Cada pessoa tem alguns rituais quando entra ou sai do carro. Algumas verificam tudo antes de sair. Eu faço parte desse grupo. Olho tudo em volta pois gosto de ter certeza de que não esqueci nada, embora não tenha o hábito de espalhar nada. É pegar a bolsa, o casaco, se tiver, e pronto. Saio do carro. Ou quase.
Tem algo que faço sempre, seja como motorista, seja como carona. Abro a porta cuidadosamente e primeiro apoio a ponta dos dedos em algo metálico do carro, mas sem colocar os pés no chão. Não é simpatia nem mania. É necessidade, mesmo. Se não fizer isso, periga eu dar um pulo ou, se for cumprimentar alguém logo em seguida, dar um susto no outro. Sou o tipo de pessoa que carrega estática o tempo todo e, claro, carro é uma beleza para nós. Pareço uma bateria ambulante. De tão automático, só pensei em escrever sobre este gesto recentemente, ao fazer compras no supermercado. Essa é outra tortura para mim — não pelo fato em si, pois curto cuidar da minha casa e não me incomodo em fazer as comprar. Gosto até, mas especialmente ir ao Wal-Mart requer alguns cuidados.
Não sei como foi feito o projeto da rede, mas em todas as lojas, inclusive fora da capital paulistana onde vou com mais frequência, é a mesma sina. Pego o carrinho e em alguns metros já estou carregada de eletricidade estática. Certamente algo com o piso, pois os carrinhos são iguais em outros hipermercados e o problema é menor, mas existe. Como resolver isso? Não, não fujo da raia nem mando a cara-metade comprar os acepipes para o jantar. Pego o carrinho e vou pelos corredores sem segurá-lo, apenas encostando os antebraços e empurrando. Fazer curvas é um pouco mais complicado e quando não tem mais jeito empunho rapidamente a alça, viro o carrinho e continuo minha perambulação. Mesmo assim pegar algumas coisas é arriscado. Apanhar itens em embalagens de papel espelhado requer uma ginástica que inclui usar outras coisas como mão artificial ou “luva”. Vale até pegar uma vassoura emprestada e usar o cabo dela para empurrar o pacote metalizado para dentro do carrinho. Sem exagero, dá para ver faísca algumas vezes quando pego batatinhas fritas nas gôndolas.
Com plásticos é a mesma coisa. Basta eu ficar perto daquelas cortinas ou toldos de varanda para meu cabelo escorrido ficar parecendo de um dos filmes Sexta-Feira 13 — se não dos personagens, pelo menos da platéia depois dos sustos. A criançada adora!
No carro é igual. Viagens em estrada devem ser ainda mais cuidadosas. Lembro quando era pequena que alguns carros na Argentina tinham uma fita de borracha pendurada que ia encostando no asfalto, teoricamente para descarregar a estática. Meus pais nunca colocaram e eu sempre carreguei estática. Pronto, já posso agendar algumas sessões de terapia e passar a conta para eles por causa disso… Na verdade, na minha família ninguém a usava, nunca conheci ninguém que a tivesse e fiquei sem saber se aquela geringonça funcionava. Acho bem feinha, mas pelos sustos que tomo seria até capaz de pendurar um troço desses se resolvesse.
Nem lembro como foi que soube a história de encostar no metal, mas há anos faço isso e funciona. Mas tenho de encostar e manter os dedos por uns segundos para realmente descarregar. A mesma coisa acontece em hotéis, especialmente quando tem carpete (nylon é terrível!). Quando ando pelo corredor, diminuo o passo e espero alguém chegar primeiro para não ter que apertar o botão do elevador — uma verdadeira armadilha. E nada de encostar nas portas, geralmente metálicas. Se não aparece ninguém, vai o cotovelo, que geralmente está mais protegido e o choque é mais amortecido. O problema é sair do hotel e entrar no carro. Aí não tem jeito. É me preparar para o baque ou diminuir o susto abrindo a chave e encostando a ponta dela contra o metal do carro e segurando o chaveiro. Às vezes dá até para ver a faísca. Diminui, mas não o elimina.
E nunca teve a ver com tipo ou modelo de carro. Todos me pregam os mesmos sustos. Provavelmente, vocês dirão que sou “pilhada”, no que estarão cobertos de razão. Difícil desligar, realmente. Fora isso, diria que sou uma pessoa normal. Bom, mas essa é minha opinião. Há quem diga que há divergências…
Mudando de assunto: Off topic: faz pouco mais de um mês que não saio da frente da TV assistindo à copa do mundo de Rugby que, por sinal, está sendo fantástica. Sou fã dos All Blacks e dos Pumas, claro. Não apenas do esporte, mas especialmente de toda a ética e dos princípios que o cercam. E acredito que se fossem mais difundidos e praticados muitas coisas seriam melhores. O respeito aos colegas, aos adversários, às normas, à hierarquia. Já vi em jogo internacional profissional um jogador chamar a atenção do juiz se auto-acusar porque ele não tinha visto que cometera uma falta. Já pensaram se houvesse um time na Esplanada dos Ministérios, em Brasília? Difícil seria conseguir 15 jogadores e 7 reservas…
NG