Este post, obviamente, nasceu como contraponto a outro que fizemos recentemente, o de dez melhores carros para quando dinheiro não é problema. É, na verdade, o oposto perfeito daquele; um lida com sonho, fantasia e um gênio da lâmpada. Este é lamentavelmente mais real e árido, mas como vocês podem ver abaixo, não sem um pouco de imaginação, criatividade e alegria. Como aquele, fizemos um pouco diferente desta vez: ao invés de somente um de nós escolher dez carros, todos os membros do time do Ae foram convidados a participar, escolhendo um carro cada.
E a culpa, desta vez, não é minha. É do “tio” Josias Silveira, que colocou a ideia na nossa reunião no Audi Day. Ele realmente adora este tipo de coisa, e parece, olhando seus carros, que tem vasta experiência no quesito “pobreza”. Na verdade, todos temos; é um tema bem mais comum e real que aquele outro que fizemos. Para a maioria aqui, a escolha foi fácil: é só uma olhada na garagem. Pobreza e jornalismo automobilístico, por algum motivo desconhecido, parecem andar de mãos dadas.
A regra aqui é simples: imagine que você faliu, mas pode ainda gastar 15 mil reais num carro. Qualquer escolha vale, abaixo deste teto. Uma legítima lista de pindaíba. Mas com imaginação e pragmatismo, nossos intrépidos colaboradores escolheram carros que podem, mesmo sendo baratos e velhinhos, manter a chama do entusiasmo acesa até a chegada de dias melhores. Bem oportuno, não acha?
Na ordem que chegaram à redação, são eles:
Josias Silveira
Para mim, não é uma hipótese. Comprar um carro barato foi necessidade várias vezes na vida. A mais interessante, e que se estende até hoje, foi no começo dos anos 2000. Fiz alguns negócios e precisava de grana. Vendi vários carros, inclusive o de minha mulher, que tinha algo “grande” para uso, um Alfa Romeo 164 ou um Santana Quantum. Estava duro e sobraram R$ 10 mil para comprar alguma “coisa andante”. Fui para o feirão do Anhembi, em São Paulo aos domingos, com este objetivo: comprar um carro até R$ 10 mil, que rodasse bem e eu não “escutasse um monte” da esposa.
Cheguei lá e não achei o carro. Achei a dona. Uma garota linda, com um corpo escultural, de legging e roupa justa, uma graça, toda sorridente. Era uma personal trainer e fui sincero:
— Não sei o que você está vendendo, mas eu compro.
Ela levou na boa a brincadeira e me mostra um Renault Twingo, 1995, aquele azul meio roxo, motor 1,2 “CHT” (era o mesmo motor do Escort e Gol com cilindrada reduzida pelo curso dos pistões) e bem conservadinho. Era a vendedora perfeita. Era mulher e linda, o que certamente alongava a negociação e tornava sua visão feminina mais confiável. Mulheres vêem coisas que a gente nem percebe. Ela me confessou que amava o Twingo e que só o estava vendendo por ter comprado um mais novo, com motor 1,0 16V do Clio. Acabei fechando o negócio por algo em torno dos R$ 6.000 e entreguei o carrinho para minha mulher com desculpas. Tudo após uma revisão que revelou nada. O carrinho estava realmente ótimo, com manutenção toda em dia. Só coloquei umas rodinhas de liga de 13″, já que é fácil: a furação é 4×100, igual ao do Gol mais antigo.
Fui claro para minha mulher: “se vira com esta encrenca que em dois meses entra uma grana e compro algo melhor”.
Minha mulher se apaixonou pelo Twingo e me mostrou qualidades que eu não havia percebido: o enorme espaço interno que parece de um carro maior, o banco traseiro corrediço que abre um enorme espaço para compras (super-copiado em muitos carros atuais), a facilidade para estacionar, economia de combustível, ninguém quer roubar…
Da minha parte, gostei da manutenção barata e mecânica de “jipinho”: não quebra mesmo mal tratado e esquecido.
