Muitos leitores me fizeram perguntas no particular e no site sobre algumas coisas que eu comentei muito por alto ou sequer mencionei em minhas escrevinhações anteriores sobre a viagem que fiz, de carro, pelo Reino Unido. Resolvi então fazer um apanhado sobre esses assuntos que ficaram para ser mais detalhados e hoje, prometo, será minha última coluna sobre o assunto.
Uma das questões foi sobre os combustíveis. Nós alugamos um carro híbrido pois nos permitia entrar em qualquer área dos países que iríamos visitar. Sim, porque em todos eles há as “LEZ”, low emission zone (zona de baixas emissões, foto de abertura) e a maioria delas fica nos centros das cidades e era nesses lugares onde ficaríamos hospedados. Nessas áreas só podem entrar veículos que emitem baixos índices de poluentes (menos de 100 g/km de dióxido de carbono) e se um veículo entrar, será multado, embora exista também a possibilidade de se pagar antecipadamente para poder circular dentro da região.
As áreas têm restrição 24 horas do dia, 7 dias por semana, todos os dias do ano e basicamente elas se aplicam a caminhões, vans, e veículos de passeio que não atendam aos padrões locais. É importante ressaltar que não é apenas o Reino Unido que tem LEZ, mas também a Alemanha, Suécia… no total, são 320 lugares da União Europeia onde há LEZ.
Mas como não encontramos muitos pontos de abastecimento elétrico, usamos apenas o abastecimento com gasolina (unleaded, ou sem chumbo, 95 RON). Aliás, nossa primeira parada num posto de combustível foi engraçada. Eu sempre digo que tanque de combustível é pegadinha. Não importa quantos modelos você já tenha dirigido, sempre haverá um com alguma trava ou algum botão que complica nossa vida.
Desta vez, paramos à esquerda da bomba de combustível pois havíamos visto a entrada de gasolina do lado direito do carro. Mas ao apertar o botão que indicava a portinhola do tanque, conseguíamos abri-la, mas a mangueira de gasolina não encaixava, como se houvesse outra trava. Tentamos de tudo. Ligamos e desligamos o carro, procuramos outros botões, embora o desenho no botão não deixasse dúvidas, e nada. O posto na Inglaterra, é claro, era de autosserviço e não havia ninguém perto das bombas de combustível.
Tímida do jeito que sou, me aproximei de um casal que estava abastecendo outro carro, expliquei que era um veículo alugado e nosso primeiro abastecimento e pedi ajuda. Enquanto o homem abastecia o carro dele, a esposa gentilmente me acompanhou até o nosso e nos mostrou que a tampa de combustível estava do outro lado do carro e que aquela onde tentávamos encaixar a mangueira era para abastecimento elétrico. Como diria o menino-prodígio, santa estupidez, Batman!
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Dei risada e me desculpei pelo ridículo ao que a senhora inglesa me respondeu: não se preocupe, fizemos o mesmo quando alugamos um carro na França. Fiquei me sentido menos tola. Meu marido manobrou o carro e aí sim, ele ficou do lado “certo” para encher o tanque e então seguimos viagem.
Como eu disse, vimos poucos pontos de abastecimento elétrico e a maioria estava dentro de estacionamentos. Perto do nosso hotel em Aberdeen, na Escócia, havia um e chegamos a parar o carro lá durante dois dias, nos horários em que a rua onde estávamos hospedados era tipo zona azul, mas o carro já tinha o tanque cheio e preferimos não perder tempo de passeios abastecendo já que, como muitos outros, este tinha tempo máximo de permanência e lembro que era curto. Ou seja, não poderíamos apenas plugar o carro e ir passear, teríamos de ficar do lado. O mesmo aconteceu em alguns outros lugares.
Vimos alguns pontos de abastecimento elétrico na rua (fotos abaixo), mas eles eram privativos de determinadas marcas de veículos ou de associações semelhantes ao nosso Automóvel Clube e nosso carro não se encaixava em nenhuma das duas premissas. Acredito que seja interessante para quem mora, sabe onde estão estes pontos e tem tempo, mas carro elétrico para quem está de passagem me pareceu meio complicado. Quem sabe mais para a frente, se houver mais estações… Na próxima viagem eu conto se conseguimos usar um carro no modo elétrico.
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Acabei não prestando muita atenção nos preços dos combustíveis. Colocava no Waze quais os postos que havia no nosso caminho, escolhia uma bandeira conhecida e, se ele ficasse na mesma estrada, sem que tivéssemos que dar muita volta, escolhia o de melhor preço. Mas nada muito além disso. Sempre mantínhamos o tanque cheio pois especialmente nas estradas menores a quantidade de postos era ínfima. No final, somente na Irlanda é que tirei foto dos preços de um posto — confesso que com tudo tão caro, optamos por não fazer conversão de valores para reais daquilo que compraríamos de qualquer forma.
