Se você olhar os motores Diesel à venda hoje, notará que o turbocompressor é a norma. Simplesmente não existem mais motores Diesel aspirados, não-turbo. Nada mais lógico; motores Diesel têm como razão de sua existência a economia de combustível, a eficiência. Sendo assim, logo adotaram a superalimentação via turbocompressor como um caminho para isso.
A mesma lógica agora começa a tomar força para os motores ciclo Otto, e as turbinas estão ficando bem mais comuns e corriqueiras. Todo BMW moderno, por exemplo, já tem uma, e é um caminho sem volta e contínuo para todas as marcas.
Mas não foi sempre assim. O turbocompressor, apesar de inventado nos primórdios do automóvel, começou a ser utilizado tarde, a partir dos anos 1970 apenas. E do seu início até não muito tempo atrás era adotado tão-somente por um motivo: melhorar a potência de um carro. “Turbo” era uma palavra mágica, sonora, que sozinha dava a ideia de algo exponencialmente melhorado.
Antes dos avanços recentes que praticamente acabaram com o atraso de entrada da turbina, conhecido como “turbo lag”, os carros turbocomprimidos eram coisas nervosas, violentas, indomáveis. Você pisava fundo, e nada acontecia por um, dois longos segundos que pareciam demorar horas, e depois…BANG! Como uma explosão de fúria parecia que dois motores apareciam do nada e empurravam o carro de forma surreal até a linha vermelha do conta-giros. Na reta era divertido, mas em curvas, requeria habilidade e controle para que, na retomada, não acontecesse no meio de uma curva… Muita gente acabou no meio do mato. Perigoso, indomável, mas, vamos ser claros: uma experiência inesquecível.
E é de turbos desta época que falamos aqui. Nada de coisa dócil e sem turbo lag. Nada de módulos de potência de três cilindros supereficientes e inócuos; aqui todos os carros são do tipo que se conta um, dois, três e BUM! Tudo explode em uma fúria insana. Turbos da velha guarda, para gente sem medo ou juízo, mas que adora aquela característica e inimitável onda de poder crescente e exponencial que só um turbo antigo nos dá.
1) Chevrolet Corvair Monza (1962)
Lançado uma semana antes do Oldsmobile F-85 Jetfire, este é o início, marco zero do gênero, o primeiro motor turbo de grande série. No caso do Oldsmobile, seu V-8 de alumínio e 3,5 litros turbocomprimido mantinha a taxa de compressão do motor sem turbo (10,25:1), e tentava evitar a detonação com a injeção de uma mistura de água e álcool. Esta mistura, vendida nas concessionárias da marca com o nome de “Turbo-Rocket fluid”, era armazenada em um reservatório parecido com o nosso de partida a frio, e freqüentemente era esquecido, com resultados catastróficos para o motor. No fim de 1962, saiu de linha.
Já o Corvair foi mais longevo; reduzindo a taxa de compressão, acentuava ainda mais o buraco entre a fase com e sem turbo. O motor, um seis-cilindros contrapostos de alumínio, arrefecido a ar, primeiro de 2,3 litros e depois 2,6, aceitou melhor o turbocompressor, e apesar do aumento de potência ainda ser baixo (para 150 cv na primeira geração e 180 cv na segunda), foi o início dos motores turbo clássicos que homenageamos aqui.
2) BMW 2002 Turbo (1973)
O BMW 2002 é até hoje um clássico esportivo; usando o motor grande de 2 litros no menor sedã da marca bávara de então, era um carro divertido e eficiente, caso de amor inicial dos entusiastas com a marca de Munique.
Mas em 1973 foi lançado o que se esperava ser o passo definitivo nisso: partindo de um 2002 Tii com injeção , a taxa de compressão fora reduzida drasticamente para 6,9:1, e um enorme turbocompressor KKK instalado, para nada menos que 170 cv, e todo comportamento explosivo que se espera disso. Era para ser um terror nas Autobahnen, exemplificado pelo letreiro “Turbo” escrito ao contrário no spoiler dianteiro; apenas visto por um espelho retrovisor podia-se lê-lo.
Mas foi lançado exatamente no auge de uma crise do petróleo, e portanto, teve vida curta: apenas pouco mais de 1600 deles foram fabricados.
3) Porsche 911 Turbo (1974)
Nos anos 1970, quando fálávamos “o Turbo”, estávamos falando deste carro. Com ele, a Porsche finalmente saía de seu mundo de carros esportes pequenos, de desempenho inferior aos exóticos italianos, para o primeiro time.
O 911 Turbo é famoso por juntar o motor traseiro, e o famoso comportamento imprevisível em curva dos velhos 911, com um explosivo motor que, freqüentemente na pior hora possível, passava de Fusca a Saturno IV em milissegundos. Não era para os fracos de coração.
Apesar de ser terrível nas imprevisíveis vias públicas, era extremamente emocionante e intenso, um tipo de carro que não existe mais. Nas pistas de corrida, por outro lado, esta imprevisibilidade pouco atrapalhou: domando a besta-fera com pura habilidade ao volante e coragem, os pilotos profissionais faziam todo o uso da aparentemente infindável potência daquele motor em versões preparadas, e a durabilidade do chassi Porsche em pista, para criar uma combinação quase imbatível.
Um clássico inesquecível, e um tipo de experiência intensa e nervosa que sumiu para sempre. Ele vai tentar matar você, mas nem por isso você deixará de amá-lo.