Moral da história. Depois daquele primeiro Twingo, minha mulher não quer outro carro. Já teve vários e, dois anos atrás, restaurei um 1998 para ela, pois ela não gostou de uma dezena de carros que arrumei, inclusive um Clio zerinho. Na minha cabeça masculina e de engenheiro, o Clio era o mesmo Twingo (mecanicamente) com carroceria diferente.
Ela deu uma volta no quarteirão com o Clio novinho, devolveu a chave e declarou:
“Quero outro Twingo”.
Hoje um bom Twingo custa até R$ 10mil (uns R$ 15 mil para um Initiale, o topo da linha com airbags, bancos de couro, direção elétrica e outros quetais).
Acabei também gostando do Twingo por várias razões, inclusive praticas; excelente custo-benefício, baixa manutenção e peças baratas em duas redes paralelas que vendem componentes Renault (do mesma marca dos fornecedores originais) por preços mais baixos que os de carros nacionais (RenoTech e RR Parts).
Além disso, tem o “plus a mais”, a diversão em estradas. Quando viajo com o Twingo (para “limpar a garganta de um carrinho que roda muito em cidade e em baixa rotação) é muito legal ver a cara do pessoal surpreso por ver um “caco velho estranho” cruzando tranqüilo entre 120 e 140 km/h.
Ou seja, até R$ 15 mil, ou bem menos, se acha muito Twingo legal que vai rodar sem dar problemas. A pior parte é que, quando se acha um Twingo realmente “zerado”, o dono não quer vender. Mas basta procurar bem, e pagar um pouquinho mais, que se tem uma ótima e barata opção de transporte, com o charme de ser um carro diferente e inovador até hoje.
JS
André Antonio Dantas
Esta faixa de mercado é bastante disputada. Os carros vão desvalorizando, mas quando atingem a faixa entre 10 e 15 mil reais começam a desvalorizar não mais pelo ano, mas pelo estado de conservação. Assim, é possível encontrar uma variedade enorme de opções, desde os populares com motor de 1 litro a carros médios com motor de 2 litros um pouco mais velhos.
Entretanto, essa escolha tem para mim um campeão disparado: Kadett Sport 2.0 95~97
Com o fim da linha Monza, morria junto o motor Família II com injeção EFI, deixando a linha Kadett sem motor. A saída foi instalar o motor Família II do Vectra. A parte baixa era do motor velho e confiável, porém recebendo cabeçote, coletores de admissão e escape e sistema de injeção muito mais avançado que a velha EFI. Com isso a potência do motor subiu para 121 cv (EFI: 116 cv a álcool / 110 cv a gasolina).
Na linha Kadett a GM optou por fabricá-lo inicialmente apenas com motor 1,8-litro exceto a versão esportiva GS/GSi justamente para não haver uma comparação direta de desempenho entre as versões mais baratas com a esportiva de topo. Um pouco deste conceito caiu com a mudança de motorização, e há muitos Kadett desta última safra com motor 2-litros.
É um carro muito mais potente e confortável que a maioria dos populares que povoam esta faixa de mercado, e ainda assim é um veículo confiável e de mecânica simples e descomplicada. O Kadett é um dos modelos do fim de uma era no mercado nacional, quando as Quatro Grandes dominavam o mercado com poucos modelos garantindo grande número de unidades vendidas. Isso se traduz em facilidade para comprar peças novas para um veículo beirando os 20 anos de uso que é superior à grande maioria dos veículos atuais zero-quilômetro.
No caso do Kadett, muitos componentes mecânicos são comuns a vários outros modelos anteriores e posteriores, indo do Monza a até ao Agile, o que garante que estas peças terão fornecimento garantido por mais uns bons anos à frente.
