A Volkswagen gentilmente nos cedeu quatro carros especialmente para o ” I Passeio AUTOentusiastas”, realizado domingo último, para serem utilizados pelo Paulo Keller, pelo Bob, pelo Wagner e por mim. Como precisasse ir ao litoral norte na sexta-feira por questões particulares, aproveitei para andar um pouco com o “meu” carro, um high up!, uma viagem de 160 quilômetros para ir e outros tantos para voltar.
Câmbio manual, o carro não tinha nem mil quilômetros marcados no hodômetro total. Fui sozinho e ainda de dia. Não lhe poupei giros. Não busquei economia. Botei na cabeça que o motor estava precisando dar uma “soltada”, já que era novinho, e isso, além do agradável ronco que esse motor de 3 cilindros faz em alta, foram as justificativas que me faltavam para andar rápido.
Até agora, todos os 3-cilindros que peguei, sejam de carro ou moto, em alta me lembram o 6-cilindros boxer do Porsche 911. Mesmo assim solicitado, fez 17 km/l pelo computador de bordo. É fato que teve uma descida de serra, o que poupa combustível, embora ela seja curta, coisa de cerca de 13 quilômetros apenas.
Na volta, mesmo ritmo, só que à noite e com subida de serra, e ele fez 15 km/l. Portanto, fez média de 16 km/l. Muito econômico. Se as viagens tivessem sido no estilo papai-e-mamãe, não tenho dúvida de que ele faria média de 17 ou 18 km/l. Por sinal, subiu a Imigrantes a 100 km/h alternando entre 4ª e 5ª marchas. Poderia ir a mais, não fosse proibido.
E se a nossa gasolina não fosse “batizada” com 27% de álcool, e sim pura ou com no máximo 10%, como é mundo afora, o up! faria fácil 20 km/l, e nessa viagem de ida e volta, que deu 320 km, eu não teria gasto os 20 litros que gastei — menos de meio tanque de 50 litros — mas sim 16 litros. Nesses 4 litros de diferença lá se vão uns R$ 13,00 do bolso a troco de nada.
O mais chato é que além gastar esses R$ 13,00 a mais por nossa gasolina ser oficialmente batizada, é saber que dentro daqueles 20 litros gastos nos 320 km da viagem havia 5,4 litros (27%) de álcool que me venderam por preço de gasolina, autêntico gato por lebre. E já que a diferença, aqui em São Paulo, entre os preços desses combustíveis é de mais ou menos R$ 1,20, fui tungado em (5,4 l x R$ 1,20 = R$ 6,48), que somados aos R$ 13,00 que o carro gastou a mais por ter queimado um combustível batizado, somam quase R$ 20,00. Isso dá ao redor de R$ 1,00 por litro gasto. E aí já começa a incomodar, você já começa a coçar atrás da orelha, principalmente porque gastar 20 reais é uma coisa e ser sorrateira e oficialmente tungado em 20 reais, é outra.
Carros econômicos minimizam essa tungada que gira ao redor de R$ 1,00 por litro gasto. Se não fosse o parcimonioso up!, mas outro que, por exemplo, fizesse 10 km/l, o que não chega a ser considerado gastador, eu teria sido tungado em coisa de R$ 32,00. Então, viva o up! e outros vivas a esses econômicos motores 1-litro de 3 cilindros da Ford, Hyundai, Kia e Nissan. Espero que outros, já prometidos por outros fabricantes, logo cheguem.
Na cidade dificilmente ele faz menos que 12 km/l de gasolina. Dirigi-o pouco na cidade, mas é algo perto disso.
Com gasolina, bem…, melhor dizendo, a nossa “gasolina”, o motor do up! desenvolve 75 cv, e essa potência foi suficiente para que eu não passasse vontade na viagem. É certo que vez ou outra, numa ultrapassagem em pista simples, por exemplo, um pouco mais de potência viria bem, mas em pista dupla e estrada relativamente livre ele viaja muito bem e com folga na velocidade máxima permitida de 120 km/h. Viajaria bem também com o velocímetro marcando entre 140 e 150 km/h, se isso nos fosse permitido pela lei e pelas condições de segurança. Vai liso, em silêncio, e com consistência, subindo e descendo praticamente na mesma velocidade e raramente precisando redução de marcha.
