Ele me convidou para fazer parte da equipe de Imprensa da GM. Eu estava na Sucursal de O Globo, em São Paulo, onde fiz grandes amizades. Mantidas até hoje. Fui para a GM em 1983 por iniciativa de André Beer, uma das pessoas mais incríveis que conheci na vida.
Ele começou na fábrica ao 19 anos, em 1951 (quando eu tinha 6 anos), registrado como auxiliar de escritório.
Em 1959, fez curso de Contabilidade e foi promovido a supervisor geral.
Mas, além de trabalhar na GM, ele também tinha um conjunto musical, que animava bailes no ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul) na Grande São Paulo e também em cidades próximas, no Litoral. Seu instrumento era uma sanfona, o que dificultava sua locomoção, especialmente quando descia do trem, que não parava, na estação de Santo André, apenas diminuindo bem a velocidade.
— Eu me preparava, respirava fundo e pulava do trem. E nunca caí!
Mas, muitas vezes, a vida colocava alguns obstáculos para que ele pudesse mostrar a sua capacidade de pular cada um deles.
Um deles aconteceu com um jornalista, Nereu Leme, que na época era repórter do setor automobilístico do jornal Folha de S. Paulo, na época, um bom diário.
Isso aconteceu entre 1983 e 1986, quando Beer presidiu a Anfavea por dois mandatos consecutivos. Em razão disso, não consigo precisar a data do acontecimento. Nem o Nereu.
Assim, também não consigo lembrar o “palco” deste acontecimento, que mostrou a capacidade de André Beer de vencer os obstáculos que suas funções lhe colocavam. Além de presidente da Anfavea, era também vice-presidente na GM.
E, na época, ele participava de muitos encontros que aconteciam com a Imprensa do setor, ora como representante da entidade, ora como executivo da fábrica.
Em um deles, André levantou-se e criticou, severamente, o Nereu, por ter dado uma notícia que não tinha nenhum fundamento. Todos olharam para o Nereu, assustados, assim como eu, que não teve qualquer reação, seguindo o seu estilo de nunca perder a calma.
Todo o grupo ficou muito desapontado pela atitude, totalmente incompreensível do seu autor.
Eu estava de carona com André e, na volta para a fábrica em São Caetano disse a ele que errou ao criticar, não só pela maneira, mas porque a matéria havia sido escrita por outro jornalista.
Ele bateu com a palma da mão na cabeça, uma característica dele de gesto, quando admitia que alguma coisa estava errada.
Então me pediu o telefone do Nereu. Eu dei e perguntei se ele ia ligar para o jornalista.
Nada aconteceu por alguns dias. Até que todos os jornalistas (os mesmo do evento anterior) foram reunidos para um almoço promovido pela GM ou pela Anfavea, não lembro, mas tendo como figura principal o André Beer. Então, em um momento qualquer, ele bateu com seu garfo em um garrafa ao seu lado e levantou-se.
Caminhando em direção a Nereu Leme disse:
— Nereu, no nosso último encontro eu cometi o erro de chamar a sua atenção em público, por algo que você não fora responsável. Por isso, Nereu, hoje estou aqui diante de todos para te pedir desculpas pela minha atitude.
Nereu, me disse, recentemente, que nunca esqueceu desta cena e lembra dela com emoção. A mesma que, naquele dia, o fez levantar-se e abraçar André Beer com lágrimas nos olhos.
Todos aplaudiram!!!
CL
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