Ainda é possível encontrar alguns Kadett Sport em bom estado de conservação na faixa entre R$ 10.000,00 e R$ 15.000,00 como a proposta deste artigo, sendo uma opção bastante válida para aqueles com pouco dinheiro no bolso.
AAD
Wagner Gonzalez
Meu primeiro carro nos anos que morei na Inglaterra foi um Alfasud 1500 Ti, indivíduo de enorme pedigree: amaciado por Chico Serra e acelerado por Ayrton Senna (seus dois primeiros donos), o carrinho acabou ganhando espaço na porta de casa, em Priory Terrace, meu endereço em Londres. Apesar de sua relação sentimental com a ferrugem, esse Alfinha me deu muitas alegrias e emoções Um Alfa é sempre um ser temperamental e extremamente charmoso e encontrar um modelo passado a limpo daquele Alfasud por pouco menos de R$ 15.000,00 em terra brasilis mexeu com os meus brios…
Por isso tudo, está aí minha escolha: Alfa Romeo 145.
WG
Juvenal Jorge
Minha idéia é que se você está mal da carteira, deve ter provisão para comprar um carro barato e também mantê-lo decentemente. Nada de arames de baixa qualidade, ao menos galvanizado, se for preciso segurar algo no lugar, como o escapamento, por exemplo.
Considerando muitas coisas, opto por uma Escort SW, a perua, ano 2002 ou 2003, finalzinho de produção deste tão útil modelo, que tem motor Zetec 1,8, anda bem pacas e nem tem tantas dificuldades de encontrar peças que obviamente serão necessárias.
O espaço interno desse carro só mesmo entrando para ver. Porta-malas monstro, algo que prezo muito, e visibilidade entre as melhores que já presenciei, sem colunas largas nem linhas de cintura na altura do queixo dos ocupantes. É também bastante suave na suspensão, e o conforto está garantido nesse quesito.
Claro que conviver com alguns ruídos de peças de acabamento é regra em carros mais antigos e que já tanto sofreram em nossas porcarias de asfaltos e concretos da pavimentação de baixíssima qualidade que é padrão brasileiro, mas minha experiência em melhorar carros em estado médio e torná-los bem aceitáveis é de grande valia nesses momentos. Meus amigos, inclusive, chamam esse processo de “Juvenalização”, e minha mãe sempre disse: “ Compra o carro ruim, arruma tudo e depois vende ! “. É a vida, fazer o quê ?
Há anúncios desse carro com preços por volta de 10 mil reais, alguns abusando um pouco mais, ou por vontade ou pelo estado do carro. Do jeito que anda o mercado, os 10 mil são aposta firme, se for pagamento integral, aquele depósito ou transferência no ato, deve ser possível conseguir algo ainda melhor, sobrando assim uns 5 mil reais para eventuais melhorias e consertos de emergência.
Não vou falar em cotar seguro, porque como dizem os economistas “não vai dar business”, já que o valor vai ser seguramente muito alto pelo ano e valor do carro.
Para andar de carro velhinho é preciso ter fé, e de vez em quando pagar alguns estacionamentos, e para isso os 5 mil reais de sobra devem ser usados também.
É uma arte ter carro velho, sem dúvida alguma, e faz mais bem para o desenvolvimento do raciocínio e das habilidades de diagnóstico e conserto de problemas do que um carro novinho, daqueles que é só colocar combustível e rodar. O velhinho se torna parte da família, e requer cuidados e pensamentos extras, como uma pessoa de mais idade que conviva conosco.
Não é bicho de sete cabeças, dá para encarar, e se for um carro espaçoso e que acelere bem como esses Escort Zetec, tanto melhor.
JJ
Milton Belli
Se der sorte de achar um modelo com motor 1,6-litro bem cuidado, é uma boa, pois anda mais que o tradicional 1-litro gastando pouca coisa a mais. Se não der, a opção do 1-litro não deixa a desejar. Não podemos exigir o desempenho de um Tempra 2-litros, mas o carrinho é esperto, na mão e realmente multiuso.
