Um deles aprendeu a tocar tamborim; outro, além de trazer a Oktoberfest para o Brasil, outro volta sempre para ir à praia e pescar; tem aquele que preferiu ter dois dos seus filhos nascidos no Brasil; mais um que é elogiado por todos os jornalistas do setor; e tem aquele que, nas vitórias do seu time no domingo, ia, na segunda-feira, para a fábrica com a camisa do seu Corinthians.
São muitos os casos de executivos de fabricantes de automóveis (e outras empresas, claro!) que pelo seu comportamento e atitudes, podem ser chamados de “brasileiros”, por nós, nativos.
Vou começar por aquele (que já nos deixou) com quem tive estreito contato e que me chamava de amigo. Mark Hogan (foto de abertura), Foi presidente da GM e responsável pelos principais lançamentos da empresa na década de 1990. era apaixonado pelo Brasil e o samba. Sua paixão era tal que ele foi aprender a tocar tamborim, para sair no carnaval carioca pela Portela. Gravou o enredo da escola em uma fita cassete (quem ainda lembra desse objeto?) e, todo dia quando Severino (seu motorista) o pegava em casa, em São Paulo, ele fazia a viagem de cerca de 50 minutos até a fábrica, em São Caetano do Sul, ensaiando. E, na volta, a mesma coisa.
O alemão, Wolfgang Sauer (foto abaixo), que também não está mais entre nós, enfrentou o início do movimento sindical no Brasil, como presidente da Volkswagen. Como bom brasileiro, gostava muito de tomar cachaça, sempre sem exageros. Exagero só mesmo com seus charutos. Bem-humorado, enfrentava as dificuldades enfrentadas pelo País afirmando que “Deus é mesmo brasileiro”. Vez por outra tinha que falar à imprensa que a GM não conseguiria tirar a VW da liderança, como anunciava o presidente da fabricante americana. Até hoje, Sauer é lembrado, entre os jornalistas da chamada “velha guarda” como um dos mais respeitados e queridos “gringos brasileiros” do setor.
E o presidente da fabricante americana que Sauer retrucava pelo menos duas vezes ao ano era Joseph Sanchez, da GM. Esse, além de “brasileiro” era também torcedor do Corinthians e que frequentava os jogos do “Timão”, nos domingos, em São Paulo. Quando o seu time ganhava, na segunda-feira ele chegava à fábrica com a camisa do Corinthians e circulava pela linha de produção, aplaudido pela “galera” corintiana. Ao, voltar para os EUA para dirigir a divisão, Oldsmobile (quem lembra?) Sanchez foi morar em Lansing (capital de Michigan), numa casa decorada com azulejos e ladrilhos levados do Brasil. Visitei-o lá, mas não vi nenhum dos azulejos com o escudo do Corinthians.
Outro alemão, que não mora mais no Brasil, mas volta aqui todo ano para ir às nossas praias, pescar, rever amigos (que se referem a ele como “o alemão mais brasileiro que conheço”) e visitar a São Paulo Oktoberfest, idealizada por ele (junto com Walter Carvalho): Phillip Schiemer. Ele esteve por duas vezes atuando na Mercedes-Benz do Brasil. Sua primeira vez foi como responsável pelo Sprinter e, na segunda, como presidente da empresa.
Outro americano, Robert Gerrity, era presidente da Ford no Brasil, quando do lançamento do Escort. Eu era repórter do setor (isso existia nos anos 1980, repórter de setor) e tinha um ótimo relacionamento com aquele grandalhão simpático que sempre recebia com atenção a imprensa. Certo dia, durante entrevista, ele me perguntou seu seria capaz de guardar um segredo. Claro que respondi sim e ele me levou a um galpão na fábrica e me mostrou pela primeira vez à imprensa, o Escort. Abriu o carro e pediu que eu entrasse. Ao sentar no banco traseiro, disse que era um pouco apertado. “Para mim também”, disse ele, mais alto que eu. Mantive minha palavras.
A maior do Bob foi quando ele, em uma coletiva, disse que um fabricante, cujo nome tinha quatro letras e começava com ”F”, ia deixar o Brasil. Premonição?
Pobre do Alberto Fava, responsável pela operação da Fiat no Brasil que teve que responder um milhão de vezes que a empresa não sairia do Brasil. Hoje o gentil e atencioso Fava deve estar rindo da fala do Bob.
Outra dessas figuras é Gianni Coda, que foi presidente da Fiat no Brasil e torcedor do Atlético Mineiro. Ele travava grandes batalhas com diretores da empresa, especialmente Marco Antônio Lage (Comunicação), cruzeirense, antes do início de cada reunião que se realizava às segundas-feiras, quando no domingo houve o clássico no Mineirão.
É claro que existiram muitos outros “gringos brasileiros”, em qualquer tipo de empresa ou fabricante de veículos, como os citados, com quem tive a oportunidade de conviver em meus quase 60 anos de jornalismo. Iniciados em 1969, em A Tribuna, em Santos e passando pela Ford, Goodyear, O Globo e Diário do Comércio.
CL
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