Não é de hoje que a F-1 assiste a acidentes como o que envolveu Max Verstappen e Lando Norris no GP da Áustria (foto de abertura) disputado domingo, em Spielberg. Da mesma forma, não é de hoje que as punições aplicadas a cada evento dessa natureza sejam marcadas por valores subjetivos e, consequentemente, variados. No atual estágio da categoria a única coisa que se mantém inalterada é o estilo de pilotagem do atual tri-campeão mundial em defender sua posição ou tentar assumir a liderança de uma corrida.
A análise do acidente que levou à vitória de George Russell leva a três possibilidades: culpa de Verstappen, arrojo exagerado de Norris e simplesmente incidente de corrida. Este colunista endossa a primeira linha de pensamento dessa múltipla escolha. O piloto holandês segue a linha de Michael Schumacher e Ayrton Senna, com sutilezas que caracterizam cada um desse grupo de monstros sagrados da F-1. De todos, Senna foi quem se impôs da maneira menos agressiva; Schumacher venceu seu primeiro título jogando o carro de Damon Hill para fora da pista em 1994 e perdeu seu terceiro ao repetir a manobra, desta vez sem sucesso, contra Jacques Villeneuve, no GP da Espanha, em Jerez, 1997.
Verstappen tem um controle sobre seu carro que impressiona até mesmo seus rivais, mas quando a situação aperta para o seu lado ele não hesita em trilhar a tênue linha que separa a ética do desrespeito, por vezes abusando das formas de interpretar essa atitude. Exemplo disso foi o acidente entre ele e Lewis Hamilton no GP da Itália de 2021, que você pode ver no trecho que inicia em 2’31 neste vídeo. No episódio do último domingo pode-se notar a atitude esportiva de Lando Norris na manobra que você verá a partir e de 3’30 deste vídeo: na sequência ele ultrapassa Verstappen, sai e retorna à pista à frente do rival, mas numa demonstração de respeito à ética e ao regulamento, devolve a posição. Mais adiante, a partir de 4’45 e aos 6’00, o britânico faz novas tentativas, nesta última forçando Verstappen a sair da pista para se defender do ataque. O holandês retorna ao espaço regulamentar sem devolver a posição.
A manobra crucial que definiu o resultado da décima primeira corrida da temporada aconteceu em seguida, no minuto 6’55 desse mesmo vídeo. Norris tentou ultrapassar Verstappen por fora, manobra que mexe com os brios de qualquer piloto e o holandês, obviamente, está longe de ser exceção. Para se defender, ele deixou seu carro escapar mais do que o habitual, provocando um toque que levou ambos aos boxes. O piloto da Red Bull chegou o pneu traseiro esquerdo furado, seu carro recebeu um jogo íntegro e ele retornou à pista para cruzar a linha de chegada em quinto lugar. Norris abandonou: o pneu traseiro direito do seu McLaren foi dilacerado no toque com o carro do rival e destruiu boa parte da carenagem do assoalho.
Verstappen domina a categoria hoje e não poupará esforços e recursos para manter esse status. Na comparação com Norris, as três temporadas como campeão mundial fazem muita diferença a seu favor e cabe ao novato quebrar essa hegemonia. O progresso dos carros da McLaren e o amadurecimento do seu primeiro piloto indicam que a ruptura desse status está cada vez mais próxima. A Federação Internacional do Automóvel deve adotar um padrão mais consistente ao analisar manobras de ataque e defesa. Há exemplos bons e ruins que justificam a prática e punições mais severas.
O resultado completo do GP da Áustria você encontra clicando aqui.
WG
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