4) Audi quattro Coupé (1980)
Depois do intratável 911, o quatro seria a próxima revolução para os carros esporte. Com tração total permanente, o quatro original era de uma tranqüilidade total em qualquer situação, um carro tão benigno e previsível que tornava todo mundo um piloto melhor.
Mesmo quando seu 5-em-linha 2,1-litros turbo dava aquele coice característico, seguido da exponencial subida de giro que fez o turbocompressor famoso.
5) Lotus Esprit Turbo (1980)
A Lotus só tinha um motor em 1980, o quatro em linha DOHC de 2 litros que fora lançado (e pago) pela Jensen-Healey. Querendo dar mais potência a seu exótico carro de motor central-traseiro desenhado por Giugiaro, o Esprit, também adotou cedo o turbocompressor.
É algo que combina bem com a companhia; Lotus sempre foram carros leves, bons de curva, que tem excelente desempenho apesar de motores pequenos. O Esprit se tornaria um clássico desta definição, em sua longa vida. Seu pequeno 4-em-linha turbo inicialmente soprava através de dois Weber duplos, para 210 cv e um 0-a-100 km/h em 6 segundos.
Com evolução constante, chegaria na década de 90, já com injeção e sem tanto turbolag, a mais de 300 cv e 4 segundos e meio no zero-a-cem, e uma velocidade final de 280 km/h.
6) Renault R5 Turbo (1982)
A Renault francesa sempre foi um expoente no desenvolvimento do turbocompressor. É da Renault a revolução do turbo na F-1 em 1977, e em meados dos anos 1980 toda sua linha tinha versões equipadas com ele.
Mas o mais clássico e desejável carro turbo da marca é este: uma homologação especial para ralis que tomou o mundo de surpresa em 1982. O R5 normal era um carrinho de motor central-dianteiro, longitudinal, com o câmbio à sua frente no idioma dos Citroën clássicos, e tração dianteira. Mas o R5 Turbo era outro animal: o motor Renault Gordini de 1,4 litro e cabeçote hemisférico estava onde ficava o banco traseiro, e o transeixo atrás dele o fazia um tração traseira!
E com uma bela turbina, se tornou um carro pequeno que podia acompanhar coisa muito séria nas ruas; ajudado é claro por um comportamento equilibrado de sua suspensão especial, e o equilíbrio de massas. Um clássico imortal.
7) Mustang SVO (1984)
Numa época em que os antigos V-8 americanos não lidavam bem com os limites de emissão de poluentes da legislação daquele país, o Mustang mais potente (V-8, claro) tinha apenas 180 cv. Foi então que a Ford resolveu fazer este, o mais potente de seus Mustangs, usando o 4-em- linha SOHC brasileiro de 2,3 litros, turbocompressor, resfriador de ar de admissão, e muita tecnologia.
Inicialmente eram 175 cv, mas logo, em 1985, chegava-se a 205 cv, uma fábula para a época. Mas o americano de então não estava preparado para um Mustang de 4 cilindros e alto desempenho, e o carro nunca foi um sucesso.
Veremos se hoje, com o EcoBoost que é neto deste SVO, se a tendência se reverteu.
8) Ferrari 288 GTO (1984)
Outra homologação especial, esta para o famoso grupo B, mas que nunca correu. O 288 GTO é em minha opinião o Ferrari mais belo de todos os tempos, juntando o quase perfeito 308GTB com pára-lamas alargados e uma cara de mau que é simplesmente de cair o queixo.
Some-se a isto um V-8 com dois turbos e 400 cv, e aquela alavanquinha cromada com uma bola preta em cima no meio dos bancos, e se tem um dos carros mais desejáveis de todos os tempos. Foi base, também, para a ainda mais legal, mas mil vezes mais feio, Ferrari F40.
9) Bentley Turbo R (1985)
O V-8 de alumínio e 6,75 litros da Rolls-Royce já era uma coisa antiga em 1980: tinha suas raízes em 1962. Apesar de aceitável em torque e potência para os Rolls de então, para reviver a marca esportiva Bentley algo mais se fazia necessário.
Este algo mais apareceu então na forma de um turbocompressor. O que era um pacato e quadrado sedã se tornou a sala de estar inglesa mais rápida do mundo: acelerações de zero a 100 km/h em menos de 7 segundos, então privilégio de carros esporte, se tornaram possíveis.
Este carro sozinho fez o renascimento da marca, então para todos os efeitos morta. E até hoje sua combinação de um clássico Rolls quadrado com um motor superpotente ainda é desejável como poucas.
10) Pontiac Firebird Turbo Trans Am (TTA) (1989)
Depois que tinha morrido com o Buick GNX em 1987 (como contamos aqui), o fantástico motor V-6 de 3,8 litros Turbo da Buick volta mais uma vez para uma despedida triunfal neste carro, por apenas um ano, para comemorar o vigésimo aniversário do Firebird. A revista Car and Driver americana faz o 0-a-100 km/h em 4,6 segundos, e atinge 260 km/h, fazendo dele o mais rápido e veloz carro à venda nos EUA em 1989.
A Pontiac dizia 250cv; a revista Car and Driver disse que o número era conservador demais, e que para atingir este desempenho, pelo menos 300 cv eram necessários. Um tributo perfeito ao grande legado deste motor. Legado, é claro, que não podia ficar de fora desta lista!
MAO