Acabei de retirar uma picape Ford Ranger Raptor, para uma semana de avaliação. Diferentemente da maioria dos automóveis disponíveis atualmente em nosso mercado, este era um que eu estava ansioso para experimentar, por várias razões. A primeira é porque eu gosto de carros grandes, inclusive picapes. Outra razão é porque, dos muitos modelos de picapes médias atuais, a Ranger é a que sempre mais me agradou, desde várias gerações atrás. E também porque, logicamente, eu já conhecia as credenciais da Raptor e já tinha escutado muitos elogios de quem já a havia experimentado. Elogios em relação ao desempenho, bem entendido.
Os primeiros quilômetros foram de uma condução bem tranquila, segurando a tentação de dar “aquela” acelerada no meio do caótico trânsito paulistano. Não queria parecer com aqueles motoristas de “carrões” que aceleram demais em qualquer brecha, mesmo que o carro seja dele. Acho que é apenas para se destacar no trânsito. Calma, tenho muito tempo ainda, e em locais mais propícios.
O coração da Ford Ranger Raptor é um motor EcoBoost V-6 a gasolina de três litros (mais precisamente 2.949 cm3 ) de cilindrada, com cilindros de 85,3 mm de diâmetro e pistões com 85,8 mm de curso, dotado de dois comandos de válvulas nos cabeçotes de alumínio e quatro válvulas por cilindro, com variador de fase na admissão e no escapamento.
Só aí já daria para estimar um ótimo desempenho, mas, para tornar essa picapona de 2.415 kg um demônio de aceleração, foram instalados dois turbocarregadores, levando a potência declarada pelo fabricante para 397 cv a 5.650 rpm. O torque é de 59,4 m·kgf a 3.500 rpm.
A transmissão é dotada de um câmbio automático epicíclico Selectshift de 10 marchas com conversor de torque, com tração 4×2, 4×4 e 4×4 permanente, com distribuição de torque entre os eixos sob demanda e com diferenciais autobloqueantes. As marchas também podem ser trocadas manualmente em sequência pelas borboletas no volante.
Bem, vou agora cumprir mais dois dias de trânsito urbano, sem provocar a adrenalina, para, no fim de semana, levar a Raptor a um local onde ela possa mostrar suas garras. Com espaço, segurança e longe dos “radarezinhos” de 40 e 50 km/h que acabam se transformando em armadilhas para corações empolgados e distraídos.
É, foi difícil achar um local onde fosse possível acelerar sem receios. No trânsito urbano, a Ford Ranger Raptor impressiona, dá para notar os olhares da turma à volta, motorizados ou não. Isso, no entanto, é mais pela pintura chamativa e pelo porte que qualquer Ford Ranger atual compartilha. E olha que se trata de uma picape média, não é das grandes. Maior cuidado em vias de faixas de rolamento mais estreitas é necessário, para evitar pequenos incidentes, assim como foi preciso muito mais cuidado para entrar e sair da minha garagem. Neste último caso, o sistema de câmeras, que simula uma visão aérea do veículo e o que o circunda, ajuda muito.
Em números oficiais, a picape Ford Ranger Raptor acelera de zero a 100 km/h em 5,8 segundos, com um alcance por litro de gasolina de 8,3 km na cidade e 10,2 km, na estrada. Não medi na estrada, mas certamente esses números são demasiadamente otimistas para a realidade do conjunto. No computador de bordo, o número que apareceu na maior parte do tempo foi de 3,9 km/L, de média, com uma constatação interessante: o marcador de quilômetros restantes diminuía muito mais depressa do que o hodômetro aumentava. Isso significa que aqueles 836 km declarados de alcance máximo com um tanque seriam, na verdade, 320 km.
Como veículo de uso diário, qualquer Ford Ranger já seria um exagero, mas há quem discorde disso. No entanto, o conforto que o carro oferece é grande, a começar pelo espaço interno, logicamente. Os itens de comodidade também são generosos, com uma série de botões, chaves e ajustes que demandam tempo para aprender (e para explicar). Isso além dos ajustes eletrônicos das muitas funções disponíveis.