MB
Marco Antônio Oliveira
Escolher um carro para quando precisamos de dinheiro, e de não carro, é fácil. Simplesmente porque já o fiz inúmeras vezes, a mais recente há pouco mais de um ano, quando tive que vender um adorado Cruze hatch vermelho, com câmbio manual e pouco mais de um ano de uso, para fazer algum dinheiro. Como já contei aqui no Ae, acabei por fazer uma viagem meio maluca para o Rio de Janeiro para comprar um Citroën Berlingo 2001, verde por dentro e por fora, com teto de lona elétrico e quatro portas. Me custou exatamente o limite proposto para este exercício, 15 mil reais. Caro para um Berlingo, mas julgo justo pelo estado impecável.
O Berlingo foi perfeito para mim. Tem ar-condicionado, que reputo indispensável, tem muito espaço interno, e ainda é econômico em combustível. É extremamente versátil, um carro que pode ser usado para passeios noturnos com a família com o teto aberto no sábado à noite, e no domingo estar carregado de lixo indo para o ponto de coleta. E acreditem, minha casa produz MUITO lixo. Para substituí-lo por carros mais convencionais, precisaria de um conversível de 4 lugares, uma picape, e talvez um carro 1-L com ar-condicionado para a esposa usar todo dia. Incrível.
Mas o inesperado, para quem não o conhece, é como é bom de dirigir. Requer um ajuste inicial sensorial, pelo banco (e posição no carro) de van, alto e com um enorme pára-brisa “em pé” na sua frente, em posição que parece totalmente vertical. Mas, uma vez acostumado a isso, é um carro que, como diz meu amigo Bill Egan, “faz muito mais curva do que teria direito algo tão alto, e com pneus tão finos”. Fruto, acredito, de seu longo entre-eixos, e de um ajuste de suspensão muito bom. O carro é confortável, mas faz curvas incrivelmente bem — claro que relativamente, não é um carro esporte, mas é firme e seguro, fazendo com que o entusiasmo venha fácil. Ajuda a alavanca de câmbio, que é um capítulo à parte: longa, mas de curso curto e preciso, é um prazer de usar, com certeza é o mais legal detalhe de um carro cheio de detalhes legais. É uma coisa boa demais usá-lo, ajudado pela embreagem (nova, troquei) com pedal levíssimo, mesmo sendo acionada pelo arcaico cabo Bowden. E como freia! Impressionante. Talvez por ser dimensionado para andar perenemente com uma carga de uma tonelada de baguetes, esse furgão francês freia muito levando apenas quatro passageiros.
O carro é um Citroën clássico: entre-eixos longo, conforto e estabilidade invejáveis, e um motor apenas suficiente. O 1,8-litro de oito válvulas tem apenas 90 cv, não é particularmente suave, nem forte, nem econômico. Mas ajudado pelo baixo peso do carro, um bom torque em baixa, e relações de marchas bem ajustadas a ele, o Berlingo um carro que é fácil de andar rápido, econômico pelo seu tamanho e capacidade de carga, e razoavelmente confortável.
Mas o Berlingo não era minha primeira escolha. Era a segunda. Só peguei ele porque a primeira não existia à venda, e o meu Berlingo estava em estado de novo, cuidado a pão-de-ló por seu primeiro dono desde 2001. Minha primeira escolha? Peugeot 406 Familiale, com câmbio manual.
E por quê? Bem, primeiro porque minha mulher não gosta do Berlingo. Gosta da utilidade, entende a situação financeira, mas o sentimento de que está num furgão de entregas glorificado, na aparência externa, na posição de dirigir, e pelo pouco refinamento em ruídos e vibrações, estraga o carro para ela. Minha filha de 15 anos então nem se fala: ela morre de vergonha do furgão verde. Eu nunca liguei para opiniões de outras pessoas nas minhas escolhas, mas ter uma adolescente em casa subitamente me torna dolorosamente mais antenado com o que é legal e o que não, da perspectiva de um jovem em 2015. Não é algo bonito de saber, garanto a você!
