Mais uma vez o circuito de Hungaroring foi palco de uma corrida marcada por fatos surpreendentes, ainda que o resultado final tenha sido de acordo com o que aconteceu nos treinos. Além de dar mostras que ainda tem como melhorar sua gestão de corridas, a equipe McLaren agora tem que se preocupar com a postura de seus pilotos Lando Norris e o vencedor Oscar Piastri (foto de abertura). Longe dali, na cidade suíça de Hinwill, arredores de Zurique, a Audi anunciou a contratação do suíço Mattia Binotto, ex-diretor da Ferrari, para substituir o alemão Andreas Seidl no cargo de líder do projeto de F-1 que a marca de Ingolstadt desenvolve com a Sauber.
A McLaren é a equipe que mais progrediu em termos de desempenho e resultados ao longo da temporada. Contando com dois pilotos jovens e rápidos, o time já soma 338 pontos no Campeonato de Construtores, 58 atrás da outrora imbatível Red Bull, onde a eficiência de Max Verstappen é afetada pelo desempenho errático de Sergio Pérez. Além da vitória de Lando Norris em Miami e de Oscar Piastri em Hungaroring, o time esteve próximo de conquistar outras ao longo do ano, o que não aconteceu ora por culpa de erros de Norris, ora por falhas estratégicas oriundas do box.
Tais fatos aconteceram novamente na corrida do fim de semana. Se o resultado foi a primeira dobradinha da equipe desde o GP da Itália de 2021 (vitória de Daniel Ricciardo e Lando Norris em segundo), a dinâmica desse resultado criou momentos de tensão. O primeiro deles foi a largada errática do pole position Norris, que caiu para terceiro, atrás de Piastri e Verstappen e à frente de Hamilton, pivô do erro da McLaren. Na segunda rodada de trocas de pneus Norris foi aos boxes antes do australiano, que quando fez sua parada voltou à pista atrás do companheiro de equipe.
Verdade insofismável da F-1 é que nenhum piloto de ponta gosta de devolver a posição e raros seguem as ordens emanadas dos boxes quando a ordem para tanto é emitida. Pela ótica de Lando Norris pode-se justificar sua relutância em devolver a posição de liderança, conquistada por uma estratégia discutível da McLaren, por ser o vice-líder do campeonato e o único com chances palpáveis de evitar que Max Verstappen chegue ao tetracampeonato. Sua atitude é típica de campeões como Ayrton Senna, Michael Schumacher e o próprio holandês. Analisada pela ótica da equipe, a relutância do piloto em aceitar ordens mostra que o time não tem o controle que gostaria sobre seus pilotos quando se trata de colocar o interesse da equipe acima dos indivíduos.
O balanço desse episódio indica que Lando Norris consolidou sua obstinação em se impor a qualquer custo — atitude que já lhe causou derrotas em algumas corridas —, rótulo que só será atenuado quando ele conquistar seu primeiro título mundial. Para a McLaren sobra a necessidade de impor sua autoridade junto ao britânico e ao australiano Oscar Piastri, cuja primeira vitória na F-1 não aconteceu com o mesmo brilho de suas conquistas das Fórmulas 2 e 3, onde saiu campeão nas duas temporadas que disputou em ambas.
Binotto retorna, Seidl parte
O projeto de F-1 da Audi, que a partir de 2026 disputará o Campeonato Mundial em associação com a Sauber, tem sido marcado por fatos que demonstram as dificuldades implícitas a uma empreitada de tal porte. Além de incorporar a estrutura do time suíço, a casa de Ingolstadt montou na Alemanha uma unidade específica para desenvolver o motor que será adotado dentro de 18 meses. Para liderar o projeto foi escolhido o alemão Andreas Seidl, que liderou a equipe McLaren por um período de resultados apagados. O desempenho do time de Woking só melhorou quando o italiano Andrea Stella e o brasileiro Gil De Ferran iniciaram um programa de restruturação interna no início de 2023.
No início deste não surgiram rumores do atraso no programa de desenvolvimento do motor, fato negado pela fábrica, e da própria continuidade do projeto após Gernot Dölnner ter substituído Markus Duesmann na presidência da empresa. Se Duesmann é um entusiasta do automobilismo, não se pode dizer o mesmo de Dölnner, que mesmo assim optou por manter ao projeto. Ao longo do tempo Seidl fez o que foi considerada uma oferta irrecusável para contratar o espanhol Carlos Sainz Jr, que surpreendentemente optou por protelar responder tal proposta. Certamente o fato de seu pai ser piloto da marca nas provas de cross-country e um bom conhecimento do departamento de competição da marca influenciou essa postura. Tais negociações se postergam até hoje e, no meio tempo, Seidl contratou seu conterrâneo Nico Hulkenberg, piloto com cerca de 220 GPs e nenhum pódio.
Frente a isso, não é surpresa que Seidl, até então presidente da Sauber Motorsport AG e da Sauber Technologies AG, tenha sido dispensado hoje, junto com Oliver Hauffmann, hoje ex-presidente do Conselho de Administração do Grupo Sauber. Binotto retorna à F-1 em um processo semelhante ao que o afastou da Ferrari no final de 2022: após liderar a Scuderia por um período e resultados abaixo do esperado ele foi substituído por Frédéric Vasseur.
O resultado completo do GP da Hungria você encontra aqui.
WG
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