The 20th century was a test bed for big ideas – fascism, comunism and the atomic bomb.*
*O século 20 foi um campo de testes para grandes idéias – fascismo, comunismo e a bomba atômica.
Patrick Jake “PJ” O’Rourke – americano, jornalista, escritor e crítico social satírico
Os problemas que as pessoas que conduzem carros e demais veículos trazem são enormes, isso todo mundo que dirige ou anda de carona sabe. Não só em carros de passeio — termo detestável por todos que usam o carro para trabalhar — mas a mesma coisa em ônibus, caminhões e qualquer outra coisa que rode e leve gente dentro.
Congestionamentos, acidentes de todos os tipos, poluição, assaltos a motoristas e passageiros, nervos à flor da pele, xingamentos, buzinadas, enfim, tudo que deveria ser inadmissível à uma cultura humana com alguns milhares de anos de existência se torna visível a qualquer momento em que se faça parte do trânsito.
O lado ótimo da liberdade de locomoção fica esquecido, ou ao menos não falado, pelos profetas da desgraça, aqueles que por um motivo pessoal qualquer, ou como é comum, copiado do que outra pessoa disse, enchem os pulmões e, com voz calma, mas com ódio interior, afirmam que o automóvel é o causador de todos os problemas numa cidade grande, e que a solução é o transporte coletivo.
Esses querem que carros sejam artigos extintos, num radicalismo que deveria ter desaparecido na Idade Média. Fingem esquecer a utilidade do carro, do transporte pessoal e particular, aquele que está parado ali perto de você lhe esperando para ir onde for necessário. Esquecem tudo de bom que já fizeram tendo o carro como meio de transporte, o jeito de “chegar lá”, todos os problemas que resolveram de forma feliz tendo o carro como ferramenta fundamental, todas as pessoas queridas, amadas ou importantes de alguma forma que encontraram na hora necessária porque usaram o carro como transporte, enfim, todos sabemos a utilidade desse que é, sem dúvida, a maior invenção da humanidade no que se refere a mobilidade.
Alguns podem dizer que chamar de “maior do mundo” é um absurdo, já que um carro nem ao mesmo voa, mas pensem na facilidade de operação de um carro e de um avião, e do quanto de estudo e treinamento é necessário para operar um ou outro. O carro, colocado o problema custo de lado, é democrático como nada mais, mais que uma moto ou bicicleta, já que estas requerem uma condição física melhor do que para dirigir um automóvel, fora o inconveniente de só levar um passageiro ou nenhum, respectivamente. Compra-se o carro que o bolso pode pagar e, sabendo-se dirigir, sua liberdade de ir e vir está garantida. Assim como o corpo seco em caso de chuva, fora a sombra em dias de sol.
Mas é claro que eu não seria imaturo e radical de dizer que todo mundo tem que andar de carro o tempo todo para tudo. Eu mesmo não faço isso. Usando-se a lógica, fica claro que alguns deslocamentos sempre devem ser feitos a pé ou em transporte coletivo, mesmo que por motivo puramente econômico ou de tempo. E tempo é dinheiro. O problema são os itinerários, muitas vezes inconvenientes e que limitam o uso do ônibus, seja por distâncias grandes demais entre as paradas ou entre o lugar em que se está e o lugar em que passa o ônibus. Mesmo problema se a pessoa possuir dificuldades de locomoção.
O que se passou nas últimas semanas aqui em São Paulo se somou ao meu entendimento do que o prefeito e seu secretário de transportes estão fazendo com quem precisa usar o carro para suas atividades. Me refiro às autoritárias, absurdas e ilógicas reduções de limite de velocidade nas avenidas Marginais dos rios Pinheiros e Tietê, vias expressas, e outras avenidas com semáforos, fora as medíocres ” Área 40″, aberrações fartamente noticiadas e, no caso das Marginais, alvo de processos judiciais contra a decisão intempestiva e unilateral da administração municipal, que é péssima não apenas no assunto trânsito, se parecendo muito com governos comunistas dos mais retrógrados e extintos. Um Jurassic Park político, é o que vivemos na maior cidade sul-americana.
Não é a simples e asinina raiva dos automóveis que os motivaram, nem a dita e não provada maior segurança. Um motivo pouco comentado é que a redução da velocidade média dos carros faz parecer que os ônibus são mais rápidos de um ponto ao outro. Como estes são lentos ao extremo e os carros ainda eram mais rápidos em muitos locais, ficava claro que andar de ônibus era desvantagem em se tratando de tempo. Agora, a coisa começa a pender para os ônibus, mas feito da forma errada, contrária, torta, como é a mente desses administradores de baixa qualidade mencionados. São só aparências, lembrem-se. As velocidades médias dos ônibus são também muito ruins em quase toda a Grande São Paulo.
