A Renault demorou mais que as concorrentes para lançar seu câmbio robotizado. Em compensação, na minha opinião, o Easy’R chegou à frente dos outros com uma só embreagem. Vale lembrar que o robotizado da Ford (New Fiesta) é o único nacional que tem dupla embreagem nessa categoria. O câmbio é Renault e o sistema é da ZF. Suas trocas de marcha são as mais macias e praticamente não provoca as tais “cabeçadas”, as interrupções de potência.
Ao roboticamente iniciar a troca de marcha, o sistema do Easy’R age do seguinte modo: ao chegar ao momento da troca, ele começa a desacoplar a embreagem, mas nesse momento do desacoplamento ele não desacelera bruscamente, ele vai desacelerando aos poucos, então não há interrupção brusca da aceleração. Daí não vem a cabeçada para frente. Em seguida ele troca a marcha e vai acoplando a embreagem aos poucos, e esse acoplamento é coordenado com o comando do acelerador para que ele não acelere demais. Então, enquanto a embreagem vai sendo acoplada aos poucos, o giro também vai subindo aos poucos. Daí não vem a cabeçada para trás.
Bom, o que foi descrito é feito em instantes. Não é uma coisa lenta. Na verdade todo sistema de câmbio robotizado tenta imitar fielmente o que um bom motorista faz durante a troca de marcha, e este da Renault é o que, a meu ver, dentre os de monoembreagem, melhor o imita. O resultado é que o Easy’R troca marchas melhor que a grande maioria dos motoristas, mas ainda é superado pelos mais aprimorados. Sendo assim, esta maioria ficará plenamente satisfeita com o trabalho do Easy’R e a minoria mais aprimorada o achará suficientemente bom.
A utilização é simples. A alavanca tem dois canais longitudinais. Após a partida, que só é feita em N (neutro) e com o pedal do freio acionado, trazemos a alavanca para trás e estamos no D (drive). Tudo à frente é R (ré). Só isso. Não tem tecla S. Se o motorista quiser ditar o momento da troca de marcha, estando em D ele traz a alavanca para a esquerda. Ali, com um toque para trás sobe marcha e para frente reduz. O Bob não gosta dessa disposição, prefere o contrário. Para mim, tanto faz, pois acho que logo o motorista se acostuma com um ou outro. Ao menos eu logo me acostumo. Além disso, a vantagem dos câmbios robotizados, seja de uma ou duas embreagens, e dos automáticos epicíclicos, é que eles não aceitam marcha errada. Portanto, durante a fase de “treinamento” erros não trazem conseqüências danosas nem ao câmbio, nem ao motor.
Não há borboletas atrás do volante. Quando comandamos manualmente reduções de marcha, há acertada aceleração interina e esta equaliza perfeitamente o giro com a marcha entrante, daí a redução acontece macia como deve ser.
Mesmo em Drive podemos facilmente comandar reduções de marcha. Basta frear, seguir freando, e concomitantemente à freada dar uma acionada rápida no acelerador — punta-tacco!. Assim, ele também reduz marcha sem precisarmos recorrer à alavanca.
Mesmo no modo manual o câmbio passa marcha acima assim que a rotação atinge 6.000 rpm. Fora isso, estando no modo manual ele aceita nossa ordem e mantém a marcha em que está, então, por exemplo, estando em 5ª marcha começamos a pegar um aclive razoavelmente forte. Dali a pouco a 5ª marcha passa a ficar inservível, mas mesmo assim ele a mantém. Ele só reduzirá se aceleramos bem fundo, sinal certo de que solicitamos uma retomada forte, daí ele pode reduzir uma ou mais marchas, dependendo da situação. Solução acertada, adequada, a meu ver.