Com álcool ele ganha 7 cv, vai para 82 cv, e esses 7 cv de ganho são sensíveis, já que é praticamente 7% a mais de potência. Não tive como experimentá-lo com álcool puro, pois não rodei o suficiente para secar o tanque, e olhe que rodei bastante. Tem gente que diz que esses motores de três cilindros vibram mais que os de quatro. Não nego, pois posso ser menos sensível ou menos exigente. Todavia, sinceramente, não acho. Em marcha-lenta ele oscila um pouquinho mais que os de quatro, mas nada que incomode e assim que ele sai da lenta ele alisa totalmente, além de ser muito silencioso. Em suma, gosto desses motores e acho mais é que os 3-cilindros devem dominar o segmento de baixa cilindrada ou até mais um pouco, como o MINI 1,5-L de 3 cilindros, que já me disseram ser liso também por ter árvore contra-rotativa de balanceamento.
Pelos meus cálculos, um motor de 3 cilindros tem 13 % menos superfície de atrito entre o pistão e o cilindro que um 4-cilindros de mesma cilindrada. Bom, o leitor tenha paciência e, por favor, me permita que me explique melhor. Os cilindros têm uma superfície que é varrida pelos pistões conforme eles se movimentam entre seus pontos mortos superior e inferior. Se você pegar dois motores de mesma cilindrada, a soma das áreas varridas pelos 3 pistões do motor de 3 cilindros é 13 % menor que a soma das áreas varridas pelos 4 pistões do motor de 4 cilindros. Essa menor área de atrito resulta em menor perda e, conseqüentemente, menor consumo. É mais ou menos como um cano d’água de maior diâmetro dar maior vazão que um de menor diâmetro, isso porque o de maior diâmetro tem menos superfície de atrito em relação ao volume de água que por ele passa. Tem lógica a coisa. Diminui também o atrito entre o virabrequim e os mancais, já que tem um mancal a menos, diminui atrito nos comandos, já que tem molas de válvulas a menos etc. A grande vantagem é, em linhas gerais, diminuir atrito.
O up! tem boa posição de dirigir. Os bancos dianteiros, apesar de não muito macios, são ergonômicos e confortáveis. Nada a reclamar deles, gostei. O banco traseiro, em vista do tamanho do carro, pensei que fosse pior, mas no passeio dos autoentusiastas, enquanto a nossa querida Nora Gonzalez dirigia o up!, fiz questão de ir no banco de trás. Seu simpático e sensato marido Ricardo foi à frente e não deixei que ele colocasse seu banco ainda mais à frente, pois eu queria que ele viajasse com conforto, e lhe sobrou bom espaço, e ele regula comigo, coisa de 1,80 m. E assim foi por uns bons 50 km de passeio e não me incomodei ali. Poderia viajar o tempo todo assim, ou com mais outro adulto. Dois adultos vão bem, mas três não. Viajei com o agradável casal e o maior peso não se fez sentir. O up! continuou ágil e bem disposto.
A abaixar o volante, que só tem a regulagem de altura e não de distância, eu deixava de enxergar o terço superior do velocímetro, mesmo com o banco, que tem regulagem de altura, na sua posição mais baixa. Fui assim mesmo, sem enxergar entre os 70 e 140 km/h, mas não abri mão de guiar com o volante na posição correta para mim. As ancoragens dos cintos de segurança dos bancos dianteiros não têm regulagem de altura. Tudo bem para quem dirige, já que o banco do motorista, como já disse, tem regulagem de altura, mas o do passageiro não a tem. Sendo assim, que o fabricante escolha em qual deles colocar uma regulagem, e a coloque, já que é muito importante ter o cinto de segurança na posição correta.
Gosto do up!. Gosto de design simples, harmônico e objetivo. Além disso, é um carro que em vista do pequeno porte surpreende pela maciez da suspensão, e está entre os menos caros do mercado. E faz curva muito bem. Agarrado nas curvas, bem comportado, ágil; em suma, divertido de curvar com ele. Pena que os pedais de freio e acelerador sejam tão distantes e dificultem o punta-tacco. Acertar isso na produção é fácil
Nada mais a reclamar. Resta torcer para que ao menos no up! TSI, turbo, que chega nesses dias, tenham resolvido esse deficiência no punta-tacco. Afinal, esse certamente será um hot hatch de autoentusiasta, e certos detalhes a nossa confraria exige.
AK