Exemplo claro dessa besteira implantada pela sofrida CET, à margem dos caprichos de pessoas ruins como os dois servidores públicos comentados, está nos vários vídeos disponíveis, onde se vêem bicicletas andando mais rápido do que carros, nessas mesmas avenidas Marginais, via local, limite de 50 km/h. Imaginem o nível de delinqüência de uma pessoa andando no mais frágil dos veículos, a bicicleta, entre carros, caminhões e ônibus. É praticamente pedir para morrer. E os motoristas dos veículos maiores e menos manobráveis que a bicicleta nem precisam estar conduzindo de forma agressiva. Uma bobeada ou distração de qualquer das partes e pronto, está feita a tragédia.
Mas saindo desse baixo nível e indo para o futuro que já começa a ocorrer, pensemos no carro autônomo, o que se auto-dirige, sem intervenção do homem.
Tido como “A SOLUÇÃO” para a locomoção humana, os robôs sobre rodas estão em testes e desenvolvimentos há tempos. Há pelo menos seis anos, a gigante Google faz suas experiências, assim como dezenas de outras empresas, co-ligadas a universidades e governos em alguns lugares, notadamente nos Estados Unidos, como não poderia deixar de ser, terra das oportunidades.
Mas os mais inteligentes se preocupam com a quê isso poderá levar. Vozes pró-tecnologia dizem que é o futuro inevitável, e que nós não dirigiremos mais carros em alguns anos. Outros dizem que não vai funcionar, já que é impossível fazer 100% dos carros de hoje desaparecerem e colocar as máquinas autônomas no lugar, como foi com o cavalo, por exemplo, que ainda é usado em muitos lugares mundo afora.
Opinião mais lógica é que existirão cada vez mais lugares que serão isolados dos carros que nós dirigimos, para que os autônomos possam rodar sem interferência. Exemplos óbvios são centros de cidades muito ocupados, ou mesmo alguns bairros ao redor, ou quem sabe, uma cidade inteira, desde que organizada para tal. Não é o caso de São Paulo, e muito provavelmente de nenhuma cidade brasileira.
Já em estradas isso não é tão simples, já que elas ligam cidades, estados e países, e é claro que poderá ocorrer uma mistura de carros autônomos e normais que poderá gerar sérios problemas.
Não irei tentar entender tudo que seria necessário alterar em uma cidade do tamanho de São Paulo para fazê-la 100% amiga do carro autônomo. Imagino que seria algo de proporções faraônicas ou bíblicas, e por isso mesmo, praticamente inexeqüível. Mas as multas de trânsito deverão ser extintas caso isso ocorra, pois um carro robotizado não terá como descumprir as leis de trânsito, tampouco os limites de velocidade.
Mas pode ser que alguma administração desequilibrada tente, mesmo que de forma porca, como são as faixas de ônibus e bicicletas atuais, totalmente sem padrões e em locais inapropriados.
De qualquer forma, não é só a perda de julgamento que o ser humano será vítima quando os carros autônomos dominarem. É mais que isso. Embarcar em uma coisa que ao comando conveniente lhe carrega a um lugar, sem sua interferência, faz desses carros mais uma espécie de transporte coletivo. Algo que é extremamente desagradável por definição, onde se embarca e se viaja com pessoas que não sabemos quem são e/ou com as quais não queremos ficar juntos. Liberdade cerceada. Comunismo da pior espécie.
E os ladrões, que hoje abordam carros parados, ou até andando quando usam motos, poderão embarcar nos pontos de parada dos carros autônomos, e executar sua função sentados, no mesmo conforto que a vítima. Fabuloso, não ?
Também o uso do cérebro será muito menos necessário, já que dirigir é um exercício mental dos melhores. Dirigir bem, entendam. Não apenas fazer o carro andar. E com o passar do tempo, as habilidades cerebrais e motoras dos motoristas estarão fadadas à extinção para a maioria, sobrando alguns que serão os operadores de veículos especiais, cujo computador não conseguiu substituir. Se é que existirá algum veículo assim.
Há milhares de análises sobre os carros autônomos em qualquer lugar que se procure, com diversas opiniões divergentes. Para mim, é mais uma das conquistas das pessoas que detestam dirigir, e que dão suas almas para não terem nem ao menos que trocar de marcha. Seres extremamente esquisitos e que gostam de ser controlados por máquinas.
E pensar que tudo começou com um limpador de pára-brisa que liga sozinho quando vê água, besteira aclamada pelos “modernos”.
Triste futuro da humanidade.
JJ