Resumindo, como poderia eu elogiar esse excitante automóvel utilitário que oferece muito mais do que precisamos, sem parecer que estou fazendo propaganda? Quem é que precisa de um sistema de suspensões prontos para enfrentar um Rally dos Sertões? Quem é que precisa de um motor de quase 400 cv, se não vai pilotar no Rally dos Sertões? Eu não preciso, mas quero. E o elogio que faço é dizer que, se tivesse os R$ 466.500 necessários para comprar essa picape, compraria, sem pensar duas vezes.
GM
FICHA TÉCNICA
MOTOR | |
Denominação | EcoBoost V-6 3,0 |
Descrição | Dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em “V” a 60º, bloco de ferro-grafite e cabeçotes de alumínio, duplo comando de válvulas, corrente, variador de fase na admissão e escapamento, 4 válvulas por cilindro, dois turbocarregadores com interresfriador, injeção no duto e direta, gasolina 91 RON mínimo |
Cilindrada (cm³) | 2949 |
Diâmetro x curso (mm) | 85,3 x 85,8 |
Potência máxima (cv / rpm) | 397 / 5.650 |
Torque máximo (m·kgf / rpm) | 59,4 / 3.500 |
Taxa de compressão (:1) | 10,5 |
Densidade de potência (cv/L) | 134 |
Densidade de torque (m·kgf/L) | 20,1 |
TRANSMISSÃO | |
Denominação | Ford 10R80 |
Tipo | Conversor de torque, câmbio automático epicíclico Selectshift, 10 marchas, tração 4×2, 4×4 e 4×4 permanente, distribuição de torque ente os eixos conforme demanda, troca de marchas manuais sequenciais por borboletas no volante, diferenciais autobloqueantes |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,714; 2ª 2,9997; 3ª 2,149; 4ª 1,769; 5ª 1,521; 6ª 1,275; 7ª 1,00 (direta), 8ª 0,853; 9ª 0,689; 10ª 0.636; ré 4,885 |
Relação dos diferenciais (:1) | 4,70 (dianteiro), 3,73 (traseiro) |
Caixa de transferência | 2 reduções com 4H, 4L e 4A, redução máxima total 57,88:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, braços triangulares de alumínio superpostos, mola helicoidal, amortecedor pressurizado FOX 2,5″ e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo rígido, mola helicoidal, 2 braços de locação longitudinal e transversal (paralelogramo do Watt) e amortecedores pressurizados FOX 2.5″ montados externamente às longarinas do chassi |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida |
Relação de direção (:1) | 17,2 |
Voltas entre batentes | 3 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 13,2 |
FREIOS | |
Descrição | Hidráulico, servoassistido a vácuo, duplo-circuito dianteiro-traseiro, freio de estacionamento eletromecânico |
Controle | ABS, distribuição eletrônica das forças de frenagem |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado / 310 |
Traseiros (Ø mm) | Disco ventilado / 308 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio 8,5J x 17 |
Pneus | 285/70R17 (General Grabber) |
Estepe | Igual ás demais rodas |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 2.415 |
Capacidade de carga | 715 |
Rebocável | 2.500 |
CAPACIDADES (L) | |
Tanque de combustível | 82 |
Caçamba | 1.232 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 5.381 |
Largura sem/com espelhos | 2.027 / 2.202 |
Altura | 1.922 |
Distância entre eixos | 3270 |
Bitola dianteira/traseira | 1.620 / 1.620 |
Caçamba | Comprimento 1.514, largura 1.584 (1.224 entre caixas de rodas), altura 529 |
Distância mínima do solo | 272 |
DADOS OFF-ROAD | |
Ângulos de entrada/saída/rampa (º) | 32 / 27 / 24 |
Imersão (mm) | 850 |
CONSTRUÇÃO | Cabine e caçamba em aço montadas sobre chassi, 4 portas, 5 lugares |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 5,8 |
Velocidade máxima (km/h) | n.d. |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO PBEV | |
Urbano (km/L) | 8,3 |
Rodoviário (km/L) | 10,2 |
Alcance máximo (km) | 836 |