Ele tem creeping (avanço lento), ou seja, ele anda mesmo em marcha-lenta, lentamente. Então, ao colocarmos em D, ou R — que só terão entrado se o carro estiver freado —, tiramos o pé do freio e após aproximadamente 1 segundo, mesmo sem aceleramos ele começa a se mover. Isso é bom. Facilita nas manobras de garagem e no trânsito congestionado, “anda-e-pára”. Parado e com o freio acionado, seja o do pedal ou o de estacionamento, a embreagem fica desacoplada, portanto, nesse momento não há desgaste desta, o que é bom. Os da VW, Fox e up!, por exemplo, exigem que aceleremos um pouco para que a embreagem acople e o carro comece a se mover. Já o Dualogic Plus da Fiat também tem creeping.
Tal qual no câmbio manual, são cinco marchas. Houve alteração nas relações de marchas de modo a diminuir a diferença de giro entre a 1ª e a 2ª marcha. A 1ª foi mais alongada do que a 2ª o foi. Assim, com menor diferença entre elas, principalmente nessa velocidade crítica, baixa, quando o carro ainda está em aceleração e ainda não adquiriu suficiente inércia, esse menor degrau entre as marchas coopera para que haja maior suavidade na troca de marcha. Em 5ª marcha a 120 km/h o giro fica em 3.510 rpm, no câmbio manual fica em 3.500 rpm, ou seja, a relação final não se alterou mesmo tendo havido mudança na relação do diferencial, que passou de 4,36:1 para 4,50:1.
A tabela abaixo dá melhor idéia das alterações no câmbio em função da robotização:
Manual | Easy’R | ||||||||
Marcha | Dif. | Rel. final | v/1000 | Marcha | Dif. | Rel. final | v/1000 | ||
1ª | 3,73 | 4,36 | 16,3 | 7,0 | 1ª | 3,55 | 4,50 | 16,0 | 7,1 |
2ª | 2,05 | 4,36 | 8,9 | 12,8 | 2ª | 2,24 | 4,50 | 10,1 | 11,2 |
3ª | 1,32 | 4,36 | 5,8 | 19,6 | 3ª | 1,46 | 4,50 | 6,6 | 17,2 |
4ª | 0,97 | 4,36 | 4,2 | 27,1 | 4ª | 0,97 | 4,50 | 4,4 | 25,8 |
5ª | 0,76 | 4,36 | 3,3 | 34,5 | 5ª | 0,74 | 4,50 | 3,3 | 34,5 |
O Easy’R funciona bem no trânsito. Praticamente não fica indeciso, não “pára pra pensar”, e toma logo a decisão correta. E vai bem na estrada, o motorista querendo uma tocada mais rápida, ele muda para o modo manual e este o obedecerá com bastante fidelidade.
Bom, agora falando do carro. Já fizemos testes com o novo Logan Expression, mas vale dizer que um de seus pontos de destaque está na maciez da suspensão, sem ser mole. Ele encara asfalto ruim como se nada fosse. A suspensão anula bastante a imperfeição do piso e se mostra também robusta e silenciosa.
O motor Hi-Power mostrou que está bem econômico. Com o “combustível completão”, o álcool, na cidade fez entre 8 e 9 km/l, dependendo do trânsito, e na estrada, em cruzeiro de 120 km/h, ele fez 11 km/l. O desempenho é plenamente suficiente para a proposta. É bastante elástico; o pico do torque vem em giro bem baixo. São 106 cv a 5.250 rpm e 15,5 m·kgf a 2.850 rpm, quando com o álcool, e 98 cv e 14,5 m·kgf às mesmas rotações, com gasolina. O motor me pareceu mais silencioso do que era. Ou ele está mais suave e silencioso mesmo, ou ele foi melhor suavizado e silenciado, com melhores coxins e mantas fonoabsorventes. De qualquer modo o resultado foi bom, pois o carro roda em silêncio. Viaja bem e com tranqüilidade. Carro firme na estrada, bancos confortáveis de boa espuma e ergonomia. Só falta regulagem de distância do volante, que só tem de altura.
