O mês com o Honda ZR-V passou voando, e seu propósito de veículo versátil foi conferido a fundo. O acrônimo que define sua categoria — suve, de sport utility vehicle, veículo utilitário esporte na língua de Camões, tem em utilitário o mais forte talento do modelo.
Nestas semanas comigo ele serviu de meio de transporte urbano, vetor de viagens em percursos bem variados e até mesmo como transportador de uma pequena mudança. Um uso pleno e em condições múltiplas, a marca do Teste de 30 Dias do AUTOentusiastas.
Ele mereceria plenamente um hipotético “Selo de Aprovação 30 Dias AE”, o que faria feliz o departamento de marketing da Honda, que como qualquer fabricante não iria desperdiçar tal chancela em suas peças publicitárias.
Como dito, a versatilidade do ZR-V foi exigida à fundo, inclusive na semana de encerramento do teste, com quilômetros urbanos entremeados a pequena viagem com banco traseiro rebatido, levando uma cama de solteiro desmontada e outros pequenos móveis. Nesta condição de uso, rodando a 110~120 km/h no trajeto de cerca 90 quilômetros entre São Paulo e Sorocaba e apenas com motorista a bordo, a melhor marca de consumo rodoviário do período foi mostrada pelo computador de bordo, 16 km/l de gasolina, o único combustível aceito por este Honda.
Nesta viagem uma chuva poderosa serve de gancho para falar de uma qualidade evidente do ZR-V, a segurança. Tanto por saber que é um carro moderno, cujo método construtivo premia áreas de deformação que preservam a integridade da cabine, quanto por sentir a segurança nas mãos, pela dirigibilidade excelente. Estável, pleno de bons aparatos para elevar segurança passiva e ativa a um grau altíssimo — nada menos que oito bolsas infláveis! – o ZR-V passa grande confiança em qualquer situação.
Volto a falar do consumo, cuja média final do teste, de 9,5 km/l, com praticamente 70% do percurso feito em rodovias, aponta para uma razoável parcimônia deste motor. Aliás, o quatro cilindros em linha DOHC i-VTEC deriva daquele usado no Civic de 10ª geração, mas com aperfeiçoamentos que elevaram sua potência. É um motor que, apesar de moderno, vai contra a tendência atual, a de motores turbogcarregados de menor cilindrada, ou até mesmo da propulsão híbrida. Mas o ZR-V é mesmo contracorrente, e a própria Honda o define como um suve com alma de sedã, o que de certa maneira é fato por ter ele estrutura derivada do Civic.
Como é padrão do Teste de 30 Dias, a visita à prestigiada oficina paulistana Suspentécnica rendeu conhecimento que já havia sido antecipado pela análise de Gerson Borini em seu “No Uso”, publicada em fevereiro deste ano. Como bem mostrou o vídeo do editor de Testes do AE, que antecipou a vista das entranhas deste ZR-V como usualmente fazemos no encerramento do Teste de 30 Dias, o modelo tem um padrão construtivo excelente, com escolhas técnicas no âmbito de suspensões — dianteira herdada do Civic, traseira multibraço do CR-V — que colaboram para a sensação de estarmos ao volante de um sedã. Chama a atenção o fechamento integral de cerca ¾ da parte inferior, o que colabora com um melhor escoamento do ar e, consequentemente, em aspectos relacionados à aerodinâmica, assim como as caprichadas caixas de roda forradas com material fonoabsorvente.
Enfim, a ótima dirigibilidade e o conforto a bordo, especialmente o acústico, são destaques no ZR-V, que também marca alta pontuação no design, acabamento e na tecnologia do Honda Sensing. No entanto, nem tudo são flores. A ausência de equipamentos que, considerando o segmento e o preço de tabela, fixado em R$ 214.500, deveriam fazer parte da configuração expõe este Honda a algumas críticas, e eventualmente o prejudicam num comparativo entre seus mais diretos concorrentes, Jeep Compass, Toyota Corolla Cross, Volkswagen Taos.
A Honda ter escolhido introduzir o ZR-V em nosso mercado com um motor aspirado de 2 litros exclusivamente a gasolina não está, no meu modo de entender, entre os aspectos a criticar, e isto se dá inclusive por se tratar de um Honda. A empresa é mundialmente reconhecida pelo refinamento técnico de seus motores, com elevado padrão tecnológico e construtivo, o que explica em parte o alto valor de revenda dos Honda usados, que alcançam quilometragens muito elevadas sem apresentar problemas.
O fato de existir um Honda ZR-V híbrido na Europa pode ter criado uma expectativa sobre tal tipo de motorização, mas isto não implica ser a opção aspirada a venda no Brasil deficiente. Raciocínio igual merece o fato de o ZR-V em sua versão vendida nos EUA (lá chamada de HR-V) ter tração 4×4 e o nosso não. São escolhas do fabricante, determinadas a partir de lógicas internas, muitas vezes não compreensíveis aos consumidores. A estes cabe bater palmas ou vaiar, aceitando ou não o que lhes é oferecido. Simples regra de um mercado maduro que, felizmente, oferece inúmeras opções.