Na foto abaixo, portanto, os preços estão em euros e a gasolina sem chumbo 95 custava 184,90 centavos de euro (ou 1,849 euro) por litro (ou R$ 11,19). Desse total mais da metade são impostos e taxas. Aliás, na Irlanda toda a gasolina sem chumbo é vendida com 5% ou 10% (este é mais recente) de álcool. Na Inglaterra, Gales, Irlanda do Norte e Escócia o valor do litro girava entre 1,42 e 1,55 libra esterlina (ou R$ 10,20 a R$ 11,14) por litro.
Como rodamos muito e por estradas de todo tipo, mas especialmente no meio da Natureza, vimos muitos animais mortos ao longo das estradas. Em nenhum lugar vimos telas ou mesmo passagens para travessia de animais silvestres como tem por aqui no Brasil. Quero ser bem clara: não digo que não haja, digo apenas que não vimos. A maioria das vezes eram texugos e raposas, mas até pequenos cervos vimos. Felizmente, os que cruzaram nosso caminho o fizeram com boa distância e velocidade e em nenhum momento precisamos fazer nada além de pisar levemente o freio.
Me chamou muito a atenção, positivamente, o enorme cuidado que vimos por parte dos motoristas que conduziam trailers, carretinhas de qualquer tipo ou mesmo rebocavam algum carro. Especialmente na ilha de Skye isso foi muito comum, pois já era o começo do verão (certo, verão escocês, claro) e muitas pessoas aproveitavam os dias mais ensolarados para viajar. Como já mencionei, em um mês não vimos nenhum carro com farol quebrado ou alguma luz que não funcionasse. Tudo perfeito.
No caso dos veículos rebocados, eles replicavam completamente todos os sinais do veículo que os puxava. Pisca-alerta no carro da frente acendia instantaneamente o pisca- alerta do carro de trás. Luz de freio de um acendia no outro também, e assim por diante, todas as sinalizações. Também estava indicado no veículo atrás “on tow”, “sendo rebocado”.
Também percebe-se o cuidado do motorista que reboca um trailer ou um veículo mais longo. Encontramos muitos com espelhos estendidos e extremamente funcionais .Dessa forma todo o trânsito fica mais seguro. Seria tão simples se essas coisas funcionassem aqui no Brasil, não?
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Em compensação, cada um estaciona como quer e para o lado que quer, como nas proximidades do lindo castelo de Corfe no sul da Inglaterra.
No início, ao fazer uma conversão numa rua de mão única, eu tinha taquicardia ao encontrar carros com a frente para mim. Achava que estávamos na contramão, mas depois me acostumei: no Reino Unido para-se com o carro apontado para qualquer direção. Se você está numa rua de mão dupla e vê uma vaga na pista oposta, apenas atravessa e para, sem fazer conversão alguma.
Encontramos também muitíssimas placas de sinalização encobertas por vegetação, em todos os países. A Natureza é linda, mas se você não presta muitíssima atenção (ou, ainda melhor, não tem alguém de navegador), é fácil perder algum acesso.
Vimos muitas placas encobertasComo já mencionei, vimos muitos ciclistas em todas as cidades, mas menos do que se propaga no Brasil que tem. Eles respeitam bastante as normas de trânsito, mas não têm acesso ilimitado a todos os lugares. Ao contrário, há restrições em parques de Londres, praças e em outras áreas — muitos deles são apenas para pedestres, o que é uma tranquilidade para quem quer caminhar sem correr o risco de ser atropelado (o que seria raro, mas possível).
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Nas estradas especialmente, mas também nas ruas, encontramos muitos carros com adesivos grandes com a letra L, N ou R tanto na traseira quando na frente do carro (é obrigatório). Na Inglaterra, Gales, Irlanda, Irlanda do Norte e Escócia a letra L significa learner, isto é, que quem está ao volante está ainda aprendendo. Para isso, o motorista tem de ter pelo menos 17 anos e ter sido aprovado no teste teórico.
Com isso, ele recebe uma habilitação provisória que lhe permite guiar desde que esteja acompanhado por um motorista plenamente habilitado, não dirija em autoestradas, não exceda 45 milhas por hora (72 km/h) e não trabalhe como motorista de aplicativo. A habilitação é válida por dois anos e somente depois de seis meses de habilitação provisória e de 12 horas-aula com instrutores certificados é que pode tentar o exame para a habilitação definitiva.
A letra N significa “novice”, isto é, novato. Indica o motorista que depois de ter sido aprovado no teste prático pode dirigir em autoestradas e sem o acompanhamento de um motorista plenamente habilitado. A letra N deve ser usada durante os primeiros dois anos de habilitação, mesmo quando já foi obtida a habilitação permanente e o seu descumprimento acarreta multa.
Na Irlanda do Norte há ainda uma terceira letra, a R, que significa “restricted” (restrito). Ele é usado durante os primeiros doze meses depois de ser aprovado no teste de habilitação, e o motorista não pode ultrapassar os 72 km/h.
E tem mais: se o motorista L, N ou R não está no volante, o adesivo deve ser coberto. Ou seja, você sempre sabe que quem está ao volante tem alguma restrição ou menos prática. Não surpreende que com todos esses cuidados o trânsito o Reino Unido seja tão civilizado, não?
Mudando de assunto: como boa autoentusiasta, acho que eu usaria um sapato como este:
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de seu autora.