Pedais de ação gradativa, nada brusca. Volante que não é leve demais, como gosto, que nos conecta ao carro. Bom espaço no banco traseiro, bom volume do porta-malas. Muitos recursos, tais como controle de velocidade máxima e controle de velocidade de cruzeiro, GPS, tela tátil multimídia, ar-condicionado automático, sensor de ré e outras amenidades. Acabamento bom, mas não requintado. Mas os mostradores de velocidade e giro do motor são de difícil leitura, principalmente de dia, com luzes desligadas, e com visual poluído.
Um bom carro — que agora vem com a conveniência de passarmos a ele o trabalho das trocas de marchas — para quem quer um carro familiar. Um confortável sedã com várias recursos para tornar o nosso dia-a-dia mais ameno. Preço: R$ 52.580.
AK
Fotos: autor e Paulo Keller / Vídeo: Paulo Keller
FICHA TÉCNICA NOVO LOGAN DYNAMIQUE COM CÂMBIO EASY’R | ||
MOTOR | ||
Tipo | 4 tempos, 4 cilindros transversais em linha, comando de válvulas no cabeçote, correia dentada, atuação indireta sem compensação hidráulica de folga, duas válvulas por cilindro, bloco de ferro fundido, cabeçote de alumínio, flex | |
Cilindrada | 1.598 cm³ | |
Diâmetro x curso | 79,5 x 80,5 mm | |
Taxa de compressão | 12:1 | |
Potência | 98 cv (G) e 106 cv (A) a 5.250 rpm | |
Torque | 14,5 m·kgf (G) e 15,5 m·kgf (A) a 2.850 rpm | |
Formação de mistura | Injeção eletrônica seqüencial | |
Combustível | Gasolina E25 e/ou álcool hidratado | |
TRANSMISSÃO | ||
Câmbio | Transeixo dianteiro robotizado de 5 marchas, comando elétrico | |
Relações das marchas | 1ª 3,55:1. 2ª 2,24:1; 3ª 1,46:1; 4ª 0,97:1; 5ª 0,74:1; ré 3,55:1 | |
Relação do diferencial | 4,50:1 | |
SUSPENSÃO | ||
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular inferior, mola helicoidal, amortecedor hidráulico e barra estabilizadora | |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor hidráulico e barra estabilizadora | |
DIREÇÃO | ||
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica, diâmetro de giro 10,6 m | |
Voltas entre batentes | 3,4 | |
FREIOS | ||
Dianteiros | A disco ventilado de Ø 259 mm | |
Traseiros | A tambor de Ø 203 mm | |
Circuito hidráulico | Duplo em “X” | |
RODAS E PNEUS | ||
Rodas | Alumínio 5J x15 | |
Pneus | 185/65R15 | |
DIMENSÕES | ||
Comprimento | 4.349 mm | |
Largura | 1.733 mm/1.994 mm com espelhos | |
Altura | 1.529 mm | |
Distância entre eixos | 2.635 mm | |
AERODINÂMICA | ||
Cx | 0,34 | |
Área frontal (calculada) | 2,12 m² | |
Área frontal corrigida | 0,72 m² | |
PESO E CAPACIDADES | ||
Peso em ordem de marcha | 1.070 kg | |
Porta-malas | 510 litros | |
Tanque de combustível | 50 litros | |
DESEMPENHO | ||
Aceleração 0-100 km/h | 11,9 s (G) e 11,6 s (A) | |
Velocidade máxima | 178 km/h (G) e 180 km/h (A) | |
CONSUMO | ||
Cidade | Não informado | |
Estrada | Não informado | |
CALCULOS DE CÂMBIO | ||
v/1000 em 5ª | 34,2 km/h | |
Rotação a 120 km/h em 5ª | 3.510 rpm | |
Rotação à velocidade máx. 5ª | 5.260 rpm | |
MANUTENÇÃO | ||
Revisões/troca de óleo | A cada 10.000 km | |
GARANTIA | 3 anos ou 100.000 km |