O segundo motivo é porque eu também, apesar de adorar o furgão conversível, sei que gostaria mais de um carro mais baixo e com desempenho e refinamento maiores. A perua 406 perde em praticidade para o Berlingo (onde mais se coloca bicicleta de pé sem baixar banco e protegida da chuva?), mas tem um enorme porta-malas, com um bônus: banco extra rebatível virado para trás, como em peruas americanas antigas. Os sete lugares seriam ótimos, pois quando temos visitas, o que é freqüente, podemos ir todos almoçar juntos. E fora isso, é um automóvel e não um furgão, fato que carrega consigo um batalhão de coisas que gosto: baixo, motor de 2 litros multiválvulas forte e econômico, câmbio de marchas longas (o Berlingo tem que ser mais curto por uma série de motivos), e mais bonito de uma forma tradicional, que me agrada mais.
O duro é achar uma, já que são raras, e mais ainda com câmbio manual. O automático tem péssima reputação, com reparos potencialmente mais caros que o carro todo, e portanto melhor evitar. Mas se você achar um, vai pagar bem menos de 15 mil.
Quando se tem pouco dinheiro, o carro tem que assumir o máximo de funções possíveis; um carro esporte de dois lugares é limitado em seu uso. Acho que uma perua dessas para é um compromisso perfeito para essa nossa situação imaginária.
MAO
Roberto Agresti
Nessa de comprar um carro até 15 mil para tempos difíceis (os atuais) acho que optaria por um flashback, ou seja, comprar um carro que já tive e gostei.
Assim, caso achasse uma decente, optaria por uma Fiat Elba. Entre 1990 e 1995 tive três peruas dessas, em versões 2 e 4 portas, 1,5 e 1,6. O última era um show, tinha inclusive ar-condicionado e um acabamento ótimo. Portamalão, confortável, esperta, robusta. Deixou saudade. Mesmo a primeira delas, duas portas, espartana, motor 1,5 a álcool, era surpreendente. Fazia 12-13 km/l na estrada e 9–10 na cidade. Qual flex atual faz isso?
Se não achasse Elbas decentes, optaria por um Uno. Também tive uns (3) e o que mais gostei foi um 1995, CS i.e., cujo motor 1,5 a gasolina tinha 67 cv, o que tornava o bicho bem divertido por conta do peso em ordem de marcha, 905 kg.
Como terceira opção, outro antigo companheiro: um Palio 4-portas ELX com um motor Sevel 1.,6 8V argentino, menos potente que o 16v, mas um verdadeiro trator. Fora isso, esse Palio de 1998 era muito mais bem acabado que seus sucessores. Único senão era a suspensão meio mole demais para meu gosto. No meu, tirei as rodas aro 13 e usava 14 com pneus levemente mais largos. Faria igual. Um carro desses se acha por menos de 12 mil, ou seja, ainda sobra para colocá-lo “em pé”.
RA
Bob Sharp
Tempos sombrios, pouca entrada de dinheiro, necessidade de apertar o cinto e procurar atravessar a turbulência economizando, mas sem perder a dignidade. Em tudo e, claro, no carro nosso de cada dia.
Por isso, levando em conta que sou adepto de peruas (o leitor sabe disso), gosto de turbos (embora aprecie um belo aspirado como o motor da Audi RS 4 Avant), encantam-me os motores DOHC (duplo comando de válvulas) e de quatro válvulas por cilindro, aprecio os bons motores de 1 litro, não tenho, absolutamente, medo de correia dentada, e abomino os carros “fréquis”, estaria eu bem servido com que carro? Será que pela “receita” o leitor já adivinhou qual?
Se pensou na Volkswagen Parati Turbo, acertou.