No caso, o Honda ZR-V, como demonstram as fracas vendas, precisa de ajustes. Para mim o que mais “pega” no Honda ZR-V para que se torne um sucesso, é, mesmo, o preço elevado. A este importantíssimo fator se aliam algumas “ausências” que elencarei a seguir, superficiais, mas incrivelmente incômodas:
– Falta de saídas de ar climatizado para passageiros do banco traseiro
– Falta de descanas-braço central no banco traseiro.
– Cobertura do porta-malas excessivamente simples.
– Falta de rebatimento elétrico dos retrovisores.
– Falta de assistência elétrica na abertura/fechamento da porta.de carga
– Sistema de áudio sem “assinatura” (Bose, Harman Kardon, Beats…).
– Teto solar modesto, inferior ao do antigo Honda HR-V Touring.
Corrigidos tais detalhes, e com o preço reposicionado a cerca de R$ 180/190 mil (que, diga-se, já é o praticado atualmente em muitas concessionárias Honda) o ZR-V teria mais condições de encontrar seu lugar de direito no mercado, fazendo jus à uma marca que soube criar uma indiscutível fama de solidez, eficiência e qualidade no pós-venda.
Ao iniciar a fabricação de automóveis no Brasil em 1997, a Honda provou que seus Civic made in Sumaré eram tão bons quanto os made in Japan. Depois vieram os Fit, os HR-V, veículos que se mantiveram em alta consideração pelos consumidores, que considera os Honda quase como uma marca premium, de alto valor agregado pela durabilidade e eficiência, mas não por luxo ou especificação direcionada ao requinte.
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Pesar a mão na precificação do ZR-V não ajudou nada sua entrada no mercado, mas tendo em vista as qualidades observadas no Teste de 30 Dias, a correção deste fator e os pequenos ajustes nos equipamentos pode colocar o modelo onde ele merece, pois não há dúvida que se trata de um excelente automóvel.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª Semana 2ª Semana 3ª Semana
Honda ZR-V
Dias: 30
Quilometragem total: 1.623,8 km
Distância na cidade: 523,6 km (32%)
Distância na estrada: 1.100,2 km (68%)
Consumo médio: 9,5 km/l
Melhor média: 16,0 km/l
Pior média: 5,5 km/l
Média horária: 32 km/h
Tempo ao volante: 51h06
Litros consumidos: 173,5
Preço médio litro: R$ 6,06
Custo: R$ 1.052,40
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,65
FICHA TÉCNICA HONDA ZR-V TOURING | |
MOTOR | |
Designação | K20Z5 |
Descrição | Dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio. duplo comando de válvulas, corrente, controle de fase e de levantamento na admissão e escapamento, árvores contrarrotativa de balanceamento, injeção no duto, sistema de injeção PGM-FI. gasolina 91 RON (comum) |
Cilindrada (cm³) | 1.996 |
Diâmetro x curso (mm) | 86 x 85,9 |
Potência (cv/rpm) | 161 / 6.500 |
Torque (m·kgf/rpm) | 19,1 / 4.200 |
Taxa de compressão (:1) | 10,8 |
Densidade de potência (cv/L) | 80,6 |
Densidade torque (m·kgf/L) | 9,6 |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo Honda dianteiro com câmbio automático CVT, trocas manuais sequenciais por borboletas, modo Sport, conversor de torque, tração dianteira |
Número de marchas | 7 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente McPherson, braço de controle triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Independente multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, dois pinhões, eletroassistida indexada à velocidade |
Relação de direção (:1) | 12,5 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11 |
Voltas entre batentes | 2,8 |
Diâmetro do voante (mm) | 370 |
FREIOS | |
Atuação | Servoassistência a vácuo, duplo-circuito em diagonal, ABS, distribuição eletrônica das forças de frenagem, auxílio a frenagens de emergência |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado / 312 |
Traseiros (Ø mm) | Disco / 310 |
Freio de estacionamento | Eletromecânico, atuação rodas traseiras |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 6,5J x 17 |
Pneus | 215/60R17H (Michelin Primacy All Season) |
Estepe | Temporário estreito T135/90D17M com roda de aço |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, suve, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro e traseiro de alumínio |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.568 |
Largura sem / com espelhos | 1840 / 2.093 |
Altura | 1.611 |
Entre-eixos | 2.655 |
Distância mínima do solo | 178 |
ANGULOS (º) | |
Entrada | 16,4 |
Saída | 20,2 |
Transposição de rampa | n.d. |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.446 |
Capacidade de carga (kg) | 464 |
Peso bruto total (kg) | 1.910 |
Volume do porta-malas (L) | 389 / 1.306 com os encostos do banco traseiros rebatidos |
Tanque de combustível (L( | 53 |
DESEMPENHO | n.d. |
CONSUMO DE GASOLINA, INMETRO | |
Cidade (km/L) | 10,2 |
Estrada (km/L) | 12,1 |
GARANTIA | 3 anos |