O motor 1-L de 3 cilindros voltou ao Brasil no Kia Picanto e Hyundai HB20. E não faltaram jornalistas “especializados” para comentar ser uma solução inédita no Brasil…pois nem dão notícia da linha DKW-Vemag nas décadas de 1950 e 1960.
Aliás, que saudade do meu Belcar nas pistas. Das ligações que eu fazia para o Bob Sharp (em sua concessionária Cota, no Rio) para saber que relação de marcha ele usaria na corrida seguinte! E da paixão pelo meu GT Malzoni, que “acelerei” em Laguna Seca (Califórnia, EUA) na Monterey Historic Races, que naquele ano de 1999 teve a Audi como homenageada por completar 90 anos. Que, por falar nisso, acabou de ganhar motor cheio de veneno (sob inspiração do Bob) e carburação tripla. Show de acelerar… dentro de seus limites d’antanho!
O 1-litro virou febre na década de 1990 com o chamado “carro popular” (quatro cilindros) graças à redução do IPI para incentivar a indústria automobilística. Teve até 1-L com compressor (Ford) e turbocompressor (VW)…
O motor pecava por falta de desempenho e andava meio em decadência, até que uma nova tecnologia fez brilhar novamente a estrela do 1-L, ao trazer de volta os tricilíndricos. Que ganhou muito em rendimento pois o cilindro a menos reduz significativamente peso e atrito. Em compensação, os engenheiros deram duro para apaziguar a inevitável vibração provocada pelo número impar de cilindros. Depois do Kia e Hyundai, com motores importados, a primeira a fabricá-lo aqui foi a Volkswagen, que o aplica no Fox BlueMotion e no up! Depois foi a vez da Ford no novo Ka e, no início deste ano, a Nissan passou a produzi-lo em Resende para equipar March e Versa. Eles chegam a desenvolver 85 cv (Ford), potência até então só obtida em motores 1,4-L de quatro cilindros.
Estado da arte
No Salão de Genebra, a Opel (braço europeu da GM) convidou alguns jornalistas para rodar em seu novo compacto Adam, equipado com o novíssimo 1-L três-cilindros. Um motor “estado-da-arte”, sofisticado e com produção em Joinville (SC) já confirmada pela General Motors do Brasil.
Eu já tinha testado os compactos brasileiros com motor 1-L/três cilindros. Gostei da solução de engenharia de todos. Percebe-se um ligeiro “chacoalhar” em rotações mais elevadas. Mas, não vieram vibrações, ruídos nem aspereza (NVH) no nível que se esperava de um tricilíndrico. Entre eles, talvez o Nissan seja o mais equilibrado. Mas o da Opel é surpreendente: não se percebe vibração nem ruído algum que denuncie o número impar de cilindros. Nem mesmo provocando o motor ao forçar o ponteiro do conta-giros para cima e para baixo. O desempenho é admirável: rodei na versão mais sofisticada, com injeção direta e turbo, 115 cv sob o capô. Os comandos variáveis de admissão e escapamento contribuem para o bom torque (17,34 m·kgf) que já pinta em 1.800 rpm. Pode pisar fundo o acelerador, mesmo rodando manso, em quinta ou sexta marcha, que ele reage, não protesta e vai ganhando velocidade. Dá para jurar que são quatro cilindros sob o capô. E nenhum ruído extra para gerar pelo menos uma crítica do jornalista…
Pulo do gato
Rodei uns 20 quilômetros e fui conversar com um engenheiro da Opel que me explicou o “pulo do gato”: a inédita solução (neste segmento de motores) para se eliminar vibrações é a adoção de uma árvore contra-rotativa. Que gira na mesma rotação mas em sentido contrário ao do virabrequim. Quem teve mesma solução no Brasil foi o cinco-cilindros do Fiat Marea. O trabalho de insonorização foi também meticuloso e até a corrente metálica (ah, que alívio não ter a famigerada correia dentada…) recebeu dentes invertidos para evitar ruídos. São três variações sobre o tema: o mais simples tem 75 cv. O mais sofisticado ganhou turbo, injeção direta e pode render 90cv ou 115 cv.
No Brasil…
Sob qual capô ele desembarca no Brasil? No sucessor do Celta, a próxima grande atração da GM, com lançamento previsto para o final de 2016, se o governo Dilma não obrigar a empresa a mudar seus planos…
A engenharia da GM no Brasil trabalha sobre o projeto Vauxhall Viva (ou Opel Karl), um compacto de quatro portas lançado agora na Europa. Aqui, será o carro de entrada da Chevrolet, depois de adequado às exigências do nosso mercado, aumentando, por exemplo, o porta-malas do modelo europeu. Enquanto o Opel Adam usa o motor 1-L mais sofisticado, o Karl (filho de Adam Opel) fica com a versão mais simples, de 75 cv. Que deverá ser produzida aqui. Deve ganhar uns cavalinhos extras na versão flex e será, sem dúvida, o melhor motor da categoria. Os executivos da GM Brasil confirmam que ri melhor quem ri por último…
BF
Boris Feldman, jornalista especializado em veículos e colecionador de automóveis antigos, autoriza o Ae a publicar sua coluna publicada aos sábados no jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte (MG).
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.