Pesando 1.061 kg, os 112 cv a 5.500 rpm e os 15,8 m·kgf a 2.000 rpm são mais que suficientes para me fazer pular nos pedágios e chegar a 100 km/h em 9,8 segundos e, se quiser, ficar na portaria do Clube dos 200, a 191 km/h. De quebra, trafegar nas elevadas altitudes tipo Campos do Jordão (1.600 metros) como se estivesse sentindo o cheiro de maresia.
Só trataria de alongar o diferencial, pois a v/1000 de 30,2 km/h é pouco: 4.000 rpm a 120 km/h e 6.300 rpm a 191 km/h, 800 rpm acima da rotação do pico de potência, é muito. Ainda devo encontrar por aí algum conjunto de coroa e pinhão 40/9 dentes (4,444:1) do tempo em que eu dirigia competições na VW, elevando a v/1000 para 32,5 km/h e passando cruzar a 120 km/h a 3.700 rpm — bem melhor —, além de deixar o motor mais sossegado em velocidade máxima, a 5.900 rpm.
Afinal, o leitor sabe que não sou preguiçoso para manipular a alavanca de câmbio na hora que topar com um dejeto viário.
Uma ano 2002, pela Fipe, está por R$ 14.413.
Passaria os anos de só penas — sem frangos — com dignidade (muita) e prazer ao dirigir (excepcional), pois já a dirigi bastante em testes, incluindo uma viagem a Brasília (1.170 metros de altitude) com ela lotada e sei o que estou falando.
Foi uma pena terem parado de produzi-la, vítima da reclassificação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em agosto de 2002 com a criação da faixa de cilindrada 1.000 a 2.000 cm³ — antes, até 1.000 cm³ e acima, só duas —que lhe tirou a competitividade. Carros dessa faixa recolhiam 25% de IPI e passaram a 15% (gasolina) e 13% (álcool), bem mais perto dos 7% dos até 1.000 cm³.
E pena II: a Volkswagen já tinha uma versão de 130 cv — a gasolina!— validada na rampa de lançamento!
BS
Arnaldo Keller
Fases de dureza são fases de dureza e quem já passou por elas, como passei, bem sabe que para sair da encrenca não se pode brincar. A escolha do carro, portanto, deixa de ter a busca do prazer como componente condicionante para a sua escolha. Se o carro tiver características que nos proporcionem o prazer esportivo, ótimo. Se não, tudo bem, e o prazer que fique para depois.
Qual carro eu escolheria? Qualquer um. Sim, qualquer um, desde que:
Estivesse em boas condições mecânicas para que não aparecesse com quebras e suas conseqüentes despesas em momentos financeiramente inoportunos.
Gastasse pouco combustível. Não que pequenas diferenças no consumo mudem muito a situação financeira do “endilmado” — o sujeito que está sofrendo pelas besteiras da Dilma —, mas porque o gasto com combustível pesa no psicológico do sujeito.
Que tivesse ar-condicionado, porque sufoco financeiro dá sensação de sufoco, então é prudente evitar agravar essa desagradável sensação.
Que estivesse bom de pneus, senão, com o aperto de grana, o endilmado acabará adiando a sua troca e essa é uma péssima decisão.
Quanto à beleza do carro, isso é secundário e não condicionante. O importante é que o endilmado se vista bem. Mais vale descer com elegância de um carro requenguela que descer requenguela de um carro elegante. Além do mais, homem que é homem se garante seja lá em que carro estiver.
A vida segue, as fases de duras provações passam, e o que elas deixam de bom é que o sujeito vê quem ele é e quem são os que o rodeiam. E tudo bem.
