horário local, e chegada ao cume às 15h58. Vale destacar que, ao longo da expedição, o projeto adotou abordagem cautelosa, que priorizou a segurança, sendo supervisionada por dois médicos devido ao local de difícil acesso e ao risco sempre presente do “mal da altitude” (hipóxia), além de outros riscos à saúde provocados pela mistura de ar rarefeito e temperaturas congelantes.
Após alcançar o cume, a equipe teve relativamente pouco tempo para apreciar a vista incrível por alguns momentos e fazer uma fotografia como registro do feito, antes de iniciar imediata e cuidadosamente a descida com a mesma precisão e cautela da subida — retornado ao acampamento base mil metros abaixo do cume somente na manhã de domingo.
RM