Meus caros leitores já me conhecem e os mais antigos sabem que não sou dada a modismos. Muito pelo contrário. Sempre fui de personalidade forte e de fazer as coisas não de acordo com a maioria ou com o momento, mas sim como eu queria — geralmente baseada em alguma premissa lógica ou em vontade, mesmo, mas nunca porque era moda. Com carros não poderia ser diferente. Do meu grupo de amigas sempre fui uma das poucas (se não a única) que tinha carro modelo sedã em vez de suve. Mas, como no filme de James Bond, nunca diga nunca. Pois é, trocamos um dos sedãs por um suve.
Mas, como ainda sou eu, não foi por modismo, não. Uns dois anos atrás, meu marido e eu fizemos uma linda viagem de carro pelo Sul do País. Saímos de São Paulo passando pelo Paraná (paramos na sempre linda Curitiba, sim, sou das que gostam daquela cidade), fomos para Joinville visitar um queridíssimo amigo, de lá para Blumenau, Pomerode, Gramado, Canela, Bom Jardim da Serra, São Joaquim, os maravilhosos cânions de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul — gostamos especialmente do Laranjeiras, Itaimbezinho e Fortaleza — e, claro, subimos e descemos a Serra do Rio do Rastro e a do Corvo Branco. Como sempre que viajamos, fomos a um par de vinícolas e na volta fomos ao lindo Parque Vila Velha, no Paraná.
Uma das fotos mais engraçadas que tenho é justamente do cânion Laranjeiras. O guia, prudentemente, não nos deixou chegar à beira do cânion, mas disse que poderíamos ir rastejando. Não precisou dizer isso duas vezes que eu já estava no chão, como soldado em treinamento. E só eu. Ninguém mais no nosso grupinho de quatro. Nem meu marido, que costuma ir junto comigo tipo Buzz Lightear, “ao infinito e além”. Fui rastejando até a beira do cânion, câmera e filmadora em punho. Cheguei na beira, olhei embasbacada a paisagem, tirei fotos e filmei e pouco depois, passada a surpresa da incrível paisagem, olhei para baixo me perguntei que raios estava fazendo ali. Acho que só então caiu a ficha daquela altura toda. E então comecei a voltar, rastejando de marcha à ré. Uma das cenas de viagem mais ridículas das muitas que já protagonizei. (foto de abertura). Mas minha coragem rendeu fotos lindas e uma paisagem que ficará para sempre na minha memória.
Não lembro agora quantos quilômetros rodamos naquela viagem, mas foram muitos. Como fizemos tudo por conta própria e de carro, metemos o coitado do sedã em todo tipo de estrada — se é que aquelas picadas nos cânions podem ser chamadas de estrada. E justamente nossos dois carros era(são) muito baixos. Felizmente não furamos nenhum pneu e não danificamos em nada o carro que, na volta, passou por uma revisão completa — apenas tivemos que trocar os filtros de ar-condicionado, pois a poeira que entrou foi absurda.
Na volta para São Paulo começamos a avaliar em trocar um deles por um carro mais alto. Não um falso suve, mas um carro realmente para todo tipo de terreno. Como toda decisão que envolve veículos em casa, demoramos bastante para decidir. Avaliamos vários modelos, mas o que primeiro observávamos era a altura do chão. Meu marido engenheiro montou uma planilha Excel com diversos itens que nos interessavam. Começamos a perguntar a quem tinha cada modelo e no final, reduzimos a uns quatro. Fomos fazer test drive e, claro, consultamos os colegas daqui do AE. Torrei a paciência especialmente do Gérson Borini que teve toda a paciência do mundo, pois na volta de cada test drive tinha mais dúvidas. No final, no ano passado, optamos por um Jeep Renegade 4×4.
Como ironia pouca é bobagem, desde então mal colocamos o carro na lama. Apenas quando dois primos meus vieram da Argentina e os levamos para passear por vários lugares, é que o carro viu um pouco de terra. Fomos a Campos do Jordão e de lá a São Bento do Sapucaí. Pegamos uns caminhos parcialmente tortuosos mas, na verdade, nada que tivéssemos que usar 4×4 de verdade. Foi só para sentir um pouco o gostinho de estar numa trilha. Depois, quando viajamos, só meu marido e eu, a São Luiz do Paraitinga até Visconde de Mauá e depois descendo por Cunha, Paraty, Ilha Bela e pegamos uns trechinhos e terra em momentos que saímos das estradas. Mas, novamente, ainda não amortizamos o Jeep.
Para a cidade, continuamos usando o sedã. Pessoalmente, gosto mais do espaço interno e do porta-malas dele do que do Jeep (que tem metade da capacidade, algo com o que estamos tentando nos adaptar, depois de anos de porta-malas simplesmente gigantescos). Mas reconheço que altura do chão quando se quer meter o carro em caminhos de pedra pura, como os que enfrentamos nos cânions de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, faz bastante diferença. Mesmo para sair de Cambará do Sul e pegar a estrada rumo ao Paraná e ao Parque Vila Velha sofremos muito. Tínhamos que ir muito devagar pela RS-110. Era ritmo de 20 km/h e, para ajudar, chovia. Mas não acho que com tempo seco teríamos conseguido ir muito mais rápido, não. Já vínhamos pensando num carro mais alto, mas acho que naquele dia é que batemos o martelo.
Decidida a troca por um veículo que ficasse o mais longe possível do chão, começamos a ter problemas com a motorização. Como poderíamos passar de um motor turbo THP de 175 cv para os 115, 120 que a maioria dos veículos nos oferecia? Dirigimos carros de amigos para testar e descartamos alguns modelos justamente nesse quesito. Nada contra — alguns modelos eram os meus favoritos — mas depois de anos dirigindo carros com motores parrudos é difícil se acostumar a demorar para fazer uma ultrapassagem. Se não estivéssemos acostumados, certamente poderíamos ter optado por outros modelos. Mas é complicado passar de algo que se gosta, como arranque ou potência em rotações mais baixas, para menos arranque ou menos potência em baixos giros. E, obviamente, tínhamos também uma limitação financeira. Ou seja, está cada vez mais difícil trocar de carro. Pelo menos para mim.
Mudando de assunto: para não variar, mais uma piadinha infame de carros, daquelas que eu tanto gosto:
NG
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