AK
Nora Gonzalez
Bom espaço interno e um motor que puxa bem
Esta é para quem realmente quer economizar: Peugeot xsi 205 1997. Tem muitos que são completas sucatas, mas por R$ 7.000 se encontram vários embora bastante rodados — por isso talvez seja o caso de guardar um pouco dos R$ 8.000 que “sobram” para fazer alguns reparos. Tenho um desses e, embora o design não me agrade, aquilo que é menos subjetivo me agrada muito. Bom motor de 75 cv que faz dele um foguetinho. Apesar de simples, vem com ar-condicionado, trava elétrica central, vidros elétricos. Para mulheres, então, é show a quantidade de porta-trecos que tem. Acho que se algum dia vender o meu, anos depois o proprietário encontrará algum objeto que me pertence. O porta-malas tem 290 litros e o fato de os bancos traseiros serem rebatíveis aumenta o espaço para 585 litros e faz com que se transportem coisas inacreditáveis, incluindo grandes árvores de Natal.
Mecanicamente, uma bela plataforma que não costuma dar problemas. Apenas a direção incomoda, pois é pesada, especialmente nas manobras de estacionamento. Mas em movimento não se percebe tanto. E você ainda economiza na academia.
A visibilidade é excepcional, embora seja um carro baixo. As amplas janelas, vidro traseiro e pára-brisa permitem que se veja tudo. Internamente, transporta quatro pessoas com muito conforto, mas acomoda uma quinta sem problemas.
NG
Coda:
Ao contrário do primeiro post coletivo que fizemos, em qual mal conseguimos chegar a conta de 10, este tivemos que escolher, pois as contribuições foram muitas. Entraram no post apenas 10, mas muito ficou de fora. O Meccia, fordista, escolheria o Fiesta Street 2006, 1.0 Rocam. O PK, dando vazão a seu gosto por carros pequenos rápidos, partiria para o Citroën AX GTI. Nosso adorável Ogrinho do cerrado, o Alexandre Garcia, teria o Palio 1,6 16V dos primeiros, se possível duas portas e em cores berrantes (“laranja Vitória ou verde escarro metálico”, segundo ele). Mas é a escolha do Roberto Nasser que não podia ser deixada de fora, por ser perfeita para terminar esta matéria:
“Antes de dizer da minha indicação, conto uma historinha. pelo cenário tocará o AK.
Meio da tarde, cai tremendo temporal no campo. cada gota é um petardo. um pobre de um filhote de canário da terra, bombardeado pela intempérie procura onde se abrigar. Pouco havia, pois voava numa estreita faixa de capim, entre plantações de soja e milho, das iniciativas mais anti-ecológicas que os nossos desgovernos já permitiram. Os agronegociantes passam dois tratores de esteira ligados por um correntão. nada sobra no caminho. Nem consciência.
O canarinho era pequeno, jovem, mas não era bobo, e seguia algumas vacas tocadas de volta ao curral. Sabia o canarinho, bosta de vaca é uma torta macia, verde, quentinha e cheia de sementinhas. Quando uma das vacas deu por encerrada a digestão e adubou o solo, o canarinho pulou de cabeça. Estava quentinho, o cheiro era de natureza, a chuva ficara de fora.
Chuva de verão, passou rápido, as nuvens deixaram o sol reaquecer a terra, e o canarinho, feliz com o meio ambiente que resolvera todos os seus problemas, começa a piar de alegria. Foi quando veio um gavião e traçou o passarinho.
Sabe qual a moral da história ? Quem está na merda não pia.
Estivesse nesta situação pré-falimentar, compraria um Gurgel Supermini. É nacional; visualmente arrumadinho; nele as suspensões retomaram o diálogo perdido no anterior 800; é extremamente econômico, parte do motor é VW 1600 a ar, e o restante é uma misturada dimensionada para carros maiores, significando não quebrar; e ainda permite fazer o mais desejado por proprietários de veículos desta faixa de preço e idade, bem usados e longe de se tornarem antigos: contar histórias.
Além do mais, tem custo inferior ao limite sugerido e permite poupar o restante para manutenção.
Gostou ? Não pie. Não gostou ? Idem.”
RN